quinta-feira, 18 de junho de 2009

TODOS AO CINEMA DE GREVE!

A seguir entrevistamos Luizito, professor da ECA

Desatai: O que achou mais importante no Cinema de Greve no Sintusp?

Luizito:A importância do cinema de greve, em primeiro lugar, foi de constituir o Sintusp enquanto lugar de encontro para uma atividade reflexiva que englobava funcionários estudantes e professores.
E acho que isso inverte papéis sociais porque os trabalhadores estavam em uma posição da qual normalmente eles estão inteiramente excluídos na universidade, ou seja, eles estavam em uma posição de sujeitos do conhecimento. Uma coisa muito vívida foi a tomada de palavra pelos próprios funcionários. Foi muito notável o fato de que a questão e o papel da mulher se tornaram pólo da discussão a partir de um filme que apresentava a relação entre um operário militante da Pegeut e a sua mulher que era operária também, em uma indústria de relógio. No filme, que tratava ainda de acontecimentos de 67, havia uma nítida divisão de papéis, o operário marido, prezava pra si o papel exclusivo de militante e dizia que a mulher, embora tivesse posições de esquerda, tinha que cuidar da casa.
O filme apresentado logo em seguido tratava de 68 e mostrava a mesma mulher tomando a posição de militante, que subia em cima de um caixote e começava a fazer discursos para os companheiros e que tomou uma posição de liderança ali quase que espontânea. O filme mostrava que aquilo tinha transformado a subjetividade da mulher e tinha transformado as relações sociais.
Logo de cara mulheres, que estavam assistindo, passaram a discutir isso. Uma das trabalhadoras disse; “quando a gente começa a dizer o primeiro problemas que enfrentamos é com o marido e com os filhos. A gente tem que militar junto deles também”. O que se manifestou superou as expectativas que eu tinha.
E também senti que, com relação aos estudantes, essa foi uma atividade muito nova. Muitos estudantes nunca tinham entrado no Sintusp, não sabiam onde era, eu acho que aquilo criou de fato uma relação de fraternidade nova.


Desatai: E qual a importância do Cinema de Greve no marco desse conflito?

Luizito: Suscitar imediatamente uma iniciativa espontânea, acompanhada de reflexão, nas pessoas que assistem o ciclo. No dia seguinte à primeira sessão houve a invasão da PM e um dos trabalhadores, que estava assistindo, apareceu diante da reitoria com uma câmera e começou a filmar. Acho também que isso se desdobra, nesta segunda etapa, quando o ciclo foi assumido por algumas das pessoas que assistiram o ciclo e que, estimulados pelo processo, fizeram uma espécie de superação da função central desencadeadora do professor e assumiram este papel, a situação pede que as pessoas se manifestem, tomem iniciativas, adquiram papel de sujeitos da enunciação e que tudo isso se faça em um clima de grande liberdade.
A gente criou novos papeis sociais, novas relações de subjetividade com a linguagem e estamos inventando linguagens novas.

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