quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Assembleia da ANEL: Reorganizar o Movimento Estudantil! Revolucionar a educação!


Por Movimento A Plenos Pulmões - USP

Assembleia Nacional da ANEL - Sáb, 28/8
Plenária Estadual da ANEL-SP - Dom, 29/8
às 10h, na UNIFESP São Paulo (próxima ao metrô Sta Cruz)

A situação da educação em todos os níveis no país é calamitosa. No ensino superior as mensalidades vão expulsando progressivamente os estudantes das universidades privadas, e nas públicas, cada vez mais sucateadas e ligadas ao conhecimento operacional e lucrativo, mesmo através do ensino à distância mais precarizado, não há vagas para sequer 1% dos jovens.
Mesmo nessas condições precárias, a educação, como todos os serviços públicos, tende a ser ainda mais atacada conforme se aprofunde a crise econômica em curso. Para reverter essa situação é fundamental a organização dos estudantes junto aos trabalhadores, e a luta. Mesmo lutas duras como a dos trabalhadores da USP no semestre passado, em defesa da universidade – que agora é respondida com punições, suspensões e processos contra os lutadores -, ou dos estudantes da Unesp-Marília que reverteram a terceirização do bandejão não poderão transformar a educação se não forem coordenadas nacionalmente.
Para responder a essa necessidade fundamental não podemos contar com a UNE, atrelada ao governo. Os setores do ME que se mantêm unidos a essa entidade já não conseguem mais do que assistir enquanto ela, financiada pelo governo, faz propaganda da demagogia com que Lula busca esconder os ataques contidos em projetos como REUNI e PROUNI, que deterioram o ensino e o trabalho, repassando verbas públicas para os empresários do ensino e mantendo as vagas insuficientes.
Por isso, chamamos todos os estudantes a construir conosco a ANEL, que hoje organiza os setores mais combativos do ME em todo o país. Para, ao contrário da UNE, combater os projetos do governo, e inclusive o discurso eleitoral da “revolução da educação”, que segue formando jovens analfabetos e negando a 6 em cada 7 jovens o acesso ao ensino superior (público ou privado, presencial ou virtual!). Para lutar pela anistia de todos os estudantes inadimplentes, pelo fim do vestibular através da estatização dos grandes monopólios do ensino, por um conhecimento que responda às necessidades da maioria da população e não do lucro, partindo da defesa dos que lutam em defesa da educação e são perseguidos e punidos, um processo em curso avançado na USP sobre o qual não se pode calar.
Independentemente de nossas diferenças com o setor majoritário da ANEL, o PSTU, vemos a construção dessa entidade junto aos setores do ME que protagonizam lutas em todo o país como fundamental, e nos damos essa tarefa na perspectiva de superar os limites que ainda impedem que a ANEL cumpra todo esse papel. Nesse sentido, a ANEL não pode ser construída por fora das principais lutas em defesa da educação, como aconteceu com a greve da USP do primeiro semestre.
Igualmente importante é que a ANEL tenha vida nas escolas e universidades. Assembleias como as do próximo fim de semana não podem continuar ocorrendo distantes dos estudantes, e suas pautas precisam ser discutidas nos cursos, com o maior número de estudantes. A delegação da USP que participará deve partir de uma discussão viva na base do ME; só com esse método a ANEL poderá existir de verdade, como ferramenta de organização dos estudantes, nas assembleias e também nas ruas, nas escolas, universidades, locais de trabalho, e em todas as lutas para transformar a educação e a sociedade.

Por isso chamamos todos os setores que constroem a ANEL e todos os estudantes interessados em conhecê-la a uma
REUNIÃO PREPARATÓRIA DA USP – 26/8, 5ª-F., às 18h, no espaço dos estudantes no prédio de Ciências Sociais

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

HOMENAGEM 80 ANOS SEM MAIAKOVSKI

Visite nossa nova sessão em homenagem aos 80 anos da morte de Maiakovski!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

As greves de trabalhadores e a defesa da educação

(Por Movimento A Plenos Pulmões - USP)

Em que sentido vão as greves das estaduais, e o que querem seus carrascos...


A greve dos funcionários da USP, Unesp e Unicamp, esse ano, despertou mais do que nunca a ira e as críticas dos setores mais retrógrados da universidade e da sociedade. Para eles, os trabalhadores entrarem em greve é uma afronta! Dizem que os trabalhadores da USP são privilegiados e corporativistas, pois ganham muito mais do que os que trabalham na iniciativa privada. Dizem que os trabalhadores são intransigentes e truculentos. Dizem que a USP representa um tipo de sindicalismo que é coisa do passado, que deve acabar, para que a universidade possa voltar a sua “normalidade”.

Os ex-REItores da USP chegaram a publicar um manifesto que dizia, contra os funcionários, que “as táticas da violência antidemocrática de hoje, praticada a despeito de os canais de comunicação permanecerem abertos, não diferem, na essência, dos atentados à liberdade cometidos pelo regime autoritário no passado.” Um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-reitor Waldir Muniz, formado pela Escola Superior de Guerra e que teve a oportunidade de aplicar seus conhecimentos militares como reitor da universidade entre 1978 e 1982. É sempre bom lembrar que, como presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Rodas negou a participação do estado na morte de Zuzu Angel. Quem aplica os métodos da ditadura?

O que esteve em jogo na USP durante o 1º semestre de 2010?

O que estes senhores que estudaram na escola da ditadura militar escondem são as demandas dos trabalhadores e da sua greve. Seriam justas? Vejamos.

A luta pela isonomia: isonomia significa que o percentual de aumento para professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp deve ser igual. Ela foi quebrada pelo Cruesp esse ano, dando um aumento superior aos professores, justamente para dividir o Fórum das Seis (entidades de professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp). A quebra da isonomia é um ataque ao conjunto da universidade, pois não somente divide politicamente os lutadores, mas deixa a reitoria de mãos livres para dar qualquer tipo de aumento diferenciado, beneficiando, por exemplo, as unidades que fazem “pesquisas operacionais” em detrimento das faculdades de humanas, e retomando um ponto essencial dos decretos de 2007.

Aumento salarial: os estudantes reacionários do movimento “Liberdade USP” fizeram um vídeo denunciando os “altos salários” dos funcionários. Eles querem funcionários trabalhando pelo mesmo salário dos terceirizados, que ganham uma miséria de cerca de um salário mínimo. A velha tradição escravocrata da elite brasileira ainda está bem viva. De nossa parte, estudantes que defendem a universidade e os direitos dos trabalhadores, não queremos ser servidos por escravos, queremos que todos os salários da universidade (inclusive dos terceirizados) estejam acima do mínimo para uma família sobreviver, o que, segundo o Dieese, seria de R$ 2092,36. Além disso, é preciso lembrar por que os salários nas universidades são mais altos (ainda que sejam muito menores que o mínimo do Dieese): justamente pela sucessivas greves, pois, se dependesse da boa vontade dos reitores da USP, o salário aqui seria tão baixo quanto em todos os lugares.

Univesp e a verdadeira democratização do ensino: assim como os entrevistadores de Rodas no Roda Viva lembraram, o Sintusp também se colocava contra a Univesp, programa de ensino à distância sucateado. Isso é só uma parte de uma luta maior defendida pelo Sintusp, por uma universidade pública na qual toda população possa estudar, pelo fim do filtro social que é o vestibular, pelo fim do ensino privado e pela estatização, sem indenização, das universidades particulares.

Contra a terceirização: para a revolta da elite retrógrada que governa a universidade - e é ligada ou mesmo proprietária de grande parte das empresas terceirizadas de segurança, limpeza e alimentação da USP -, os trabalhadores da USP também se colocaram em defesa dos trabalhadores terceirizados, defendendo que os seus salários e os seus direitos sejam equiparados aos dos trabalhadores efetivos e que eles sejam efetivados pela universidade. Inclusive, é bom lembrar que um dos processos que pesam na demissão inconstitucional do diretor sindical Claudionor Brandão é por ele defender “interesses alheios” aos da universidade, isto é, ter se colocado em defesa dos terceirizados que supostamente não seriam da base sindical do Sintusp. Vejamos só, quem são os corporativistas!

Quem de fato aplica os métodos da ditadura?

A frase dos reitores é perfeita... para descrever a política deles. Apesar de supostamente abertos os canais de comunicação, as práticas antidemocráticas de hoje não diferem na essência das praticas da ditadura. Rodas lançou a polícia contra os movimentos sociais que protestavam na Faculdade de Direito em 2007. O C.O., a reitora Suely Villela e o governador José Serra, trouxeram ao campus a PM contra os trabalhadores em greve em 2009, o que culminou nas balas de borrachas e bombas de gás cruzando prédios de aula, atiradas contra trabalhadores e estudantes que protestavam. Agora, os pontos dos grevistas são cortados, atacando seu direito constitucional à greve, e os ativistas são perseguidos e o Sintusp sofre uma série de processos na justiça, assim como vários estudantes. Sindicâncias internas são armadas de forma fraudulenta para demitir dirigentes sindicais como Brandão, ou para suspender ativistas - como é o mais recente caso de uma suspensão de 30 dias contra Patrícia, trabalhadora da FFLCH.

Eles dizem que o Sintusp representa um sindicalismo do passado. Ainda bem! Imaginem se ele fosse igual ao sindicalismo do presente, pelego, pró-patronal, corporativista e governista? Muito melhor que se pareça com o “velho” sindicalismo da greve de Osasco em 1968, com democracia de base e com demandas não corporativistas, como a defesa da universidade. Mas, contra esse sindicalismo do “passado”, eles também usam os métodos do “passado”. A repressão e a perseguição política e ideológica!

A defesa da educação, o Sintusp e os estudantes. E o nosso DCE...

Ao contrário do que a reitoria e a direita de dentro e de fora da universidade querem fazer parecer, não fossem as greves – especialmente quando unificam trabalhadores e estudantes -, os ataques que foram feitos pelo governo e reitorias ao longo das últimas décadas teriam deixado a universidade numa situação ainda pior do que ela está. Essas greves se constituíram como principal força de defesa da universidade.

Com a crise econômica, os ataques ao serviço público e à educação pública vão aumentar muito (basta ver o que Serra e Marina declaram publicamente, e Dilma afirma nas entrelinhas). É se preparando para impor essas medidas (como as que em países da Europa demitem até 45% do funcionalismo público, deixando milhões desempregados e destruindo educação, saúde, transporte e outros serviços) que os governos cortaram pontos e atacaram o direito de greve de tantas categorias do funcionalismo no semestre passado. Têm esse mesmo sentido os processos, demissões e punições a estudantes e trabalhadores da USP, que só vão aumentar, começando pelas recentes retaliações a essa greve. Têm esse mesmo sentido todos os ataques à qualidade de ensino na universidade: Rodas, por exemplo, acabou com a recontratação automática de professores que morram ou se aposentem, o que vai lotar ainda mais as turmas e acabar com matérias e cursos.

Nós, estudantes, precisamos voltar a nos organizar e nos mobilizar, em defesa da universidade, em defesa das liberdades democráticas e do direito de greve e manifestação. Nos inspiramos no exemplo dos estudantes de Marília, que estiveram em greve e ocuparam a diretoria do campus, em apoio à greve de trabalhadores que defendia a universidade, e que conseguiram impedir a terceirização do bandejão do campus!

A maioria dos CA's permaneceu passivo no primeiro semestre... o DCE começou o ano defendendo o diálogo com esse REItor, e terminou o semestre com um congresso onde nem disse seu nome, não construiu apoio à greve e só desorganizou os estudantes! Isso não pode mais acontecer! Ao deixar de lado o apoio a essa greve, as principais correntes do movimento estudantil deixaram de lado a defesa da educação e a luta pela transformação da universidade.

Ao contrário, é preciso dar continuidade aos exemplos dos setores das estaduais que estiveram em luta, e à aliança que se forjou entre os trabalhadores da USP, estudantes das estaduais – como em Marília – funcionários da UNICAMP que fizeram sua maior greve contra a posição do sindicato aliado de Lula, e valiosos (ainda que poucos) professores. Essa aliança não deve se encerrar com a luta que se fechou, e já será fundamental para resistir às punições e retaliações que já começaram. É preciso unificar estudantes, trabalhadores e professores combativos para enfrentar um poderoso inimigo que temos em comum, defendendo o interesse geral de boas condições de trabalho, uma boa educação e uma universidade que sirva à população.

Chamamos todos os interessados a aprofundar essa discussão e debater como podemos nos organizar e unificar professores, trabalhadores e estudantes para uma luta em comum.

Reunião aberta do Movimento A Plenos Pulmões da USP
5ª-f., dia 12, às 18h, na sala 12 do Prédio de Ciências Sociais

sábado, 7 de agosto de 2010

João Grandino Rodas no Programa Roda Viva: Esclarecimentos e derrapagens de um REItor.

Por Natália, Paula e André.

A Dinastia.

O reitor da USP João Grandino Rodas no programa Roda Viva da TV Cultura - mais uma vez a demagogia e o projeto de privatização da Universidade

Desde a indicação feita pelo ex-governador José Serra de João Grandino Rodas como reitor da USP, foram muitas as oportunidades deste comprovar que o seu ponto forte é a demagogia. Ainda que bradando aos quatro ventos suas supostas boas intenções de democratizar a universidade e zelar por sua qualidade e excelência, sua participação no programa Roda Viva, no último dia 5, apenas corroborou sua demagogia, tendo como ponto central a falácia de uma gestão comprometida com o “diálogo”. Quem ainda não tinha tido a oportunidade de ver a demagogia de Rodas ao vivo, pôde tirar a prova real nesta entrevista transmitida pela TV Cultura. Como em seu recente artigo publicado na Folha de S. Paulo, Rodas procurou transformar o programa em uma plataforma de campanha para o projeto de universidade que defende, como testa-de-ferro do governo do PSDB em São Paulo, e que vem sendo aplicado também nas universidades federais pelo governo Lula.

Poucos dias depois do fim da greve dos funcionários da USP, onde estes tiveram um importante triunfo que reverteu o não pagamento dos dias parados, em uma situação nacional onde nem ao menos o direito constitucional de greve é garantido1, Rodas foi questionado sobre diversos aspectos de sua gestão: desde a greve dos funcionários e sua reivindicação de isonomia salarial, o papel da PM no campus e sua entrada em 2007 na Faculdade de Direito, a Univesp e o projeto de ensino à distância, a relação da USP com a comunidade ao seu redor e até mesmo sobre a possibilidade de implementação de mensalidades. Mesmo com um time de entrevistadores altamente complacentes, com nomes como a coordenadora da TV Univesp e o “jornalista” Gilberto Dimenstein (que recorrentemente atacou a greve da USP e dos professores no jornal Folha de São Paulo, Rodas não respondeu, de forma direta e clara, a maior parte das questões colocadas, disfarçando seu projeto privatizante para USP em respostas vagas e prolixas.

Quando apresentado pelo programa como um professor dedicado, cuja carreira foi construída em décadas de trabalho e pesquisa na universidade, algumas informações importantes sobre o currículo vitae de Rodas foram “esquecidas”, e nós sempre fazemos questão de lembrar de algumas delas. Além de sua formação em Direito, Educação e Música e suas muitas especializações e pós-graduações, o “magnífico” reitor da USP foi um dos magistrados responsáveis pela isenção de culpa do Estado brasileiro em relação aos crimes de perseguição política, tortura e assassinato durante a ditadura militar, com destaque para sua defesa ao Estado brasileiro no conhecido caso da morte de Zuzu Angel. O reitor do diálogo foi também o responsável pela invasão da PM no Largo São Francisco em 2007 e pela medida aprovada no Conselho Universitário em 2009 que permitia a entrada da polícia no campus da USP. O baluarte da defesa da excelência uspiana, Rodas, então diretor da Faculdade de Direito, emitiu a ordem de transferência da biblioteca, o que ocasionou a destruição de parte importante de seu acervo. O porta-voz da democracia mantém a demissão política do importante dirigente sindical Claudionor Brandão e aprofunda a terceirização - trabalho semi-escravo - na universidade que dirige. Testa-de-ferro do governo estadual, pelo qual foi indicado interventor na USP, atuou durante a greve alinhadíssimo, como já dissemos, com a política do PSDB e do PT, o que para os lutadores significou ataque ao direito de mobilização e corte de salários – este também é o senhor João Grandino Rodas.

Sobre a greve dos funcionários da USP e a possibilidade de um “reajuste equiparado” entre docentes e funcionários

Quando questionado sobre a possibilidade da garantia da isonomia, o ajuste equivalente entre docentes e funcionários, o entrevistado não fez nada mais que repetir o que já havia falado em entrevistas anteriores, dizendo que os trabalhadores da USP são privilegiados e chamando a atenção para a média salarial da universidade, exaltando o piso da categoria que é de 1.210 reais mensais. Disse que os trabalhadores da USP estão em uma “situação confortável”, pois além do fato de que seus salários são mais altos do que a média, os funcionários usufruem de vale alimentação, vale refeição, creche, transporte e... assistência médica.

Ora, nada mais absurdo! Sim, é verdade que o piso é de 1.210 reais e também é verdade que esses auxílios existem. Mas Rodas se “esquece” de dizer outras verdades também. O piso salarial não comporta sequer o que o próprio DIEESE aponta como salário mínimo para uma família!2 Os funcionários passam pelo crivo que avalia a entrada ou não de seus filhos nas creches uspianas. Isso porque não há vagas para todos e tampouco estão construindo mais creches. O auxílio creche é muitas vezes utilizado como complementação de renda dos funcionários, já que os salários não comportam as reais necessidades de sustento de suas famílias3. A assistência médica a que Rodas se refere é o Hospital Universitário (HU), ao qual a autarquização está sendo implementada, e no qual se espera mais de 3 meses para uma consulta, com filas imensas no pronto socorro e diversas denuncias de funcionários com doenças graves, por vezes com fraturas e lesões, sendo obrigados a retornar ao trabalho sem ao menos o atestado de dispensa do dia. Isso o reitor “esquece” de mencionar. E ele também se esquece de dizer que os trabalhadores da USP só não estão numa situação pior graças às greves que fizeram nos últimos anos, pois se dependesse da reitoria e do governo do estado o piso salarial seria como “em todo lugar”.

Rodas explica o porquê do não reajuste equivalente entre docentes e técnico-administrativos dizendo que se tratava de um plano de carreira dos professores, estranhamente dando um aumento salarial igual a todos eles. No entanto, sabemos que a quebra da isonomia no início desse ano faz parte de uma política consciente do Reitor para tentar dividir as categorias da USP, isolando o setor que mais conseqüentemente contesta, combate e resiste às pretensões tucanas na universidade: os trabalhadores e seu sindicato. Aos professores, que compõem uma categoria que, na sua maior parte, há anos tem sido cooptada material e ideologicamente, deu aumento diferenciado. Em relação aos estudantes, Rodas contou com a ajuda, desde o início do ano, do próprio DCE, dirigido pelo MES/P-SOL. Essa mesma corrente política, que não se importa em utilizar dinheiro da Gerdau e da Taurus em suas campanhas eleitorais, teve uma postura conivente com a reitoria desde o início do ano – não denunciando o modo como Rodas foi indicado por Serra, aceitando financiamento da reitoria para a calourada, não dando continuidade à luta estadual contra a Univesp e, de costas para a mobilização do ano passado e para os estudantes da USP, definindo no Conselho de Centros Acadêmicos (CCA) que a nossa bandeira seria a “instituição de uma comissão paritária para acompanhar a implementação da Univesp”. Durante o conflito deste ano, a gestão do DCE não travou uma luta sequer em apoio ativo aos funcionários em greve. Se é verdade que a massa dos estudantes, ao contrário de 2009 e 2007, estava passiva, a política do MES/P-SOL foi a de aprofundar essa passividade, transformando o tédio em melancolia. Ao contrário de tentar reverter a situação, sabotaram e manobraram o quanto puderam para frear qualquer ação que pudesse romper com o cerco de Rodas à greve e a cercasse de solidariedade ativa, como fizeram, por exemplo, os estudantes da Unesp de Marília. No final das contas, Rodas e o governo do PSDB estavam bem preparados para enfrentar a greve das estaduais, cuja força motora seria a mobilização dos trabalhadores da USP e ainda contava com professores satisfeitos com seu reajuste, DCE de costas para a greve com a massa dos estudantes passiva e, no âmbito nacional, uma campanha reacionária de tucanos e petistas contra o direito de greve e pelo corte do ponto dos lutadores.

O que o governo estadual, Rodas e o Cruesp certamente subestimaram foi a capacidade de mobilização de setores importantes das estaduais e de fora delas. Enquanto o Cruesp se negava a negociar, os estudantes de Ciências Sociais e Filosofia da Unesp de Marília entravam em greve e ocupavam a diretoria de seu campus para barrar a terceirização no bandeijão de lá, pela abertura imediata das negociações, em solidariedade à greve dos trabalhadores das universidades estaduais e contra o corte de pontos. Focos de apoio surgiram em outros campi – Araraquara, Rio Claro, Franca, São José do Rio Preto. Trabalhadores da Unesp paravam em todo o estado, trabalhadores da Unicamp se mantinham em greve, contra a burocracia stalinista do PCdoB que imobiliza o STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) há décadas. Estudantes da Unesp, da Unicamp e um setor de estudantes da USP acompanharam os trabalhadores em seus atos na Rua Itapeva (em frente à sede do Cruesp) e no campus do Butantã. Nós, que construímos o Movimento A Plenos Pulmões e o grupo de mulheres Pão e Rosas, temos orgulho de dizer que paramos a Av. Paulista por duas vezes expressando nosso apoio à greve e o repúdio ao corte de ponto, não só dos trabalhadores das estaduais, mas também dos judiciários, que enfrentavam - e enfrentam- uma duríssima luta. Professores como Jorge Souto Maior, Leonel Itaussu, Luiz Renato Martins e Chico de Oliveira também expressaram publicamente seu apoio – os dois últimos dando aulas públicas na ocupação da reitoria da USP. E justamente um dia depois dessa ocupação, os trabalhadores do judiciário ocuparam o fórum João Mendes, mostrando que a combatividade dos trabalhadores da USP e do Sintusp dá exemplos para os que estão fora da universidade.

A pretensão e a arrogância de Rodas caíram por terra. Apresentado inclusive no Roda Viva como o reitor que tinha a tarefa de interromper o ciclo de greves na USP, João Grandino teve que retroceder no corte de ponto de mais de 1500 trabalhadores – o que, aliás, não foi questionado por nenhum dos entrevistadores da Cultura -, reconhecendo a validade política da greve e dos métodos de luta escolhidos pelos funcionários como legítimos e eficazes para barrar os ataques. Os trabalhadores da USP deram um exemplo – na Universidade de São Paulo não tem corte de ponto!

Sua nomeação na lista tríplice e sua legitimidade

Quando questionado sobre sua nomeação mesmo em segundo lugar, defendeu a estrutura de poder antidemocrática através da qual foi eleito, reivindicando o exemplo da Universidade de Coimbra em que apenas cem pessoas escolhem o reitor. E para refutar a falta de legitimidade de sua escolha, feita por Serra em contraposição ao próprio Conselho Universitário, Rodas atacou o setor que leva a crítica ao regime universitário até as últimas conseqüências, e que no ano passado, encabeçado pelo Sintusp e com apoio tímido do PSTU, que estava na gestão anterior do DCE – Nada Será Como Antes lançou a anticandidatura de Chico de Oliveira. Segundo Rodas, as críticas à sua falta de representatividade não seriam legítimas pois os que as fazem “sequer reconhecem o Conselho Universitário”.

Ora, sim, é verdade que os setores combativos não reconhecem o Conselho Universitário! E como poderiam? Afinal, qual a função do Conselho Universitário? Perpetuar a Universidade tal como ela é hoje: anti-democratica do começo ao fim! A começar pelo acesso a ela, pois quem estuda na USP hoje são os que conseguiram passar pelo filtro social do vestibular. Os filhos dos funcionários estudam na USP? Não. A população pobre estuda na USP? Raras exceções. E quando conseguem entrar nesta universidade, não tem sequer como se manter cursando a universidade. A falta de moradias é latente. A mais do que legitima retomada da moradia estudantil pelos estudantes no começo deste ano é fruto da política elitista dentro da universidade. Existe trabalho semi-escravo dentro na universidade. Os terceirizados trabalham em condições precárias, recebendo um salário mínimo, isso quando recebem. Este ano a empresa Personal ficou mais de dois meses sem pagar os funcionários e ainda por cima, quando estes se rebelaram e entraram em greve foram demitidos e muitos estão até hoje sem receber o acerto e sem ter baixa na carteira.

Nós, junto aos setores combativos da universidade, estivemos na linha de frente no enfrentamento com este conselho, que reúne uma casta de professores titulares que administram a universidade em seu próprio interesse, aumentando as verbas para as terceirizações feitas por empresas das quais são donos, e aumentando o espaço para as fundações privadas dentro da universidade. Aliás, os representantes que desfrutam de legitimidade neste espaço são aqueles eleitos pelos funcionários com mais de mil votos, e que ali estão com o papel de denunciar seu papel reacionário, aliado à sua luta pela democratização radical da universidade por fora deste espaço viciado.

Mensalidades na USP, privatização da universidade e ensino a distância

Dimenstein, se apoiando na proposta do candidato Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, de impor o pagamento de mensalidades em universidades públicas e bolsas de estudos para estudantes que não podem pagar, indagou Rodas acerca de sua posição em relação à cobrança de mensalidades para estudantes “ricos”. O reacionário jornalista da Folha perguntou ao reitor se não seria “quase uma questão moral” o retorno de estudantes ricos para a universidade em forma de prestação de serviços. Rodas procurou não responder diretamente, dizendo que essa questão é um tabu no Brasil e que há muitos contrários à privatização, mas fica nítido que ele defende o fim de um direito, o direito básico de educação gratuita. E afirma que essa questão será discutida no futuro.

Skaf parte de um fato inquestionável: os estudantes mais pobres não estão nas universidades públicas, estão nas particulares. Mas se a proposta deste representante da burguesia industrial paulista é séria, ele deveria propor também a estatização, sem indenização de todas as faculdades particulares. Sabemos que o interesse de Skaf não é o de fazer justiça social, mas sim de desmantelar a educação, transformando-a em mercadoria para que o Estado, num próximo momento, possa estender sua mão aos “mais necessitados”: os empresários, os banqueiros, os ricos, que com a crise capitalista sabem que os tempos de bonança estão chegando ao fim. É por isso, e só por isso, que propõe a mensalidade nas universidades públicas.

E Rodas responde a Dimenstein: “Essa questão é um tabu no Brasil. Realmente existe toda aquela tradição constitucional no Brasil em que o ensino é um direito, e o Estado deve prover este ensino. Só que no Brasil, diferentemente de quase todos os outros países do mundo, esse direito chega até o ensino superior, e não só ao ensino superior de graduação, de pós-graduação também (...) é o único país no mundo (...). Entretanto, o que nós verificamos é o seguinte, este é um aspecto a ser pensado, mas não creio que seja tão simples como esse candidato imagina (...). Poderia ser justo, mas pode não ser conveniente neste momento.”

Quando Rodas diz que o momento não é conveniente é justamente porque ele sabe que não há respaldo dentro e fora da Universidade para impor esse tipo de política hoje. No entanto, isso não quer dizer que nada venha sendo feito nesse sentido. Nada surpreende nessa afirmação do reitor, que já vem desde sua candidatura defendendo uma parceria público-privada mais profunda na USP e uma maior autonomia das fundações. O projeto de Rodas não é novo: é o projeto do PSDB para a universidade.

Foram algumas as perguntas ao reitor em relação ao ensino à distância. Na USP já são dois anos de “cursos experimentais” de graduação e pós-graduação. Foi questionado em relação ao posicionamento do SINTUSP em relação ao ensino à distância. Rodas cinicamente respondeu que o sindicato, os funcionários e grande parte dos estudantes se posiciona contrário ao ensino à distância pelo “medo do novo” e o sentimento de posse em relação à Universidade Pública. Longe de democratizar o ensino, o que a Univesp faz é sucateá-lo, barateando o custo da educação nos setores que menos interessam à burocracia e ao reitor, como é o caso dos cursos de licenciatura.

E a polícia no campus, magnífico Rodas?


Como dissemos, o reitor Rodas foi quem em 2007 deu a ordem de invasão da PM na Faculdade de Direito e em 2009 propôs a resolução de entrada da PM no campus, o que culminou com a dura repressão a manifestação pacífica de estudantes e funcionários dentro da Universidade, como não se fazia desde os tempos da ditadura militar. E fez mais: em sua posse ocorrida na Sala São Paulo, no começo de 2010, o reitor do diálogo deixou entrever o conteúdo repressor e autoritário de sua política vindoura ao reprimir aqueles que ali repudiavam, em ato, tanto tal “solenidade”, quanto a estrutura de poder retrógrada e antidemocrática da Universidade, a qual nos faz lembrar dos tempos de suseranos e vassalos.

Sobre isso foi questionado, e respondeu: “Nós não estamos em 68 mais. Em 68 nós não tivemos a polícia no campus, eu era aluno, ali do campus! E lembro perfeitamente quando o exército entrou e cercou o Crusp e levou as pessoas, porque nas salas de aula nós tínhamos três ou quatro quando devíamos ter vinte. O que nós vemos hoje é uma ojeriza a controles externos. Entretanto, é preciso lembrar a seguinte questão: a polícia não é mais o exército de 68, ninguém gostaria de ver a universidade balizada pela questão policial. Entretanto é importante lembrar que nos campi da Universidade de São Paulo há que existir a proteção das pessoas...”. Que ironia! O reitor que defendeu com unhas e dentes a ditadura e seu aparato repressivo, agora diz que não gostaria de ver a universidade balizada pela questão policial. Pois então porque recorre à repressão policial quando de manifestações políticas dentro do campus?
Não há nada mais falso!
Rodas avança e diz que a Polícia é ojerizada por seu caráter repressivo, quando ela não é só repressiva.
Ora, a polícia cumpre um papel distinto do passado? Quando assassina friamente os negros, jovens, pobres das favelas em todo o estado? Quando considera a população sem direitos e sem condições, as quais vivem em favelas e áreas de risco, como transgressores da lei a serem disciplinados? Quando reprime estudantes, sem teto, sem terra, professores, e trabalhadores de todas as categorias? A polícia é o exército de ontem. Seus comandantes se utilizam da mesma lógica militaresca que estabelece inimigos de um lado e cidadãos, em abstrato, do outro. É a mesma força que ficha, estuda e vigia -e ensina a vigiar- os ditos transgressores. É a mesma força utilizada para garantir a vitória, dos iluminados gerentes do Estado, em qualquer impasse.

Ainda acerca da suposta ”segurança” na USP, Rodas comenta o papel da Guarda Universitária como uma guarda patrimonial e que, o papel de proteção de indivíduos deve ser desempenhado pela PM. Indagamo-nos se faz parte da proteção patrimonial da Universidade o espancamento de estudantes nas moradias estudantis, como relatado neste ano de 2010. No mesmo sentido, fica a dúvida se a orientação repressiva observada cotidianamente no trato com os jovens e crianças vindos da são remo -comunidade próxima da USP- se dá com o intento da proteção de patrimônio. A questão que, inevitavelmente, paira no ar é: Patrimônio de quem? Ou melhor, Para quem?

Das contradições Rodanas ou Como inverter a lógica da realidade

Em sua entrevista, o fabuloso REItor possibilitou a toda a sociedade uma oportunidade singular de realmente entrevermos muito do conteúdo de sua orientação como regente universitário. Em pouquíssimas situações poderíamos observar o quanto se opõe à realidade dos fatos o que coloca Rodas. Indagado acerca da dita “crise de representatividade”, Rodas, se valendo de toda sua velhacaria, afirma que sim, há uma crise que precisa ser sanada no próximo período. Contudo, reafirmando de maneira cínica que não advoga por tal questão, exalta os exemplos europeus, nos quais “vemos pouco mais de cem pessoas” decidindo os rumos da universidade e essa é a tendência contemporânea. Aproveitando a deixa, coloca que um dos obstáculos para o aumento da representatividade é a suposta “obscuridade” da seleção dos representantes dos trabalhadores. Ora, não conseguimos conceber o quão obscuro pode parecer a eleição de representantes dos trabalhadores - que se dá aos milhares de votos e de maneira clara - frente a obscuridade das decisões às portas fechadas do CO (conselho Universitário); Mais obscuro ainda é a razão pela qual se justifica o fato de que organizações privadas como a FIESP, tem mais representatividade no CO do que os trabalhadores. Um buraco negro, em termos de obscuridade, é o fato de uma federação de industriais participar das decisões universitárias e pouquíssimos saberem disso. Basta um feixe de luz para extirpar toda a escuridão: Participam devido ao fato de que a Universidade está - e ruma- a seu favor e o CO trabalha por isso.

O democrático Rodas argumenta acerca da necessidade de rotatividade nas representações dos trabalhadores, ditas “controladas” pelas mesmas pessoas e idéias manipuladoras. A velhacaria de seus sofismas se torna clara pela inevitabilidade dos fatos concretos. O que foi a sucessão de reitores senão uma variação, menor ou maior, de autoritários e burocratas ligados ao interesse de grupos privados?
Quem manipula quem: um sindicato que se dissolve nos períodos de luta e possibilita a participação e eleição de todo e qualquer trabalhador para dirigir o processo de mobilização ou um conselho de pouquíssimos vassalos fora de época, encabeçado pelo digníssimo REItor, que decide tudo pelas costas - e em nome - da comunidade universitária e da sociedade? Este é um belo exemplo de diálogo e organização democráticos!

Quando indagado acerca do ensino pago na USP, rodas é categórico e elucidativo; diz que todos os que se contrapõe a esse projeto são os que se colocam mais a esquerda do status quo. Assim como teve de assumir a legitimidade da luta dos trabalhadores, atitude que se expressa no pagamento dos dias parados, Rodas deixa claro que tanto ele, ao defender o status quo, está a direita, quanto os trabalhadores e estudantes que os apoiam estão à esquerda. Defende ainda a tese de que este setor se opõe as mensalidades devido ao sentimento de posse, da apropriação da universidade pública. Ora, se os trabalhadores e estudantes apoiadores se colocam mais a esquerda e, como temos visto, defendem a ampliação radical do acesso e a universidade a serviço da maioria da população, ou seja, dos trabalhadores e do povo pobre, como é que podem apresentar um desejo egoísta de manter a “sua” Universidade?
Mais uma vez a realidade objetiva solapa seus sofismas e inversões.
Nosso REItor discursa acerca da dificuldade de se aceitar doações privadas devido a tal sentimento de posse da comunidade, a qual não gosta da participação de terceiros na vida universitária. Coloca que a sociedade é a beneficiária fundamental da Universidade, a qual, por sua vez, não deve apenas beneficiar a ínfima minoria da comunidade. No mesmo bloco, ressalta a necessidade premente de desenvolvimento de políticas públicas e de pesquisas “desinteressadas” por parte da Universidade.
Desastrado Rodas... Não percebe o quanto entrega o caráter elitista do status quo que defende ao exaltar tantas vezes a “minoria ínfima”!!
Quando define os terceiros como doadores milionários e ciclistas - os quais devem ser protegidos por seguranças privados ou a PM, nas palavras de Rodas -, não percebe o quanto deixa claro a quem ele serve. Ao dizer que as comunidades no entorno da USP utilizam a universidade para fins de lazer e diversão, quando o que vemos é a massa dessas comunidades trabalhando em cargos terceirizados, precários, tendo seus filhos humilhados pela guarda universitária, que praticamente os persegue por todo o campus pelo simples fato de “ali não ser seu lugar”, entrevemos o cinismo de Rodas.
Ao mesmo tempo, ao advogar pelas doações , e assim, pela participação da “iniciativa privada”, juntamente com a questão das “pesquisas desinteressadas”, deixa claro que não está interessado em “retribuir” à sociedade coisa alguma. Em 2007 os decretos de Serra tentaram estabelecer investimento público diferenciado aos cursos “operacionais” (entenda lucrativos) clarificando os planos privatistas do estado; em 2010 quebra-se a isonomia e o dito pacificador Rodas, ao lado de seu conselho e seus suportes, como a FIESP e todas as fundações e empresas de terceirização em posse de professores, desenvolve o movimento inicial de seu novo plano para alterar a correlação de forças, quebrar o ciclo de greves e garantir as bases para a implementação de seu projeto de Universidade, cuja imposição há muito tem sido tentada. Contudo, não contaram com a potência de algumas variáveis.

A verdadeira Defesa da Universidade, da educação e da sociedade


Devemos partir de um ponto decisivo para o entendimento da realidade: ela não foi e, provavelmente, não será a mesma de hoje. Esta assertiva nos garante a postura necessária para desnaturalizar as condições atuais da realidade. Os exemplos de luta pela contratação de professores, contra os decretos, por mais moradia estudantil, por mais políticas de permanência, são exemplos de que o que se há hoje na universidade é fruto da mobilização e questionamento. A realidade é dinâmica e, invariavelmente, a realidade universitária também. Sendo assim, muda.
Sempre que possível os gestores universitários tem tido a linha de vulgarizar o que foram - e são- os movimentos de luta, caracterizando-os como corporativos, mesquinhos, salariais e atacando suas bases, o que se evidencia pela tentativa de corte de pontos dos trabalhadores. Esse é o “diálogo pacífico” que tenta criar as condições para retroceder as conquistas de outrora.
Verdade seja dita, os trabalhadores da USP são aqueles que, há anos, contra a corrente, tem lutado pelos interesses mais amplos de TODAS as categorias e, inclusive, da própria sociedade. Radicalização do acesso, por uma universidade cuja pesquisa e conhecimento estejam a serviço dos trabalhadores e do povo pobre- e não de AVON, ODEBRETCH, NIKE - , contra a terceirização, contra a UNIVESP, pela manutenção da ligação entre o HU e a USP - a fim de que atenda a todos gratuitamente- por mais verbas à educação, enfim, tudo isso só corrobora o fato de que, muitas vezes sozinhos, os trabalhadores tem sido a linha de frente na defesa da Universidade. Rodas sabe disso. Por isso tenta dividi-los das demais categorias e sociedade.
Devemos entender a realidade não do ponto de vista imediato e estático, como se vivêssemos numa fotografia, mas do ponto de vista dinâmico e mais amplo, como um filme. Observamos o processo de crise generalizada que se espalha pela Europa e, igualmente, temos visto que a resposta dos governos é o corte de direitos e salários dos setores públicos e de verbas para os ditos “direitos sociais”. A educação é um deles e tem sido duramente atacada. Apesar da aparente calmaria, o que nos espera é um período turbulento de crise sistêmica, a qual, ao que tudo indica, afetará o Brasil de maneira distinta. Os aspirantes ao governo, bem sabem disso e preparam-se para desferir golpes mais duros num próximo período, o que significa corte de verbas para educação e a decorrente queda da excelência, insuficiência de professores, evasão, precarização estrutural... Historicamente o único setor que efetivamente fez frente a tais planos privatistas e austeros, foram os trabalhadores. Não podemos acreditar na imutabilidade do real! Se queremos uma Universidade de qualidade, pública, gratuita e , além disso, queremos sedimentar as bases para discutir e lutar por um projeto distinto de Universidade, o único setor com o qual podemos contar é o de trabalhadores! Os verdadeiros anseios democráticos se evidenciam em suas lutas e não nas contradições de nosso Reitor. As mentiras encobertas pelo glacê retórico de Rodas começam a se desvelar e se evidenciarão com a agudização da crise econômica. Precisamos avançar em nossa preparação com lucidez. Se não podemos defender o que temos, nunca poderemos conquistar algo além!

Nesse sentido, apenas a mobilização, reflexão, discussão e organização entre aqueles professores, estudantes e trabalhadores dedicados a tal defesa e que reconhecem a sua necessidade, é que podem efetivamente conservar o já conquistado e avançar no muito que ainda precisa o ser.

Por isso convocamos todos aqueles que queiram atuar e discutir, de maneira mais aprofundada, como materializar uma frente em defesa da Universidade e educação a fim de que, assim, possamos garantir um futuro distinto para seu papel e sua qualidade, a entrarem em contato e participar de nossas reuniões abertas.