quinta-feira, 18 de junho de 2009

As mulheres do Pão e Rosas dizem não à precarização do trabalho nas universidades

Luciana Machado e Clarissa Menezes*

Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, desde nossa fundação, impulsionamos uma campanha contra todas as formas de precarização do trabalho, e dizemos que esse fenômeno tem rosto de mulher. Desde o começo da greve dos trabalhadores da USP, tomamos para si as palavras da companheira Dinizete, trabalhadora da USP e integrante do Pão e Rosas, quando disse que “a terceirização escraviza, humilha e divide os trabalhadores”. Hoje adotamos essa frase para dizer um basta a essa brutalidade.

Estamos em greve, e entre as estudantes levantamos essa questão como essencial para que o movimento estudantil discuta e trave essa luta conjuntamente aos trabalhadores da USP, que já aprovaram em seu congresso a luta pelo fim da terceirização na universidade. Isso porque a terceirização é produto da sede por lucro de empresas que querem aprofundar a exploração sobre os trabalhadores. Ela permite que haja empresas especializadas em contratar pessoas temporariamente, ganhando salários vertiginosamente mais baixos que os de um trabalhador que fosse vinculado diretamente à empresa que se beneficia do serviço; e assim, retira o posto de dentro da empresa, fazendo com que o trabalhador seja demitido. É isso que hoje acontece na universidade, com as/os trabalhadoras/es da limpeza, da vigilância, do bandejão da química, das xerox´s, das fundações... E esses trabalhadores, além de terem salários de fome e estarem sujeitos a péssimas condições de trabalho, não têm nenhum direito garantido, seja trabalhista, seja de liberdade de se organizar e de fazer greve. Sabemos que a reitoria da USP já pretende dirigir mais 45% da verba para terceirizar outros serviços, como parte do projeto de demitir trabalhadores “efetivos” (CLT) que estão ameaçados através da contestação desses postos pelo Tribunal de Contas. Por isso está na ordem do dia levantar essa bandeira.

Levamos a campanha “A tercerização escraviza, divide, humilha...” ao Congresso Nacional de Estudantes, colocando a necessidade de que o movimento estudantil forje na prática a aliança operário-estudantil em defesa dos setores mais oprimidos e explorados da classe trabalhadora, reivindicando iguais salários e direitos, para homens e mulheres, negros e brancos, efetivos e terceirizados. Nossa proposta de impulsionar uma “Campanha Nacional contra a terceirização, em defesa dos trabalhadores terceirizados, por sua incorporação ao quadro de efetivos” foi aprovada e chamamos todos os estudantes, e os companheiros do PSTU e de outras correntes do movimento estudantil, a iniciar essa campanha desde já!

Também participamos do ato que se realizou no dia 16, no bandejão da química da USP, nos manifestando contra o fato deste, que é terceirizado, ter sido reaberto pela polícia, obrigando os trabalhadores a trabalharem. Lá liberamos as catracas e fomos nós servir no lugar dos trabalhadores, conversando com os estudantes, que estavam lá comendo, sobre as condições de trabalho desses companheiros e como não podiam fazer greve pelos seus direitos, pois sofrem com a ameaça de serem demitidos. Num momento em que toda a comunidade universitária se revolta com a invasão da Tropa de Choque e com intransigência da Reitoria diante das negociações, é preciso se levantar e exigir o fim dessa violência contra os lutadores e lutadoras dessa greve. Mas é preciso também, desde já, lutar contra uma forma de violência velada, sutil, e muitas vezes invísivel: chama-se terceirização do trabalho e está debaixo do nariz de todos os estudantes de nossa universidade.

*Luciana Machado é estudante do curso de Letras da USP e é militante da LER-QI e do grupo de mulheres Pão e Rosas. Clarissa Menezes é estudante da UFRJ e militante do Pão e Rosas.

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