quarta-feira, 1 de julho de 2009

Assembléia dos Funcionários aprova o Termo de Acordo de Fim de Greve

colaboração de trabalhador da usp

Após 57 dias em greve os trabalhadores da USP aprovaram um acordo de fim de greve. Dentre os pontos mais importantes está a garantia de pagamento dos dias parados e nenhuma punição aos funcionários grevistas. Além disso, estão garantidos no acordo alguns pontos importantes da pauta de reivindicação conquistados com uma greve que em nossa avaliação foi exemplar. Não temos nenhuma ilusão de que apenas esse acordo garantirá as conquistas da greve nem mesmo o compromisso da reitoria em não perseguir os ativistas. Somente a mobilização e a continuidade da luta poderá impor para Suely Vilela e seus pares a garantia e ampliação daquilo pelo qual nos mobilizamos.

É verdade que a pauta salarial não ultrapassou os 6,05% iniciais proposto pela reitoria, que se manteve intransigente sobre isso até o final. Também não conseguimos a reintegração de Brandão, ponto definido como “prioridade zero” por ampla maioria dos trabalhadores desde o começo da mobilização e que se manteve até a votação final. Mesmo assim, é inegável que o aumento de R$ 80,00 no vale alimentação, retroativo ao mês de maio, a criação do auxilio aos funcionários com dependentes portadores de necessidades especiais no valor de R$ 422,22, a suspensão do falso plano de carreira proposto pela reitoria, que previa a extinção dos cargos de nível básico e o projeto-lei que garante estabilidade aos mais de cinco mil funcionários cujas vagas eram questionadas pelo TCE; são pontos importantíssimos que com essa greve conseguimos alcançar.

Um outro elemento muito importante, que não fazia parte da pauta de reivindicação dos trabalhadores não pode ser desconsiderado: após a brutalidade da reitora Suely Vilela em chamar a polícia para reprimir os grevistas, foi essa greve, isolada em trabalhadores da USP por mais de trinta dias, que conseguiu pautar no cenário político brasileiro, com grande exposição dos meios de comunicação, envolvendo estudantes, professores, intelectuais e personalidades políticas, a questão da estrutura de poder na universidade que criou as bases para levarmos adiante uma grande campanha pela democratização da universidade pública num movimento que deverá se ampliar no segundo semestre com as bandeiras de diretas para reitor e Estatuinte livre e soberana.

O Cenário político da greve

Consideramos que essa greve é um exemplo para o conjunto dos trabalhadores de todo o país porque não podemos analisar somente o que conseguimos conquistar, mas sim em que cenário político lutamos.

A greve dos trabalhadores da USP não tem como inimigo apenas uma reitora e um conselho universitário arqui-reacionários. Estamos lutando contra todo um projeto educacional a nível estadual criado por um dos principais candidatos a presidente do país em 2010: o governador de São Paulo José Serra. Para ele e para o conjunto da burguesia brasileira é preciso provar que conseguirão aplicar seus planos elitistas de educação e, de conjunto, todas as medidas que ataquem os direitos do funcionalismo público nacional. Perder essa batalha na USP significa começar a disputa eleitoral do ano que vem já derrotado.

Nesse difícil cenário não pudemos contar com uma conjuntura política de grandes mobilizações e greves operárias. A isso cumpre um papel decisivo o atrelamento dos principais sindicatos e centrais sindicais ao governo Lula que impedem uma organização independente dos trabalhadores contra os ataques que já se concretizam com o advindo da crise econômica. A greve dos trabalhadores da USP passou mais de trinta dias isolada não só de outras greves em nível nacional como também isolada das demais estaduais paulistas e dos próprios estudantes e professores da USP e, mesmo assim nos mantivemos fortes e em uma dinâmica ascendente como não ocorria pelo menos nos últimos dez anos.

Avançar para o questionamento da estrutura de poder na USP

Não pudemos ir além na conquista de nossas reivindicações porque, em meio a um cenário como este, arrancar um maior reajuste salarial e reintegrar o companheiro Brandão demandaria uma ampla unificação de demais setores do funcionalismo contra os ataques de Serra e que, apesar dos nossos esforços em nos ligar a outras categorias, não foi possível avançar em uma luta conjunta. Mesmo assim, nos orgulhamos de ter travado uma grande luta em defesa de nosso sindicato e de nossos dirigentes e consideramos que esse foi apenas um episódio, uma batalha da guerra que continuaremos a travar daqui pra frente para mostrar que não estamos dispostos a pagar com mais demissões e ataques os efeitos de uma crise econômica mundial que não fomos nós, os trabalhadores, que a criamos.

A partir dessa grande lua que travamos, iremos impulsionar na USP uma grande campanha pela democratização da universidade, que questione a fundo a arcaica e reacionária estrutura de poder em que pouco mais de uma centena de professores titulares decide todos os rumos da universidade pelas costas de mais de cem mil pessoas que compõe a comunidade acadêmica. Fazemos desde já um chamado aos professores, estudantes, intelectuais e personalidades presentes no lançamento da Frente Ampla pela democratização da universidade a avançarmos concretamente nessa campanha a partir de agosto, pois as demandas e reivindicações levantadas pelos três setores só poderão se concretizar botando abaixo a estrutura de poder que existe hoje e impondo pela força de uma massiva mobilização uma nova estrutura que discuta uma nova universidade a serviço da maioria da população pobre e trabalhadora.

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