quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fim da Greve na USP; Exemplo de combatividade dos trabalhadores.



57 dias se passaram desde que os trabalhadores da Universidade de São Paulo, afrontados com a quebra da isonomia, propositadamente implementada visando dividí-los dos professores, entraram em greve. Suas principal reivindicação, nesse sentido, era a recomposição da isonomia, o que implicaria a extensão do reajuste dado aos professores, a eles. Somadas a ela, estavam a reivindicação de 16% de reajuste, referente às perdas salariais e 200 reais incorporados, a fim de diminuir a diferença entre os menos e maiores salários da universidade.
Isso tudo muitos sabem. O que permanece obscurecido e relegado a segundo plano são vários dos 57 pontos da pauta específica e, mais do que isso, tudo o que foi conquistado pelo movimento de trabalhadores, cuja luta vai para muito além das justíssimas questões salariais; dizem respeito a uma idéia de Universidade.

Dentre vários pontos da pauta, devemos analisar, com destaque, os seguintes pontos: "Suspensão imediata da criminalização do movimento sindical e estudantil; Contra a Autarquização dos Hospitais Universitários; Fim das Fundações.

O que vemos nestas reivindicações, é a expressão da combatividade desse setor da classe trabalhadora, o qual luta por uma universidade distinta do projeto privatista do governo PSDB, hoje encabeçado pelo dito magnífico REItor Rodas, a serviço do aspirante à chefe do Executivo brasileiro, José Serra.

É necessário pontuar que, a intransigência não se expressa em apenas um nível ou em relação à uma categoria na Universidade. Vimos, nesse fatídico ano, a implementação da UNIVESP, projeto de universidade precária, formadora de professores reprodutores da ideologia da classe dominante, poupadora de custos, a qual representa e facilita a tentativa de desmobilização do movimento estudantil, e sua aliança com os trabalhadores, além de respaldar um argumento demagógico de "democratização" do acesso. Além disso, vimos também ocorrer o fim do gatilho de contratação de professores, o qual possibilitava que, assim que algum professor se aposentasse ou falecesse, fosse contratado outro logo em seguida. Uma conquista de 2002, devido a uma Greve na FFLCH, a qual, agora, desmorona e deixa a cargo da burocracia avaliar se é "viável" a contratação de novos docentes. Da mesma forma vemos as fundações privadas profundamente inseridas na produção de pesquisa e conhecimento das Unidades de Ensino da Universidade.

Tudo isso somado à política de terceirização, principal ataque da ofensiva neoliberal em nossos tempos, que estabelece postos de trabalho precarizados, com trabalhadores recebendo salários miseráveis, tendo de cumprir, a fim de sobrevirerem com migalhas de horas extras, cargas de horário ultra-exaustivas, com condições de organização e direitos absurdamente restringidos, a qual, -dizíamos- representa o projeto de Universidade do REItor, do Governo, de Serra e dos patrões. Uma universidade de costas para a classe trabalhadora e o povo pobre, a serviço dos interesses dos patrões, fundações e instituições privadas das mais diversas nomenclaturas.

Temos de ter clareza acerca de uma questão: Essa universidade só não é pior devido a todas as lutas travadas, historicamente, pelos combativos trabalhadores em aliança com setores do movimento estudantil. Essa aliança permitiu que instrumentos como o Gatilho de contratação de professores, os salários dos trabalhadores, as condições estruturais de certas Unidades, enfim, que a universidade se mantivesse como é Hoje. Há muito a melhorar, no entanto, não fossem tais batalhas, a USP seria o terreno livre da precarização do emprego, da educação, a zona livre das fundações, a fonte de geração de pesquisa e conhecimento geradores de lucro para as grandes empresas, o rio no qual os patrões vão buscar seus peixinhos para nadar no mar de ilusões capitalistas... Setores reacionários constantemente respondem que os funcionários da Usp recebem salários muito acima da média pelo país e são privilegiados no que tange aos direitos. Ora, isso só reitera a situação absurda na qual estão imersos milhões de trabalhadores e o povo pobre de fora da USP. A solução é e sempre foi lutar.

Contudo, mesmo frente a esse quadro anteriormente definido, muitas correntes do movimento estudantil buscaram, inicialmente, apoiarem-se em discursos abstratos, estudantilistas, de apoio ao movimento de greve. Discurso, este, que não se materializou em apoio concreto. Víamos o DCE(gerido majoritariamente pela corrente MES do PSOL) nos carros de som, nas pouquissímas assembléias de trabalhadores, nas quais foram, expressar seu apoio aos trabalhadores, à sua luta, as suas demandas. Contudo, ao mesmo tempo víamos esta mesma gestão de DCE boicotar resoluções de assembléias estudantis, as quais visavam o apoio direto aos funcionários. Incorporação aos piquetes, constituição de fundo de greve, construção de assembléias nas unidades para discutir a greve junto à base dos estudantes, abaixo assinado de apoio a greve dos trabalhadores...Nada ocorreu. O PSOL impediu e boicotou, inclusive no X Congresso dos estudantes, qualquer medida que aportasse efetivamente na luta dos trabalhadores. Chegando ao absurdo de comprometer-se em não se atrelar ao Sintusp ou grupos "radicais" de esquerda, num debate na FEA, enquanto DCE, e implementar a proposta de "autodeterminação dos povos oprimidos do mundo", no congresso enquanto os trabalhadores da USP sofriam corte de salários pelos dias parados em greve.
Da mesma forma se deu a ação vacilante do PSTU, o qual, muitas vezes, nem compareceu aos piquetes, atos e debates e, quando compareceu, declamou discursos sobre a luta operária, o socialismo, a vitória, sem que isso se materializassse em apoio Real. Sua política de se deixar levar pela maré de passividade da massa estudantil e esperar um esboço de reação para , aí sim, disputar as consciências estudantis, custou 57 dias de isolamento dos trabalhadores, vários atos chamados pela Plenos Pulmões, realizados isoladamente, etc...

O conflito na Universidade se definiu pela ação exemplar da categoria de trabalhadores da USP, os quais, naquele momento, se colocaram na linha de frente da defesa da educação e do trabalho, isso tudo, mesmo divididos e enfraquecidos pela isonomia, pela traição das direções do Movimento estudantil, pela inação de várias correntes, pela passividade da massa estudantil, pela mídia burguesa falsificadora e caluniadora, pelas ameaças e assédios das chefias.

Os trabalhadores foram aqueles que, na fórmula da aliança operário-estudantil, cumpriram sua parte lutando firmemente e dando exemplos para diversas categorias as quais, num período anterior, traídas ou negligenciadas pelas direções, sofreram cortes de salário e não os viram até hoje, vide exemplos como APOESP, INCRA, IBAMA. Ainda assim, os trabalhadores conseguiram o pagamento dos dias parados, devido à greve, a constituição de uma comissão que analisará a sua nova proposta de reajuste (que é uma referencia,ou seja, 5%) e garantiram que nenhum trabalhador será punido por ter exercido seu direito de greve. Isso Demonstra que é possível lutar e que os patrões não podem "conceder" o direito de greve às custas da sobrevivência do grevista.

Temos de avançar na discussão acerca da estrutura de poder e de acesso da Universidade, discutir a necessidade da unidade operária-estudantil e assumir nosso papel nessa fórmula forjada a ferro e fogo por muita luta.
Hoje a estrutura de poder é a principal questão a ser questionada pois, num sistema de organização de poder feudal como esse, no qual o REItor e seus professores vassalos, os quais não ganham benefícios em forma de terra e sim em forma de contratos para suas empresas de terceirização, decidem os rumos da Universidade, a única coisa que podemos esperar é a mercantilização da educação, precarização do trabalho, repressão aos lutadores e resistentes, a constituição da "Fábrica de especialistas" para os patrões, UNIVESP, falta de professores...

A luta apenas começou. Hoje os trabalhadores, e os estudantes combativos que os apoiaram efetivamente, voltam de cabeça erguida do campo de batalha, sabendo que travaram uma árdua e exemplar luta, a qual, apesar de não ter sido tão positiva quanto esperávamos, deixou claro que os trabalhadores e estudantes combativos não deixaram, nem deixarão, passar as intervenções estatais privatistas na Universidade. Nós, do Movimento a Plenos Pulmões, lutaremos até o fim, lado a lado com os trabalhadores, pela Universidade pública, gratuita, de qualidade, a serviço do povo pobre e da classe trabalhadora e que não se paute pelas demandas mesquinhas da burguesia e das fundações a seu serviço na Universidade e estaremos a todo o tempo discutindo, realizando atos e reuniões que demonstrem a premente necessidade da aliança operária-estudantil.

VIVA A LUTA DOS TRABALHADORES!
ABAIXO A REPRESSÃO AOS LUTADORES!
POR UMA UNIVERSIDADE A SERVIÇO DOS TRABALHADORES E DO POVO POBRE!

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