terça-feira, 24 de março de 2009

Nota de solidariedade aos estudantes espanhóis e repúdio à repressão policial


Entre os dias 18 e 19 de março, milhares de estudantes espanhóis que ocupavam a Reitoria da Universidade de Barcelona, em luta contra o Plano Bolonha, foram desalojados e brutalmente reprimidos pelas forças policiais, deixando um saldo de três estudantes presos e dezenas de feridos (incluindo transeuntes e jornalistas) . O Plano Bolonha faz parte dos atuais projetos de reestruturação e flexibilização das universidades, que têm por objetivo torná-las mais elitistas e funcionais ao capital, adequando os modelos dos cursos, suas respectivas estruturas curriculares e seus programas de pesquisa às necessidades das empresas. E não à toa desencadeou protestos e manifestações estudantis em diversas cidades européias.

Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, que lutamos pela construção de uma universidade livre e a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, entendemos que a luta dos estudantes europeus contra o Plano Bolonha é também a nossa luta. Acreditamos que as lutas dos estudantes não podem se dar apenas em marcos locais e de forma corporativista, por isso defendemos o internacionalismo, e queremos desde já expressar nossa plena solidariedade aos estudantes de Barcelona e nosso total repúdio à nefasta repressão policial por eles sofrida, bem como aos responsáveis por esta.

Algo importante a se ressaltar é que o atual governo catalão é composto por uma suposta “coalizão de esquerda” - da qual fazem parte o Partido Comunista Espanhol e o Partido Comunista da Catalunha - que durante as eleições defendeu a proposta de construção de uma policia “moderna e tolerante”, em constante diálogo com a comunidade, que servisse para “protegê-la e atender suas demandas”. No entanto, o secretário de segurança da Catalunha, Juan Saura (que faz parte da coalizão “de esquerda” e se reivindica “ecossocialista”) não hesitou em acionar o aparato repressivo para espancar os estudantes.

Isso nos mostra que, em uma sociedade dividida em classes, a polícia é incapaz de cumprir qualquer papel progressivo, agindo sempre em defesa da propriedade privada e das classes dominantes. E isso apenas reforça a nossa concepção de que a polícia não pode conviver com os estudantes em nenhuma universidade.

Mais informações (em espanhol):
http://www.enclaver oja.org.ar/ spip.php? article788

Vídeos:
http://www.youtube. .com/watch? v=EfJFoCnZopk&feature=related
http://www.youtube. com/watch? v=2VqtGS- YLvw&feature=related

Viva a luta dos estudantes espanhóis!

Abaixo o Plano Bolonha!

Abaixo a repressão!

Fora a polícia das universidades!

Carta aos companheiros – da razão de militar com o Movimento A Plenos Pulmões

“do questionamento da Universidade de classes para o questionamento da sociedade de classes”

Dentro de uma sociedade de classes, fundamentada na propriedade privada e na exploração do homem pelo homem, quando o lucro e a acumulação do capital são a regra, vemos toda a realidade convertida em mercadorias, das mais variadas. O homem, o seu trabalho, o produto do seu trabalho, o seu lazer e o seu respeito, o seu conhecimento científico e a sua arte, nada mais são que mercadorias a serem apropriadas e consumidas pela classe dominante, de acordo com o que encaminharem as disputas no mercado. Não há liberdade individual ou coletiva, de organização ou de criação.
A ideologia da ascensão social calcada no esforço de cada um, o fim da história e da classe trabalhadora, a transformação da realidade pela educação e pelo sufrágio universal etc., são apenas alguns resquícios do retrocesso que a luta de classes sofreu nas últimas décadas, com o avanço do neoliberalismo. Agora, diante de uma crise estrutural do sistema capitalista¹, em que vemos milhares serem demitidos e mais tantos que continuam desempregados, experimentamos um momento em que cai definitivamente a máscara da democracia burguesa – que não para de transferir dinheiro público, milhões, para os grandes bancos.
Este é, basicamente, o retrato geral de que devemos partir para uma intervenção conseqüente na Universidade e no Movimento Estudantil (ME), pois uma análise que não localize estes centros históricos de saber burguês em meio a uma crise sistêmica, não será capaz de responder programaticamente aos anseios de uma juventude trabalhadora que não para de se matricular nas, cada vez mais massivas, universidades particulares² - que também já começam a precisar de recursos estatais – atrás de uma formação rápida e que lhes possibilite melhor inserção no mercado de trabalho.
Uma análise de conjunto deve também não perder de vista, agora falando em públicas, a ampliação das políticas de assistência estudantil, como a concessão de bolsas auxílio, moradias, cotas etc., que também se deu principalmente durante a década de noventa e que, em função da atual conjuntura, estão fortemente ameaçadas.
Diante deste quadro há a opção de se organizar um ME combativo, classista, que lute por mais moradias e mais bolsas justamente em plena crise; que não se satisfaça com “reunis” ou “prounis” e denuncie a seleção sócio-econômica que é o vestibular, respondendo pela positiva com a estatização das privadas; que se desdobre em torno da aliança proletário-estudanti l, seja contra a terceirização do DAAE³, ou as demissões da Torque³; que consiga organizar os estudantes das públicas paulistas contra o autoritarismo mercadológico do governo do Estado etc.
Estas são algumas tarefas básicas que não devem ser tomadas descoladas do confronto ideológico, da disputa teórica em cada sala de aula, contra cada professor doutor que passa seus dias vomitando teorias vazias e que não percebe funcionárias terceirizadas esmolando décimo terceiro em frente a seus departamentos* . O ME que se propuser tais tarefas não deve relutar em enfrentar estes burocratas acadêmicos que operam a mercantilização de dentro dos tais órgãos colegiados – nos quais o peso dos professores, que são a menor parcela da “comunidade acadêmica”, é normalmente de 75%! A transformação dessa estrutura de poder, instaurando o sufrágio universal dentro das universidades, é o mínimo de democracia que somente pode se realizar se estudantes e trabalhadores impuserem à aristocracia intelectual, através de métodos radicalizados de luta.
Nossa intervenção enquanto Movimento Estudantil, contra essa Universidade elitista e racista, deve ainda localiza-la na história da luta de classes, compreendendo suas características intrinsecamente burguesas – uma vez que o desenvolvimento dessas instituições está completamente atrelado ao desenvolvimento do capitalismo – e seus limites frente a todas as contradições desse modo de produção. É neste sentido que a aliança proletário-estudanti l ganha primazia.. Somente a classe trabalhadora, a massa explorada e oprimida, os tantos que estão justamente do lado de fora dos muros universitários, é capaz de, organizada politicamente, derrubar o Estado burguês e de fato transformar a realidade.
Sendo assim, a disputa que travamos enquanto ME será sempre uma disputa estratégica, para que o conhecimento produzido e acumulado pela humanidade deixe de ser voltado contra quem precisa dele; sem as ilusões de que este movimento supere a mercantilização da vida, ou mesmo que com exigências de medidas populistas ou bonapartistas possamos ver atendidas as demandas das camadas populares por alimentação, saúde, lazer, conhecimento e arte.
Para que essa luta não se perca entre as contradições do próprio Movimento Estudantil, policlassista e de rápida renovação de militantes, faz-se necessária uma estrutura organizativa política, que extrapole a passagem pessoal de cada um nós, que não se restrinja a gestões de entidades e a fóruns burocratizados. É preciso que solidifiquemos uma tradição combativa, classista e com visão estratégica dentro do ME. É para isso que existe o Movimento A Plenos Pulmões e é por isso que decidi ajudar a construí-lo.

Evandro - Harry Potter
4º ano de Geografia noturno
funcionário do Centro de Controle de Zoonoses
militante do Movimento A Plenos Pulmões

Tomei a tarefa de escrever essa carta não como uma obrigação, mas sim já como um franco trabalho político, um esforço no sentido de abrir a discussão sobre a necessidade de construirmos um movimento anti-capitalista, a favor da aliança proletário-estudanti l e que tenha uma concepção da luta de classes e de Universidade que nos possibilite travar essa importante disputa estratégica sem batermos cabeça. Considero que foi um importante passo em minha trajetória militante e também gostaria de compartilhar com tantos companheiros de luta!



¹ para saber mais ler “Para entender a crise capitalista através do marxismo” (Desatai o FUTURO – Boletim de debate marxista, cultura e política);
² “de 1994/2001 o número de matriculados nestas instituições cresceu 115%” (Reflexões sobre a crise da universidade e o movimento estudantil. Estudantes e trabalhadores: uma aliança estratégica - Revista Iskra – LER-QI), sendo que o Prouni data de 2003!
³ lutas travadas em Rio Claro pela população em geral e com participação do Movimento Estudantil nos anos de 2006 e 2008, respectivamente;
*funcionárias terceirizadas para a limpeza do Instituto de Biociências ficaram com salários e outros direitos atrasados mais de uma vez, tendo que se organizar e reivindicar os pagamentos por parte da empresa, que é de São Paulo. A direção do IB e os professores doutores lavaram suas mãos;