sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DESATAI O FUTURO nº2

Por que desatar o futuro?
Por Pedro Fassoni Arruda- Profº do Departamento de Política da PUC-SP e Felipe Campos- estudante de Ciências Sociais da Puc-SP e militante do Movimento A Plenos Pulmões.

"Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatro ou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc., tanto mais se poderá economizar e maior se tornará o tesouro imune à ferrugem e às traças – o capital" (Marx, Manuscritos econômicos e filosóficos).
Nicolau Maquiavel afirmou numa conhecida passagem d'O Príncipe, que a política possui a sua própria moral – e esta é distinta da moral que rege as relações de amizade ou familiares. Contra a idéia de predestinação, o pensador florentino procurou resgatar a dignidade humana, reconhecendo que os homens são os senhores do seu próprio destino, e que a política é o único instrumento de transformação da realidade: nenhuma prece substitui a ação prática. Da mesma forma, Marx se esforçou em compreender a relação entre economia e moral: o processo tautológico de acumulação de capital segue sua marcha inexorável, independentemente da consciência que os indivíduos possuam; trata-se de leis objetivas que independem da vontade dos próprios burgueses."A antítese entre Moral e Economia Política é em si mesma apenas aparente; há uma antítese e igualmente não há antítese. A Economia Política exprime à sua própria maneira as leis morais" (Marx, Manuscritos...).A "sociedade dos produtores de mercadorias", com sua lógica da reprodução ampliada, faz abstração das necessidades humanas mais elementares, já que o valor de uso subordina-se ao valor de troca. Sabe-se muito bem que a superprodução de alimentos pode coexistir com a fome de bilhões de seres humanos; afinal, o excedente nunca existe em relação à satisfação das necessidades do estômago, e sim em relação à capacidade de consumo em sua forma especificamente capitalista. O capitalismo, nos últimos cem anos, só contribuiu para congelar a história, emperrando até mesmo o avanço do progresso, contendo o espraiamento do bem-estar para as classes-que-vivem-do-trabalho. Não se trata do fim da história, como pretendem seus apologistas bem-remunerados, mas de amarrá-la aos imperativos da ordem burguesa, impedindo a sua própria superação.Sim, desatar o futuro. Quem exige tal superação é o próprio estado de coisas: trata-se de uma necessidade histórica, objetiva. Mas a sua concretização depende da educação revolucionária, da vontade de lutar e da afirmação deste projeto através da força, da união e do trabalho coletivo.O capitalismo não cairá por si só, será preciso derrubá-lo.A magnitude da crise que assola hoje as economias capitalistas do mundo confirma isso. Era evidente, e cada vez se comprova mais, a impossibilidade de estender o padrão de consumo de uma família estadunidense para os restantes 6 bilhões da população do planeta. O estabelecimento desse padrão de consumo hedonista e criador de uma vida sem sentido só se manteve pelos créditos fáceis, com os quais, através dos juros, faziam a felicidade dos capitalistas. Agora, os mesmos capitalistas que especulavam e, com o suor dos trabalhadores conseguiam seus lucros, se vêem obrigados a redistribuir seus prejuízos nas costas do povo. Enquanto várias famílias norte-americanas não conseguem mais pagar suas hipotecas e vão morar em seus carros, sofrendo com a massiva onda de demissões, os governos burgueses injetam trilhões de dólares para salvar as imobiliárias e bancos da falência. O desenvolvimento das forças produtivas cria as condições objetivas para a superação desta base miserável em que se encontram os trabalhadores do mundo. Este desenvolvimento poderia ser ainda maior mediante a abolição da propriedade privada dos meios de produção, e o controle racional num governo dos produtores livremente associados. O imperialismo fez desaparecer a "chama vivificadora da concorrência", como Marx prognosticara no Capital, e Lênin já constatara quando escreveu seu conhecido esboço popular, “O imperialismo fase superior do capitalismo”. A possibilidade objetiva de deter o próprio progresso técnico tornou-se realidade, razão pela qual Lênin sentiu a necessidade de... Desatar o futuro.
Infelizmente, a história não se desenvolve linearmente, e a burocratização do sistema soviético, depois do alijamento dos melhores quadros da revolução, acorrentou novamente os trabalhadores. Estes caíram em grilhões ainda mais pesados, feitos de ferro maciço forjado por operários, cuja jornada no interior das “smokestack industries” era tão extenuantes como em qualquer sociedade capitalista. É preciso recuperar a esperança de construir um mundo melhor, através da experiência da história e do conhecimento do atual estado de coisas. Não há capitalismo organizado. As únicas coisas que ele é capaz de organizar são a exploração, a disciplina dentro dos muros da fábrica e seus aparelhos repressivos; como a polícia e o exército. Sequer a produção de mercadorias e a partilha do butim podem ser organizadas. Quem pretender "humanizar a face do capitalismo" mediante reformas esbarrará em limites objetivos.O capital não tem pátria. O Estado nacional, contraditoriamente, organiza a dominação de classe através do seu "comitê executivo", que administra os interesses comuns das frações burguesas. Nem pátria, nem patrão, mas não há como acabar com o poder sem antes tomá-lo de assalto.Nas fábricas: desatar o nó da gravata dos chefes e gerentes, substituindo os "colarinhos brancos" pela cooperação. Abolir os cargos burocráticos não-ligados à atividade diretamente produtiva. Eliminar os parasitas, ou seja, os proprietários e seus lacaios que formam a aristocracia operária. Ocupação, autogestão, conselhos de fábricas, abolição da divisão do trabalho, isonomia entre homens e mulheres, reduzir as jornadas de trabalho ao máximo para que trabalhem todos, e menos; submeter todo o processo produtivo ao controle racional dos trabalhadores.A liberdade de cada um é a condição da liberdade de todos, em substituição da idéia burguesa de que "a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro". Explosão de guaritas, colocar abaixo os muros de condomínios fechados, mudar nomes das ruas que homenageiam os patrões, milícia operária e popular em substituição da polícia burocratizada/militar/assassina/defensora da propriedade.Nas escolas e universidades: desatar o conhecimento. Recriar o marxismo tirando-o das mãos dos liberais que esgotam suas ações revolucionárias. Voltar à produção de conhecimento aos trabalhadores, torná-la pública de fato, expulsando os bancos, fundações e até mesmo a igreja que almeja impor as diretrizes do saber. Desatar a Universidade para desatar a sociedade, não aceitar a formação que nos é imposta para dar continuidade a ordem sangrenta do capital. Denunciar para sociedade a ganância dos ricos que sustentam a miséria dos explorados. Defender o futuro próspero da humanidade sem idealismo, enfrentando aqueles que impedem que ele chegue!


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