segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Estudantes de Nova York ocupam universidade

Leia o manifesto dos estudantes ocupados:
Nós, estudantes da Universidade de Nova York (NYU), declaramos que ocupamos este espaço. Esta ocupação é a culminação da campanha de dois anos da coalizão “Voltemos a tomar a Universidade de Nova York!”, assim como das campanhas de anos recentes cujos passos seguimos.
Para criar uma universidade mais responsável, democrática e socialmente responsável, exigimos o seguinte:
-Plena anistia legal e disciplinar para todas as partes envolvidas na ocupação.
- Compensação plena para todos os empregados cujos postos de trabalho se vejam interrompidos durante a ocupação.
- A publicação do orçamento operativo anual da Universidade de Nova York, inclusa a lista completa dos gastos universitários, os salários de todos os empregados compensados por semestre ou ano, os fundos atribuídos para salários de pessoal, os contratos com organizações não universitárias para construção e serviços universitários, os dados de ajudas financeiras para cada faculdade, o dinheiro atribuído a cada faculdade, seção e unidade administrativa da universidade. Além disso, deverá incluir a divulgação completa das quantidades e fontes de financiamento universitário.
- Publicação das doações à Universidade de Nova York, da estratégia de investimentos, crescimento projetado de fundos e pessoal, corporações e empresas implicadas no investimento do fundo de subsídio universitário. Além disso, exigimos um corpo de estudantes para a supervisão dos fundos, com capacidade administrativa para atuar como acionista habilitado, com direito a voto nos investimentos da Universidade.
- Que a administração da Universidade de Nova York efetue o reinício das negociações com o GSOC/UAW Local 2110 (o sindicato dos licenciados auxiliares, professores adjuntos e assistentes de investigação da Universidade de Nova York). Que a Universidade de Nova Yorkdeclare publicamente seu compromisso de respeitar a todos seus trabalhadores, inclusive os estudantes empregados, de reconhecer seu direito a formar sindicatos e negociar coletivamente. Que a Universidade de Nova York declare publicamente que reconhecerá os sindicatos de trabalhadores mediante a comprovação das afiliações que sejam majoritárias.
- Que a Universidade de Nova York firme um contrato que garanta práticas laborais justas todos os empregados da Universidade de Nova York no interior e no estrangeiro. Este contrato se estenderá aos trabalhadores subcontratados, incluindo os choferes de ônibus, os empregados do serviço de alimentação e qualquer um envolvido na construção, funcionamento e manutenção de qualquer um dos lugares da Universidade de Nova York fora dos Estados Unidos.
- O estabelecimento de um Comitê de Finanças Socialmente Responsável eleito pelos estudantes. Este Comitê terá pleno poder para votar com agentes, projetos de resoluções de acionistas, proteger todos os investimentos universitários, estabelecer novos programas que incentivem a responsabilidade social e ambiental e substituir todas as decisões financeiras que o Comitê julgue socialmente irresponsáveis, inclusas as decisões de investimento. O Comitê será composto de subcomitês: um para avaliar o orçamento operativo e outro para avaliar os investimentos. Cada comitê será composto democraticamente por dez estudantes eleitos pelos estudantes do corpo de licenciados e diplomados. Todas as decisões do comitê se aprovarão por estrita maioria e serão respaldadas pela Universidade. Todos os membros do Comitê de Finanças Socialmente Responsáveis se sentarão à mesa dos gestores e terão iguais direitos de votos. Todas as reuniões do Comitê de Finanças Socialmente Responsáveis e de gestão estarão abertas ao público e seus protocolos se farão acessíveis eletronicamente através da página da internet da Universidade de Nova York. Se realizarão eleições na segunda terça-feira de cada mês de março, a começar pelo 10 de março de 2009, e se manterão reuniões quinzenais, a começar pela semana de 30 de março de 2009.
- Que as primeiras duas encomendas comerciais do Comitê de Finanças Socialmente Responsáveis serão:
a) Uma profunda investigação de todos os beneficiários dos investimentos em guerras e genocídios, assim como das companhias que se beneficiam da ocupação dos territórios palestinos.
b) Uma reconsideração do recente levantamento da proibição sobre os produtos da Coca-Cola.
- Que se concedam bolsas anuais para treze estudantes palestinos, a começar pelo curso acadêmico 2009/2010. Estas bolsas incluirão financiamento para livros, alojamento, alimentação e gastos de viagem.
- Que a universidade doe todo o excesso de abastecimentos e materiais para a reconstrução da Universidade de Gaza.
-Estabilização da matrícula para todos os estudantes, a começar pelo curso de 2012. Todos os estudantes pagarão sua proporção de matrícula inicial ao longo de sua formação na Universidade de Nova York. As taxas de matrícula durante cada ano sucessivo não excederão o índice de inflação, nem excederão o 1%. A universidade se ajustará 100% ao cálculo governamental das necessidades econômicas dos estudantes.
- Que o grupo dos estudantes tenha prioridade para reservar espaço nos edifícios de propriedade dos arrendados da Universidade de Nova York, incluindo sobretudo, o Centro de Kimmel.
- Que o público em geral tenha acesso à Biblioteca Bobst.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Calourada Puc SP 2009 - ZANON

Vídeo de divulgação da atividade com Raul Godoy, no dia 18/2, na PUC-SP


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DESATAI O FUTURO nº2

Por que desatar o futuro?
Por Pedro Fassoni Arruda- Profº do Departamento de Política da PUC-SP e Felipe Campos- estudante de Ciências Sociais da Puc-SP e militante do Movimento A Plenos Pulmões.

"Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatro ou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc., tanto mais se poderá economizar e maior se tornará o tesouro imune à ferrugem e às traças – o capital" (Marx, Manuscritos econômicos e filosóficos).
Nicolau Maquiavel afirmou numa conhecida passagem d'O Príncipe, que a política possui a sua própria moral – e esta é distinta da moral que rege as relações de amizade ou familiares. Contra a idéia de predestinação, o pensador florentino procurou resgatar a dignidade humana, reconhecendo que os homens são os senhores do seu próprio destino, e que a política é o único instrumento de transformação da realidade: nenhuma prece substitui a ação prática. Da mesma forma, Marx se esforçou em compreender a relação entre economia e moral: o processo tautológico de acumulação de capital segue sua marcha inexorável, independentemente da consciência que os indivíduos possuam; trata-se de leis objetivas que independem da vontade dos próprios burgueses."A antítese entre Moral e Economia Política é em si mesma apenas aparente; há uma antítese e igualmente não há antítese. A Economia Política exprime à sua própria maneira as leis morais" (Marx, Manuscritos...).A "sociedade dos produtores de mercadorias", com sua lógica da reprodução ampliada, faz abstração das necessidades humanas mais elementares, já que o valor de uso subordina-se ao valor de troca. Sabe-se muito bem que a superprodução de alimentos pode coexistir com a fome de bilhões de seres humanos; afinal, o excedente nunca existe em relação à satisfação das necessidades do estômago, e sim em relação à capacidade de consumo em sua forma especificamente capitalista. O capitalismo, nos últimos cem anos, só contribuiu para congelar a história, emperrando até mesmo o avanço do progresso, contendo o espraiamento do bem-estar para as classes-que-vivem-do-trabalho. Não se trata do fim da história, como pretendem seus apologistas bem-remunerados, mas de amarrá-la aos imperativos da ordem burguesa, impedindo a sua própria superação.Sim, desatar o futuro. Quem exige tal superação é o próprio estado de coisas: trata-se de uma necessidade histórica, objetiva. Mas a sua concretização depende da educação revolucionária, da vontade de lutar e da afirmação deste projeto através da força, da união e do trabalho coletivo.O capitalismo não cairá por si só, será preciso derrubá-lo.A magnitude da crise que assola hoje as economias capitalistas do mundo confirma isso. Era evidente, e cada vez se comprova mais, a impossibilidade de estender o padrão de consumo de uma família estadunidense para os restantes 6 bilhões da população do planeta. O estabelecimento desse padrão de consumo hedonista e criador de uma vida sem sentido só se manteve pelos créditos fáceis, com os quais, através dos juros, faziam a felicidade dos capitalistas. Agora, os mesmos capitalistas que especulavam e, com o suor dos trabalhadores conseguiam seus lucros, se vêem obrigados a redistribuir seus prejuízos nas costas do povo. Enquanto várias famílias norte-americanas não conseguem mais pagar suas hipotecas e vão morar em seus carros, sofrendo com a massiva onda de demissões, os governos burgueses injetam trilhões de dólares para salvar as imobiliárias e bancos da falência. O desenvolvimento das forças produtivas cria as condições objetivas para a superação desta base miserável em que se encontram os trabalhadores do mundo. Este desenvolvimento poderia ser ainda maior mediante a abolição da propriedade privada dos meios de produção, e o controle racional num governo dos produtores livremente associados. O imperialismo fez desaparecer a "chama vivificadora da concorrência", como Marx prognosticara no Capital, e Lênin já constatara quando escreveu seu conhecido esboço popular, “O imperialismo fase superior do capitalismo”. A possibilidade objetiva de deter o próprio progresso técnico tornou-se realidade, razão pela qual Lênin sentiu a necessidade de... Desatar o futuro.
Infelizmente, a história não se desenvolve linearmente, e a burocratização do sistema soviético, depois do alijamento dos melhores quadros da revolução, acorrentou novamente os trabalhadores. Estes caíram em grilhões ainda mais pesados, feitos de ferro maciço forjado por operários, cuja jornada no interior das “smokestack industries” era tão extenuantes como em qualquer sociedade capitalista. É preciso recuperar a esperança de construir um mundo melhor, através da experiência da história e do conhecimento do atual estado de coisas. Não há capitalismo organizado. As únicas coisas que ele é capaz de organizar são a exploração, a disciplina dentro dos muros da fábrica e seus aparelhos repressivos; como a polícia e o exército. Sequer a produção de mercadorias e a partilha do butim podem ser organizadas. Quem pretender "humanizar a face do capitalismo" mediante reformas esbarrará em limites objetivos.O capital não tem pátria. O Estado nacional, contraditoriamente, organiza a dominação de classe através do seu "comitê executivo", que administra os interesses comuns das frações burguesas. Nem pátria, nem patrão, mas não há como acabar com o poder sem antes tomá-lo de assalto.Nas fábricas: desatar o nó da gravata dos chefes e gerentes, substituindo os "colarinhos brancos" pela cooperação. Abolir os cargos burocráticos não-ligados à atividade diretamente produtiva. Eliminar os parasitas, ou seja, os proprietários e seus lacaios que formam a aristocracia operária. Ocupação, autogestão, conselhos de fábricas, abolição da divisão do trabalho, isonomia entre homens e mulheres, reduzir as jornadas de trabalho ao máximo para que trabalhem todos, e menos; submeter todo o processo produtivo ao controle racional dos trabalhadores.A liberdade de cada um é a condição da liberdade de todos, em substituição da idéia burguesa de que "a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro". Explosão de guaritas, colocar abaixo os muros de condomínios fechados, mudar nomes das ruas que homenageiam os patrões, milícia operária e popular em substituição da polícia burocratizada/militar/assassina/defensora da propriedade.Nas escolas e universidades: desatar o conhecimento. Recriar o marxismo tirando-o das mãos dos liberais que esgotam suas ações revolucionárias. Voltar à produção de conhecimento aos trabalhadores, torná-la pública de fato, expulsando os bancos, fundações e até mesmo a igreja que almeja impor as diretrizes do saber. Desatar a Universidade para desatar a sociedade, não aceitar a formação que nos é imposta para dar continuidade a ordem sangrenta do capital. Denunciar para sociedade a ganância dos ricos que sustentam a miséria dos explorados. Defender o futuro próspero da humanidade sem idealismo, enfrentando aqueles que impedem que ele chegue!


Manifesto frente à crise capitalista e a crise da universidade

Desde setembro de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, já foram mais de 6 trilhões (cerca de 10% do PIB mundial) colocados pelos governos para salvar os capitalistas. Ainda assim, o sistema financeiro global entrou em colapso. A previsão de que 51 milhões percam seus empregos em 2 anos, atingindo 230 milhões de desempregados no mundo “não pretende ser alarmista, mas sim realista”, segundo a Organização Internacional do Trabalho. É o despejo às costas dos trabalhadores dos prejuízos da CRISE.
O pânico do protecionismo se alastra pelo mundo e a tendência cada vez mais forte é de uma Segunda Grande Depressão, uma crise generalizada. Até mesmo para um especulador como George Soros "A magnitude do problema é significativamente maior do que nos anos 30
[1]”. Vejamos um significado pouco discutido dessa comparação: a Grande Depressão deu lugar a enormes convulsões econômicas, sociais e políticas; como expressões mais agudas, houve, pela esquerda, os processos revolucionários na França e Espanha, e pela direita, o nazi-fascismo. Mas tudo isso não foi suficiente para que o imperialismo norte-americano consolidasse sua hegemonia. Para isso, ele foi à maior guerra da história da humanidade que matou mais de 100 milhões e destruiu países inteiros.
Uma nova guerra mundial ainda não aparece no horizonte. Inegável. Mas, seguramente, abriu-se um novo momento de crises na história mundial que, nos seus primeiros meses, já deu lugar a fenômenos como a eleição de Obama. Governo este que, na base de uma grande ilusão de mudança, mostra ser, na realidade, o governo da continuidade, como expressa o envio de 20 mil soldados ao Afeganistão, pela sua equipe recheada de bushistas e que segue defendendo os resgates bilionários aos capitalistas. Também já surgem fenômenos importantes de luta de classes, que vêm se expressando de maneira acelerada. O governo da Islândia foi o 1º a cair devido à crise. Na Grécia, uma revolta social protagonizada pela juventude parou o país, apoiada por uma greve geral. Na França houve uma forte greve geral no dia 29/1 e as mobilizações estão crescendo. Na Itália a juventude saiu massivamente às ruas com a consigna “não pagaremos pela sua crise” e chamou os operários a uma greve geral que a burocracia sindical foi obrigada a convocar no dia 12/12/8. O movimento estudantil espanhol também está numa onda de lutas, com ocupações, atos e ações radicalizadas, como uma paralisação em solidariedade aos palestinos, a mesma demanda de mais de 10 ocupações de universidades na Inglaterra. Houve também revoltas contra a crise na Bulgária e Lituânia. A China é cada vez mais um barril de pólvora, e se estendem as manifestações de operários (que estão tendo que se enfrentar o fechamento de mais de 670 mil fábricas) e camponeses. E no próprio EUA, já teve lugar uma ocupação de fábrica, a Republic Windows and Doors, uma revolta da juventude negra contra a repressão policial em Oakland e uma ocupação de universidade em Nova York.
É por isso que dizemos que nessa crise há um grande perigo, pois, se por um lado, o capitalismo não cai por si só e a burguesia é capaz de arrastar o conjunto da humanidade para uma barbárie ainda maior, por outro, há uma grande oportunidade para aqueles que lutam pela transformação radical dessa sociedade decadente. As crises profundas trazem a ameaça da guerra, mas também abrem a possibilidade do NOVO, de processos revolucionários do movimento de massas. Não foi assim só em 29. Em crises de magnitude muito menor, como por exemplo a última de 2000-2003, teve lugar na América Latina processos de luta que derrubaram vários governos e teve lutas destacadas como foi a de Zanon, fábrica na Argentina que está ocupada há 7 anos produzindo sob controle operário. Além disso, houve também processos avançados como o levante no México que ficou conhecido como “Comuna de Oaxaca”.
Infelizmente, a perspectiva do marxismo e da revolução ainda não é adotada como saída devido ao resultado de 70 anos de stalinismo e 30 do chamado “neoliberalismo”, onde a revolução foi apagada da consciência das massas em patamares nunca antes conquistados pela burguesia, com um ataque em regra ao marxismo que encontrou pouca e débil resistência por parte do marxismo academicista e da esquerda sindicalista. Porém, o que também é verdade é que o marxismo, que era visto como uma coisa atrasada, em poucas semanas a realidade mostrou sua vigência.

A crise no Brasil e a crise da universidade

Só no Brasil, a “marolinha” já provocou mais de 2 milhões de demissões (cerca de 40% em SP) desde o agravamento da crise em setembro. Pesquisa Datafolha feita em 3 e 4 de fevereiro mostra que, em 31% dos domicílios paulistanos, pelo menos um trabalhador perdeu o emprego nos últimos seis meses. Enquanto isso, Lula destinou por distintas vias mais de 300 bilhões para salvar os capitalistas, enquanto para os desastres das enchentes destinou míseros 1,6 bilhões (cada vez fica mais claro como o capitalismo também arrasta a natureza em sua decadência) e 1, 1 bilhão para o combate à Dengue em 2009.
É inevitável que a profundidade da crise capitalista impacte nas universidades, principalmente em países onde houve um processo de privatizações estendido como no Brasil. O mais escandaloso é que mesmo com a expansão anárquica das faculdades privadas desde a Lei de Diretrizes e Bases de 1994 de FHC, o grau de elitização do ensino superior brasileiro continua sendo alarmante. Proporcionalmente, o número de universitários do Brasil é inferior ao da Bolívia e o vestibular não existe na maioria dos países da América Latina. Com o crescimento das privadas no país, a educação, longe de ser um direito de todos, torna-se cada vez mais uma mercadoria disponível apenas aos que podem pagar por ela. Para sermos mais concretos, o Censo de Ensino Superior de 2007 mostra que de cada 2 vagas disponíveis nas privadas, apenas 1 é ocupada. Desses, apenas 55% se formam. Sem falar da baixíssima qualidade de “ensino”. O processo de privatizações formou um verdadeiro nicho de valorização do capital, uma “bolha” alimentada pela disponibilidade do crédito necessário para a maioria dos alunos. Com a crise, essas faculdades mostram como funcionam como empresas e aprofundam a tendência anterior de demissões em massa, maximização dos contratos de trabalho, aumento exorbitante da mensalidade, corte de bolsas de estudo e expulsão dos alunos inadimplentes. E começou a resistência. A PUC-SP já é uma referência de lutas, mas desde o ano passado começaram a haver processos como a ocupação da Unisantos. E este ano começa com mobilização na Unisa, Unib e São Marcos.
O governo Lula conseguiu, pela via de medidas como o PROUNI e o REUNI, e mais recentemente com a aprovação de cotas nas universidades federais, aparecer para setores da população como se estivesse fazendo concessões históricas de “democratização das universidades”. Porém, a verdade é que houve mudanças apenas para um “neoliberalismo menos selvagem”, proporcionado pelo último ciclo de crescimento econômico. Podemos comprovar essa questão ao verificar que Lula destinou muita verba pública para os capitalistas das privadas, também continuou destinando verbas das pesquisas para a chamada “inovação tecnológica”, que vem se tornando a principal via de colocar a universidade a serviço dos capitalistas. E seu governo expandiu mais do que nunca o ensino à distância, que conta até com um ministério específico. Onde há uma diferença maior com relação à FHC é na ampliação de vagas nas federais (44 mil neste ano), que foi feita sem as verbas necessárias para evitar maior sucateamento e não reverte a tendência de uma expansão desenfreada das privadas, e na aprovação das cotas. É fato também que nas federais é onde a proporção de cursos diurnos é a maior, impedindo que os jovens trabalhadores possam estudar.
A crise também atingirá as universidades estaduais. A União divulgou na última semana de janeiro que a arrecadação do ICMS caiu 3,7% de outubro para novembro de 2008. São mais de 72 milhões de reais a menos nos cofres estaduais. O governo fluminense se prepara para corte de 500 mi em seu orçamento e o paulista congelou, por decreto (!!!!!), 1.56 bi de suas despesas. A principal fonte de financiamento das universidades estaduais paulistas é a arrecadação do ICMS, ou seja, certamente o repasse diminuirá. A verba destinada à permanência estudantil, ampliação de vagas com qualidade e contratação de técnicos e professores está ameaçada. Nem a jornada de ocupações de 2007 parou a ofensiva de Serra. Em junho de 2008, Serra sancionou a “lei de inovação tecnológica”, que avança na priorização da chamada pesquisa operacional e das fundações privadas. Em outubro a novidade do governo para a educação superior foi a criação da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), bastião do ensino à distância, vendido com a falsa idéia de “democratização” do ensino. E para passar esses ataques, é lançada uma ofensiva repressiva sobre os lutadores, como ocorre na USP, onde chegaram ao ponto de demitir em dezembro de 2008, Claudionor Brandão, diretor do Sintusp, o que configura claramente como uma perseguição àqueles que se colocam na linha de frente da batalha contra as medidas de Serra. A possibilidade concreta de contingenciamento de verbas, decorrente da crise, poderá aprofundar os golpes já deferidos pelo governo tucano assim como a repressão política aos lutadores.
A quantia exorbitante dos governos Lula e Serra destinada aos capitalistas mostra que a elitização do ensino não ocorre por falta de recursos, mas por estratégia política. Assim, entendemos que devemos partir das demandas mais urgentes e imediatas, como a luta por bolsas, pela redução da mensalidade, pela re-matrícula dos inadimplentes e pela contratação dos professores com a consciência de que estas lutas devem estar ligadas à busca por uma saída profunda para a universidade. Devemos, a partir da sala de aula, discutir sobre o papel da universidade, a quem ela serve, qual tipo de universidade queremos, como transformá-la, tomando o exemplo dos estudantes na Europa, lutar para que a universidade, a educação e a saúde do povo não paguem pela crise.
Para atender de forma plena essas reivindicações, devemos incorporar em nosso cotidiano a luta pela estatização das universidades privadas sob a base do não pagamento das dívidas externa e interna e por impostos progressivos às grandes fortunas; pela construção de uma universidade para todos, a serviço dos trabalhadores e do povo. Isso, decerto, é impossível se esperarmos pela boa vontade dos governantes, mas está muito longe de ser uma proposta irreal, ao contrário, está ligado ao impulso revolucionário potencialmente despertado em momentos de transformação social, como apontam os dias de hoje!
Mas somente a estatização de nada adiantaria se fossem conservados o vestibular e as arcaicas e burocráticas estruturas de poder vigentes nas universidades, pois seria mantida a mesma forma de ensino corporativa e elitizada. Por isso, a luta pela estatização deve estar ligada à luta pelo fim do vestibular. Dizemos: “ABRAM AS ESCOLAS E UNIVERSIDADES AOS FILHOS DOS TRABALHADORES E DO POVO”. Para isso, temos que lutar pela transformação da estrutura de poder universitária, arrancando o poder de decisão das mãos da burocracia acadêmica e transferindo-o àqueles que fazem a universidade funcionar: os estudantes, os funcionários e professores, para que juntos possamos construir uma universidade que coloque a estrutura e o conhecimento produzido a serviço dos trabalhadores, e não das empresas. Algumas pessoas dirão que esta é uma proposta “utópica”. A essas pessoas responderemos que utopia é acreditar que as universidades privadas poderão se sustentar, em meio à crise, sob seu modelo atual.

Organização dos estudantes pela base: auto organizado e aliado aos trabalhadores

É necessário abrir uma nova etapa no movimento estudantil brasileiro. Em 2007, o movimento estudantil ressurgiu, ainda carente de experiência, programa e estratégia capaz de levar às lutas a vitórias. Ao contrário, a burocracia estudantil, com sua política, isolou ainda mais o movimento estudantil da sociedade, deixando nas mãos do governo a bandeira da “democratização da universidade” ao não levantar nenhum programa capaz de desmascará-lo. Mas as derrotas podem ser transformadas em fortalezas se são um caldo de cultivo para tirarmos lições profundas que preparem embates superiores. Enterremos o movimento estudantil controlado pela burocracia que teme o novo! Por uma nova cultura na organização dos estudantes! Pela auto-organização e por entidades militantes que atropelem a burocracia estudantil! Assembléias preparadas com discussões em salas de aula! As entidades têm que abrir suas ferramentas, como boletins periódicos, para a discussão entre os estudantes e as correntes que compõem o movimento de forma democrática e política! Discussões em salas de aula e representantes por sala para permitir uma coordenação do movimento em cada curso sem o distanciamento da base! Temos que coordenar o movimento nacionalmente e não apenas nas universidades.
Fazemos um chamado aos estudantes que comecem a preparar reuniões e encontros estaduais que discutam como organizar a luta para que a juventude e os trabalhadores não paguem pela crise dos capitalistas. Organização de comitês de estudantes contra as demissões, que organize apoio ativo aos trabalhadores que percam o emprego e se incorporem à luta operária das fábricas que ameacem fechar frente à crise! Temos que deixar claro a polarização deste momento são eles ou nós! Encontros regionais com representantes de assembléias de base, de cursos ou faculdades que sirvam para preparar um encontro nacional de estudantes!

Os desafios do movimento estudantil e da juventude

Com a crise, o tão atacado marxismo revolucionário, agora parece ter dado um xeque em todas as teorias inimigas que tentaram enterrá-lo. Como agentes reprodutores da ideologia burguesa decadente, os intelectuais não poderiam estar mais perplexos ou chocados. Preferirão ruir junto com a ideologia burguesa ou traçar um caminho da auto-crítica e se ligarão aos trabalhadores e suas lutas? Será o ceticismo algo tão arraigado? Não sabemos. O que é certo é que sem uma nova geração de intelectuais marxistas revolucionários, essa ruptura será muito mais difícil e tortuosa. Assumimos o desafio de contribuir à recomposição do marxismo revolucionário e colocar de pé debates sobre marxismo nas universidades onde atuamos. A juventude não carrega nas suas costas o peso das derrotas do passado e dos rios de tinta dos livros, artigos e pesquisas que parecem ter sido escritos em vão. E não seremos nós que criaremos ou aceitaremos explicações burguesas para legitimar a bancarrota burguesa.
Quando a ideologia propagada nas recentes comemorações dos 40 anos do maio de 68 não era reacionária ou de uma mera “revolução cultural e sexual”, era, no melhor dos casos, envolta por um espírito saudosista no tom de “que bela a rebeldia daquela juventude”. Para nós, 68 não é uma lembrança do passado, mas um exemplo vivo cujas lições ganham maior energia frente ao capitalismo em crise e com a juventude nas ruas. Nada mais atual do que “do questionamento da universidade de classes ao questionamento da sociedade de classes”, do que a necessidade do movimento estudantil ser dentro da universidade a voz da maioria da sociedade, os trabalhadores e o povo pobre. A aliança estratégica entre estudantes e os trabalhadores (que na universidade tanto nos disseram que não existe), mostra sua necessidade. Unidade com os trabalhadores para que a crise seja paga pelos capitalistas! Viva 68 hoje!
Nos aliemos com a juventude trabalhadora, que são os que ocupam os trabalhos mais precários e são mais atacados pela crise, junto aos negros e as mulheres. Basta de um movimento estudantil que não ultrapassa os muros das universidades! Não haverá luta séria por uma transformação radical da universidade sem uma aliança com os que estão fora dela ou se matam para pagar mensalidades absurdas nas particulares. A aliança da juventude trabalhadora com o movimento estudantil pode ser um enorme potencializador das lutas na sociedade. Vamos às fábricas! Às escolas públicas secundaristas! Aos bairros da periferia! Chamamos especialmente os jovens trabalhadores que estão nas universidades para nos organizarmos conjuntamente.
Mais do que nunca é urgente a necessidade de organizar-se para responder aos ataques e passar à ofensiva! Transformar radicalmente as universidades e abrir caminho para uma nova sociedade. Participe das nossas atividades e conheça o Movimento A Plenos Pulmões! Leia, difunda e construa esse boletim! Desatai o futuro!



[1] Usou números para justificar a comparação: o crédito, como porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto), subiu de 160% em 1929 para 260% em 1932, como conseqüência da deflação e da queda da atividade econômica. ,Já nesta crise, o crédito, que era 360% do PIB em 2008, aumentará até 500% nos próximos anos.

Um negro no comando do imperialismo decadente

Por Mara Onijá

Explosão da bolha imobiliária, quebra de bancos, recessão, níveis de desemprego subindo assustadoramente. Reprovação do ex-governo Bush por 80% da população, marcado por uma guerra que colocou os Estados Unidos num atoleiro, expressando a decadência da maior potência imperialista do mundo.
Foi neste cenário que emergiu Barack Obama, não apenas como a esperança para a população dos Estados Unidos, mas demonstrando-se também como um ícone internacional. Ao longo de sua campanha, Obama buscou se diferenciar, propagando as promessas de retirada das tropas do Iraque, o fechamento da prisão de Guantánamo, e outras medidas mais. Mas é principalmente a expectativa de que Obama consiga dar uma resposta à crise econômica – através de uma suposta ação “mais responsável” por parte do Estado – que move milhões de pessoas em apoio ao novo presidente dos Estados Unidos.
Sem dúvida, a comunidade negra dos Estados Unidos – e de muitos outros países, como o Brasil – comemorou a vitória de Barack Obama. Entre os negros, os votos para o democrata foram quase absolutos. Entre o público presente em Washington no dia 20 de janeiro, eram muitos os negros que se emocionaram e choraram ouvindo as palavras de Obama e as canções de Aretha Franklin.
Não é mesmo um fato qualquer: há cerca de quarenta anos atrás, os pais ou avós dessas mesmas pessoas viviam submetidos à segregação racial que se manifestava nos bancos de ônibus, nos restaurantes, nas escolas, nas empresas. Até os dias de hoje, apesar de ações afirmativas de porte considerável por parte do Estado, como política para amenizar o conflito racial latente, terem formado uma espécie de classe média negra, as condições de vida da maior parte da população negra ainda estão marcadas por uma história de opressão. Não são necessários muitos exemplos. Basta lembrar do Katrina em New Orleans há poucos anos atrás: enquanto os brancos saíram da cidade antes do furacão, os negros permaneceram ali por dias esperando socorro, e quando a Guarda Nacional chegou, seu papel foi de reprimir os moradores, fazendo com que saíssem de suas casas com armas apontadas para suas cabeças. Outra demonstração de como o racismo persiste na sociedade estadounidense está na gritante disparidade de renda: em 2004, a renda de uma família negra equivalia a 58% da renda de uma família branca. Hoje, nos marcos de uma crise histórica do capitalismo, a burguesia não demora em atacar os trabalhadores, começando pelos terceirizados e precarizados – onde os negros ocupam grande parte dos postos de trabalho. A equiparação dos salários de homens e mulheres, medida anunciada nos primeiros dias de governo, não atinge os setores precarizados, que além de destituídos dos mais elementares direitos, são agora os primeiros nomes nas listas de demissões.
O discurso de Obama, proclamando a união acima das raças e religiões, ao contrário de ser uma declaração que afirme a necessidade de que o povo negro se organize e lute contra o racismo, está na verdade baseada na concepção que expressou em sua campanha de que os Estados Unidos devem deixar para trás as velhas marcas do passado. Como um verdadeiro defensor da ordem capitalista, Obama não pode escancarar a realidade em que vive o povo negro. Por isso, durante a campanha, ele rompeu sua relação de anos com o pastor Jeremiah Wright, por este ter declarado que os negros deveriam julgar os Estados Unidos por suas injustiças raciais.
Obama é hoje o maior símbolo da possibilidade de que os negros podem ascender ao poder. Condollezza Rice, talvez o maior ícone nesse sentido antes da aparição de Obama como candidato à presidência, ajuda a ilustrar o papel que cumprem aqueles que Solano Trindade chamava em sua poesia de “negros senhores na América”: tornam-se algozes do seu próprio povo e dos povos oprimidos no mundo. Assim foi Rice, comandando a ofensiva no Iraque.
Mas Obama traz consigo mudanças, dirão muitos. Sem dúvida, a política de Obama não é a mesma unilateral adotada por Bush ao longo dos últimos anos. Muita coisa mudou nos últimos meses e a resposta que Obama precisa dar é justamente como retomar a força de seu país como principal potência, o que exige uma relocalização na arena internacional, que seu discurso “cooperativista” simboliza. “Nós estamos prontos para liderar mais uma vez”. Essas foram suas palavras no dia 20. E “liderar mais uma vez” significa liderar um mundo capitalista em crise, que para se recuperar jogará sobre as costas dos trabalhadores e dos povos oprimidos as mais brutais violências. Afeganistão e Paquistão seguem na lista de Obama. A ocupação do Haiti pelas tropas da ONU, que já dura quatro anos após o golpe orquestrado pelos Estados Unidos, vai permanecer, e Obama nem pensa em mudar isso. O imperialismo não deixará de ser imperialismo, não deixará de ser opressor pelo fato de contar com um homem negro em sua linha de frente.
Se por um lado a eleição de Obama proporcionou que os negros aumentassem as expectativas por um mundo onde não mais exista racismo, por outro lado, a crise capitalista e as saídas que os imperialismos buscarão significam o aprofundamento da opressão e exploração daqueles que há séculos constroem riquezas e vivem subjugados, primeiro sob o colonialismo e hoje sob o imperialismo. Não resta outra saída para nós, negros e negras de todo o mundo: Malcolm X já havia dito que “sem racismo não existe capitalismo”. Um negro que ocupa o posto de mais alto poder no mundo, em defesa da sobrevivência do imperialismo, não poderá nunca combater de fato o racismo. Esta tarefa deve estar nas mãos dos milhões de negros numa luta anti-imperialista e anti-capitalista.

“O Brandão é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo!”

Entrevista com Brandão, dirigente do Sintusp, demitido no final do ano

Desatai o Futuro: Você foi demitido. Qual o interesse da reitoria ao fazer isso?

B: A demissão é parte de uma tentativa da Reitoria de destruir a organização dos funcionários da USP com o intuito de dificultar que os trabalhadores continuem se organizando de forma combativa, como vem acontecendo nos últimos anos. Quando o sindicato consegue se ligar com o movimento estudantil, protagonizamos lutas importantes, como foi a greve de 2000; a luta contra a regulamentação das fundações; a greve em 2004 que de uma luta salarial os trabalhadores começaram a questionar profundamente o regime universitário da USP; a luta contra o veto do governo Alckmin ao aumento de verbas para as universidades estaduais, em 2005; e como ficou mais nítido do que nunca na greve e na ocupação da reitoria da USP contra os decretos do governo Serra no ano de 2007.

DF:: Há outros processos acontecendo, não?

B: Há um ataque forte sobre o sindicato e sobre nossos ativistas. Minha demissão coloca a possibilidade imediata de demissão de mais dois diretores do Sintusp, o Zelito e o Aníbal, que estão respondendo nesse momento um processo administrativo. Tem o caso do Germano, que é da USP São Carlos, que foi condenado também em outro processo administrativo a uma pena de retenção, e outro companheiro que foi condenado a uma pena de advertência. Todos relacionados a atividades políticas votadas nos fóruns de deliberação de nossa categoria. Tem o Magno e a Neli, que responderam junto comigo também a uma sindicância para apurar responsabilidade por danos na ocupação da reitoria em 2007.

Também tem vários estudantes que estão respondendo processos decorrentes da greve e da ocupação de 2007. E mais três companheiros estão respondendo outro processo também, mais recente, devido a um piquete em frente à Reitoria da USP, votado em assembléia dos estudantes, que também mira dois dirigentes do Sintusp e eu. Isso indica uma ofensiva contra todos os setores combativos da universidade.

DF: E o governo estadual? Pois muitos dos processos, também a estudantes, se deram após um recuo do governo Serra na luta contra os decretos em 2007, a ocupação da Reitoria da USP...

B: Foi uma desmoralização e um recuo político que Serra teve que fazer na greve das estaduais em 2007. Para um cara que pretende ser presidente da República é um pouco difícil de engolir na boa. Agora, Serra busca avançar, por outros meios, na implementação dos ataques que não conseguiu implementar através dos decretos.

Em junho do ano passado, Serra sancionou a Lei Complementar nº 1049, que estabelece diretrizes para a inovação tecnológica em São Paulo, relacionada com as já conhecidas “pesquisas operacionais” que fomos contra em 2007, e que vai muito além das fundações de direito privado, permitindo que a universidade seja colocada muito mais aberta e diretamente a serviços dos interesses capitalistas. Em outubro, o governador assinou o decreto que cria a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), sistema de ensino superior à distância, que é uma forma do governo “vender” a imagem de “democratização da universidade” através da precarização do ensino.
Minha demissão é um ataque à política do Sintusp de lutar contra as medidas de privatização e precarização que o governo busca aplicar com a colaboração dos seus agentes dentro da USP, que chamamos de burocratas acadêmicos. Por exemplo, esse processo que culminou na minha demissão é um processo que se arrasta desde 2005 em função de um conflito com um diretor da FAU, que militou ativamente contra a organização dos trabalhadores em greve, um cara que declarou no conselho universitário que é contra mais verbas para a universidade. Onde ele está hoje? É secretário de estado do governo Serra, Secretaria do Meio Ambiente. Ele é um dos dedos do braço direito dos tucanos aqui na universidade.
DF: Como está a campanha contra a sua demissão?

B: A campanha tem um forte apoio externo à universidade e também ligado ao mundo acadêmico. São vários intelectuais, mais de uma centena, que assinam o abaixo assinado contra a demissão, exigindo a reintegração e a retirada dos processos contra o pessoal na USP, estudantes e funcionários, que estão sendo processados. Há também o manifesto contra a repressão que o Sintusp lançou no ano passado junto a vários professores.

Tem apoio de parlamentares, Genuíno, Vicentinho, Suplicy, Ivan valente ; são do PT, do PSOL, PCdoB e até do PSB, um vereador que veio aqui no ato, Paulo Vanucci, professores de Direito e juízes do trabalho que também apóiam a campanha. E aí tem as entidades: a Conlutas, a CUT, Movimento Negro Unificado, os partidos de esquerda todos, estão aí apoiando a campanha. Tem milhares de assinaturas de funcionários e estudantes, centros acadêmicos, DCE`s que se colocam contra a demissão pelo que ela representa: uma medida repressiva contra a organização do movimento.

Também existe entre os trabalhadores da USP uma forte disposição de lutar para reverter a demissão. A questão agora consiste em transformar todo esse apoio em luta ativa, ou seja, de construção dos comitês de mobilização por unidades, como votamos em nossa assembléia, a exigência que a Reitoria negocie a reintegração, e, principalmente, a mobilização dos funcionários e estudantes.

Agente também está tentando fazer já uma paralisação. Tem uma proposta indicativa e vamos ver se conseguimos construir para o dia 18. No dia da calourada, que os estudantes vão estar com os ouvidos mais abertos, vamos chamar a atenção pra esse fato, da necessidade de combater a repressão, ver o que a gente consegue fazer juntamente com o DCE e com os centros acadêmicos. A assembléia também aprovou um indicativo de greve para março, contra a demissão, pela reintegração e também para impedir que a Reitora implante uma carreira que vai ser prejudicial pra todo mundo. Aprovou também uma campanha com adesivos, camisetas, faixas, cartazes, etc., com o slogan “o Brandão é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. Agora o desafio é chegar a todas as pessoas que se dispõem a assinar o abaixo-assinado, fazer reuniões nas unidades, incorporar os estudantes na luta contra a repressão, a demissão e o ataque ao Sindicato. Ou seja, tarefa militante de chegar a todas essas pessoas. Em princípio, a campanha está assim.

DF: Qual é, em sua visão, o papel que podem ter os estudantes frente à crise?

B: Eu acho que hoje, com a crise, o que nós estamos vendo no mundo e que começou a impactar, como a mobilização de estudantes na Itália e na Grécia contra as conseqüências da crise, é a certeza de que a tendência vai ser também a de uma ofensiva ideológica repressiva da burguesia contra os trabalhadores, contra o movimento estudantil, contra a juventude. Ou seja, o pior agora não é demissão, desemprego, tirar as condições de vida das pessoas, para a burguesia. O pior seria que as pessoas que estão perdendo o emprego e direitos, aceitem passivamente, sejam massacradas. A aliança operário-estudantil que a gente tem que procurar construir tem que ser no marco do que vimos na Itália e na Grécia, que busque passar à ofensiva, que busque construir uma aliança em mobilização pra fazer com que a burguesia e os patrões paguem a crise, e não os trabalhadores e a juventude, e isso implica em avançar na discussão sobre o programa e sobre que política levar.

Os conflitos na universidade hoje não podem ser mais apenas para defender a universidade. A discussão hoje é outra: que universidade e pra quem? Se continua uma universidade a serviço da burguesia ou vamos lutar por uma universidade a serviço da classe trabalhadora e do povo? Se vamos lutar pelo fim do vestibular, pela estatização das universidades particulares e chegar até os estudantes que pagam, que são em sua maioria filhos de trabalhadores e que não conseguem entrar nas universidades publicas, chegar e estender essa aliança até aí. Vai ter muita gente dizendo que não é hora, como se nós fossemos obrigatoriamente meros objetos da conjuntura e não tivéssemos condição de ser sujeito e influenciar no curso da história. Então é necessário compreender que nós temos condições, meios e obrigação de tentar influenciar o curso da história. Na medida que a história nos coloque a oportunidade de intervir no seu curso, não podemos perder tempo.

Tirar o pó da história das lutadoras!

Por Diana Assunção*

Neste 8 de março as Edições ISKRA apresentarão seu próximo título que compõe a Coleção Mulher: A edição brasileira do livro Lutadoras - Histórias de mulheres que fizeram história, originalmente publicado em Buenos Aires, Argentina, no ano de 2006 com organização de Andrea D´Atri. A nova edição contará com os artigos originais, que trazem a história de mulheres como Flora Tristán, Louise Michel, Rosa Luxemburgo, entre outras, mas também com a incorporação de mulheres brasileiras como Patrícia Galvão, e uma primeira reflexão sobre o papel das mulheres na reorganização operária da década de 1970.

Essa pesquisa não foi tarefa simples. Afinal, o papel das mulheres na história tem sido silenciado durante séculos. Quando apareciam, era em “casos excepcionais” onde as mulheres adquiriam importância por “estranhas” aptidões para a ciência ou para a arte, ou ainda porque “obscuros desígnios divinos” buscaram erguê-las como “rainhas” ou “santas”. Isto se modificou drasticamente com a segunda onda feminista na década de 1970, quando ativistas e acadêmicas começaram a questionar esta ausência e se propuseram a investigar as mulheres na história. Mas se a opressão social das mulheres está na base desta eliminação da participação de metade da humanidade nos processos históricos, isso se deu de forma mais aguda quando se tratou das mulheres lutadoras, rebeldes e revolucionárias.

Em Pão e Rosas: Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo, primeira publicação da Coleção Mulher, buscamos entrelaçar as questões relativas à opressão e à exploração ao longo da história da luta de classes que se abre com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Agora, com a publicação de Lutadoras..., nos propusemos a resgatar, com nomes e sobrenomes, algumas das protagonistas deste período, que não foi isento de combates heróicos da classe trabalhadora e dos setores populares na luta por sua emancipação. Estas biografias foram reelaboradas em função dos próprios processos dos quais estas mulheres participaram, destacando este aspecto acima de outros relativos às suas vidas privadas. Não foi uma decisão ingênua: nas biografias masculinas, é pouca a atenção dada às vidas conjugais dos homens referenciados, suas paternidades e outros detalhes de seu cotidiano; no entanto, é habitual que as biografias femininas destaquem estes aspectos acima de outros. Ao contrário, neste trabalho, queremos mostrar a vida destas mulheres a partir do lugar que elas mesmas decidiram ter na história, como protagonistas de seu tempo.

Estas mulheres as quais retrata Lutadoras..., viveram sob o domínio do sistema capitalista. Desde seus primórdios, revolucionando a sociedade e as relações pessoais, o capitalismo arrancou a mulher do âmbito privado, acabando com as aspirações obscurantistas da Igreja, que naturalizava a clausura da mulher dentro de sua casa, no âmbito doméstico. Em plena Revolução Industrial, com o desenvolvimento da técnica e da maquinaria, o capitalismo tornou possível a desmistificação da suposição de tarefas, trabalhos ou profissões masculinas ou femininas, baseados nas diferenças anatômicas. Mais tarde, o desenvolvimento da medicina e da ciência permitiu que, pela primeira vez na história, pudesse se separar a reprodução do prazer, questionando, desta forma, a concepção de que a maternidade é o único projeto de vida para a realização das mulheres. E também, tornou em uma possibilidade ao alcance das mãos a socialização e industrialização das tarefas domésticas. Porém, sua enérgica revolução nas relações sociais de produção, que poderia arrastar velhos preconceitos e construir novas relações pessoais, só foram tendências que não puderam desenvolver-se integralmente sob a sobrevivência da propriedade privada dos meios de produção. Não à toa as mulheres permaneceram com a responsabilidade pelo trabalho doméstico, assim como milhares seguem morrendo todos os anos pela impossibilidade de interromper a gravidez de forma segura.

Na história da luta de classes sob o domínio do capital, deparamo-nos com batalhas nas quais as mulheres desprenderam toda sua energia e criatividade, acaudilhando as massas oprimidas, levantando-se com elas e erguendo-se como valorosas combatentes contra a exploração e a opressão capitalista. Queremos homenageá-las através deste trabalho de pesquisa que em breve apresentaremos. Mas também queremos aprender com suas vidas e que estas sirvam de inspiração para as jovens gerações de operárias e da juventude que aspiram ser sujeitos conscientes de sua própria emancipação. A história continuou. A década de 1970, que assistiu ao surgimento do feminismo da segunda onda, foi também um período no qual as massas desprenderam sua energia combativa e radicalizada contra os pilares da ordem mundial. As mulheres voltaram a ser protagonistas de gestos heróicos na Primavera de Praga, nas greves da Polônia, Maio Francês, no Cordobazo, nos cordões industriais chilenos, em Tlatelolco no México...

Diante de um momento histórico onde o capitalismo volta a ser questionado em sua essência de exploração de uma classe sobre outra, conhecer e aprender como bravas mulheres foram capazes de subverter a ordem é, no mínimo, inspirador. Queremos, dessa forma, nos preparar para as próximas batalhas, onde certamente novas lutadoras surgirão. Convidamos as (os) estudantes que contestam a “história oficial” dentro das salas de aula impregnadas da ideologia patriarcal, para que continuemos tirando o pó dessas histórias, das quais as mulheres têm sido protagonistas com sua criatividade e sua fortaleza, no caminho da luta da humanidade pela sua libertação definitiva.


*Diana Assunção é organizadora da edição brasileira de Lutadoras – Histórias de mulheres que fizeram história e estudante de História da PUC-SP. Militante da Liga Estratégia Revolucionária, é também uma das fundadoras do grupo de mulheres Pão e Rosas.

Qual a importância da luta contra as demissões na GM frente a mais de 1,5mi demissões?

No final do ano, a fábrica General Motors de São José dos Campos, demitiu mais de 800 trabalhadores. Frente à grande crise econômica mundial e às mais de 1,5 milhões de demissões apenas no mês de dezembro/2008, parece que a luta contra as demissões da GM poderia ser uma a mais. Mas não! Os trabalhadores metalúrgicos de São José dos Campos são filiados à Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) e são parte de um setor importante de reorganização do movimento operário no Brasil. A luta da GM pode ser exemplo nacional de como impedir as demissões. E os estudantes podem dar todo o apoio ativo nesta luta para ganhar o apoio popular contra os planos da patronal, que nos últimos anos lucrou muita grana. A GM pode ser um exemplo de luta aos trabalhadores das fábricas que hoje demitem ou ameaçam fechar, e pode colocar também a necessidade imprescindível da unidade dos trabalhadores nacionalmente contra as demissões e pela manutenção dos direitos. Como dizem dois trabalhadores da GM: “É possível reverter essas demissões, porque onde tem luta tem conquista, e as demissões refletem no comércio interno da cidade. Pra reverter, tem que reduzir a jornada, sem reduzir os salários." E: “Pra mim, a saída pra isso tudo é controle operário. Enquanto o controle estiver nas mãos dos capitalistas não tem solução Eu sempre falo: eu acho que tem que ocupar as empresas sob controle dos trabalhadores. Enquanto os capitalistas estiverem controlando tudo não tem o que fazer. O pessoal fala que tem que ter estatização na mão do governo. Eu acho que não. Eu acho que não tem que estar na mão do governo. Tem que estar na mão dos trabalhadores”. Avante a luta dos trabalhadores da GM!

ZANON-Uma fábrica sem patrões


A fábrica de cerâmica Zanon, localizada no sul da Argentina, é um exemplo fantástico de uma luta operária e de resistência à crise. Em 2001, no meio da crise que atingiu o país, a patronal demitiu massivamente e ameaçou fechar a fábrica. Os operários decidiram ocupá-la e tomar a produção em suas mãos. Desde então, Zanon vem produzindo sob controle operário, com redução de jornada, aumento salarial, aumento de postos de trabalho e grande redução no número de acidentes. Todas as decisões que envolvem a fábrica (hoje renomeada FaSinPat, Fábrica Sin Patrones) são tomadas em assembléias e não há separação entre a produção e a administração, pois os cargos são rotativos. Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, em conjunto com outros setores, como a Associação de Professores da PUC (Apropuc) nos esforçamos para trazer às universidades um operário que participou ativamente dessa experiência, que nos mostra como os trabalhadores, com seus próprios métodos, podem superar as crises.