domingo, 11 de janeiro de 2009

Em defesa do povo palestino

Em 1943, os judeus do gueto de Varsóvia foram brutalmente massacrados pela máquina de guerra nazista do Terceiro Reich. Em 2009, os palestinos da Faixa de Gaza são brutalmente massacrados pela máquina militar sionista do Estado de Israel. As atrocidades praticadas por Israel nos últimos dias chegaram a obrigar até mesmo a ONU a denunciar as violações de direitos humanos sofridas pelo povo palestino
[1], a intervir pedindo um cessar fogo e a solicitar investigações sobre os crimes de guerra cometidos por Israel. Dessa forma, as comparações entre o caráter terrorista do Estado de Israel e o regime nazista tornam-se, cada vez mais, inevitáveis.

Após a vitória eleitoral do Hamas em Gaza, em 2006, Israel emitiu um conjunto de exigências oficiais ao governo recém empossado, tais como o reconhecimento do Estado de Israel e a renúncia à violência. O caráter cínico e hipócrita dessas exigências foi denunciado e contestado no mesmo ano pelo historiador judeu Shlomo Sand, professor de história contemporânea da Universidade de Tel Aviv, em um corajoso artigo
[2]. Deve-se frisar ainda que, por diversas vezes, o Hamas acatou acordos de cessar fogo propostos por Israel, e estes foram rompidos pelos próprios israelenses. Todavia, o governo israelense usa o não cumprimento destas exigências como pretexto para atacar a região de Gaza, com o intuito de derrubar o governo legitimamente eleito do Hamas, iniciando no dia 27/12/2008 uma ofensiva que, como era de se esperar, conta com a cumplicidade dos EUA e da União Européia.

Consideramos que não podemos tratar este episódio como um conflito entre dois povos, mas sim como um genocídio. A falácia de que as ações de Israel são uma “resposta ao terrorismo” ignora que só há um lado poderoso em questão; trata-se de um Estado que abarca a 10ª maior força militar do mundo, dotada de mais de 200 ogivas nucelares e aviões de caça F-14 e F-16, enfrentando um povo miserável e famélico. Os números da ofensiva militar falam por si só: 760 palestinos mortos (incluindo mais de 270 crianças) e dez soldados israelenses, no total
[3]. Definitivamente, trata-se de um genocídio.

Fica claro para nós que o grande temor de Israel não são as ações terroristas, mas sim a possibilidade de independência política dos palestinos, o que leva o governo israelense a reagir com enorme ferocidade a um governo legitimamente eleito por este se mostrar menos disposto a baixar sua cabeça e responder “sim, senhor!” aos seus interesses. Mesmo assim, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, membro do Fatah, responsabiliza o Hamas pelos ataques de Israel e se propõe a negociar um acordo de paz com os assassinos de seu próprio povo
[4].

Enquanto isso, assistimos expoentes da mídia conservadora brasileira nos dizendo que “não devemos tratar o Hamas como um grupo de anjinhos”
[5]. Decerto, o Hamas não é “um grupo de anjinhos”. Mas esta parece ser uma característica muito comum entre as vítimas de massacres: em geral, recusam-se a serem dóceis e angelicais. Assim como não eram dóceis e angelicais as vítimas do nazismo, tais quais os judeus do gueto de Varsóvia, não o são as vítimas do sionismo, tais quais os palestinos confinados no “gueto” de Gaza. E ambas exerceram seu direito incontestável de revolta contra a opressão.

Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, que sempre nos colocamos ao lado dos oprimidos e explorados de todos os países, queremos manifestar o nosso repúdio à carnificina empreendia pelo Estado de Israel e nossa plena solidariedade ao povo palestino. Defendemos o direito dos palestinos à sua autonomia e consideramos absolutamente justa e legítima sua luta contra a ocupação e o bloqueio praticados por Israel.

[1] Para consultar o relatório de Richard Falk, Relator Especial das Nações Unidas para Direitos Humanos nos Territórios Ocupados, ver http://www.uruknet.de/?p=m50265&hd=&size=1&l=e
[2] De acordo com o professor: Nos últimos 40 anos todos os governos israelenses, de direita e de esquerda, autorizaram ou encorajaram o processo de colonização que sempre "morde" um pedaço dos territórios palestinos. Depois da recusa histórica de Israel de reconhecer, que seja apenas em parte, sua responsabilidade na origem do problema dos refugiados palestinos de 1948, e depois de reduzir a frangalhos o prestígio e a aparência de soberania da Autoridade Nacional Palestina, a população palestina desses territórios submetidos à ocupação optou por uma alternativa ao mesmo tempo mais firme e menos corrupta. (...) O Estado de Israel, e isso é um fato, jamais reconheceu uma Palestina com as fronteiras anteriores a 1967. Tampouco reconheceu Jerusalém Oriental como capital de um Estado palestino. Qual então seria o motivo para que o Hamas reconhecesse Israel?". Disponível na íntegra em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1504200604.htm
[3] Números fornecidos pela Associated Press, retirados de: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u488263.shtml
[4] Ver http://www.palestine-info.co.uk/en/default.aspx
[5] Declaração de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo de 06/01/2009