sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Desatai o Futuro nº01

Rascunho de Manifesto do movimento A Plenos Pulmões frente à crise capitalista

O capitalismo parece estar à beira do abismo e arrastar a universidade (de classe) e a intelectualidade (de classe), e já está descarregando sua crise sobre as costas dos trabalhadores e da juventude. Mais do que nunca é urgente a necessidade de organizar-se para responder aos ataques e passar à ofensiva.
Que a crise seja paga pelos capitalistas!
Desatai o futuro!
Participe e divulgue a plenária do Movimento A Plenos Pulmões! Conheça! Construa!


O capitalismo dito “neoliberal” já despejou mais de 3 trilhões dos Estados (quase 10% do PIB mundial) em salvamento dos bancos e não consegue estabilizar-se. É que estamos frente a uma crise que é muito mais do que o estouro de uma bolha imobiliária, muito mais do que uma crise de crédito, mais do que uma crise do “neoliberalismo” ou de “mais uma crise cíclica”. Estamos frente a uma crise de patamares catastróficos e históricos, que se combina com uma crise política no seio do imperialismo hegemônico norte-americano em decadência, que além de tudo está imerso em guerras cada vez mais empantanadas no Iraque e Afeganistão.
Muito se discute sobre essa crise, mas o fato incontestável é que estamos no começo do começo de uma crise econômica profunda, a pior desde 29. Vejamos um significado pouco discutido dessa comparação. A Grande Depressão deu lugar a enormes convulsões econômicas, sociais e políticas. Como expressões mais agudas, temos por um lado os processos revolucionários na França e Espanha, e por outro o nazi-fascismo. Mas tudo isso não foi suficiente para que o imperialismo norte-americano consolidasse sua hegemonia, para isso, ele foi a maior guerra da história da humanidade que matou mais de 100 milhões e destruiu países inteiros.
Se vivemos uma crise econômica de tal magnitude, combinada com a decadência do imperialismo norte-americano, é para fenômenos dessa magnitude que temos que preparar-nos a partir de agora. Se essa crise catastrófica é um grande perigo porque o capitalismo não cai se não é derrubado, e a burguesia é capaz de arrastar o conjunto da humanidade para uma barbárie ainda maior que a que vivemos, é também uma grande oportunidade para aqueles que lutam pela transformação radical dessa sociedade decadente. As crises sempre dão lugar a processos de resistência e abrem a possibilidade do novo. Não foi assim só em 29. Em crises de magnitude muito menor, como por exemplo, a última de 2000-2003, teve lugar na América Latina processos de luta que derrubaram vários governos e mais de 40 países tiveram revoltas frente ao recente aumento dos alimentos.
É por isso que dizemos com toda segurança que as mobilizações que já estão ocorrendo em países como a Bélgica, Itália, México, Colômbia e outros. Essas são as primeiras respostas dos trabalhadores, os primeiros ensaios da luta de classes que está por vir como resposta ao intento declarado dos capitalistas de descarregar a crise sobre as costas dos trabalhadores do mundo com demissões em massa, ataques aos salários, roubo do dinheiro público (da educação, saúde, etc) para salvar os capitalistas da crise que eles geraram, e isso é só o começo!
Ao contrário da propaganda do governo, a crise já chegou e os trabalhadores e a juventude já começam a pagar a conta. A desvalorização do real (uma das moedas mais golpeadas do mundo) já é um ataque direto ao poder de compra dos salários, o governo já liberou bilhões dos recursos da educação, saúde, etc, para os bancos, já foram centenas de demissões na Zona Franca de Manaus, férias coletivas vem se tornando cada vez mais comuns, já voltou à pauta a "necessidade das reformas estruturais" e a "necessidade dos cortes nos gastos públicos", etc.
A juventude será particularmente atacada, já que ocupamos os trabalhos mais precários, os que mais sofremos com o desemprego, e veremos a educação sendo ainda mais destruída. Somos nós que juntamente aos trabalhadores terceirizados e precarizados, os negros e as mulheres, os que vamos ser os primeiros a sentir a crise. Por isso, queremos ser uma corrente que desde dentro da universidade e do movimento estudantil lute por uma aliança privilegiada com esses setores que são os mais expostos aos ataques, além de ser dentro da universidade a voz dos setores mais explorados e oprimidos da sociedade, levantando dentro dela suas justas demandas.
Mas não são somente as bolsas que caem, a recessão que se expande e tantos outros fenômenos econômicos e de resistência aos ataques. As convulsões do capitalismo, ou “derretimento sistêmico” nas palavras do FMI, está dando lugar a um fenômeno ideológico em setores cada vez mais amplos dos trabalhadores e da juventude que se questionam se o capitalismo funciona. Em algumas semanas ruíram uma ampla gama de ideologias e teorias propagadas desde os anos 90 como a do "fim da história", a "mão invisível do mercado" e tantas outras. Não à toa, vem se transformando em lugar comum a comparação da derrocada de Wall Street como “a queda do muro” do capitalismo. É verdade que a perspectiva do marxismo e da revolução ainda não é adotada como saída devido à que o resultado de 70 anos de stalinismo e 30 do chamado “neoliberalismo” onde a revolução foi completamente apagada da consciência das massas em patamares nunca antes conquistados pela burguesia, o que foi combinado com um ataque em regra ao marxismo, desfigurando-o e deturpando-o, e encontrando pouca e débil resistência por parte do marxismo academicista e da esquerda sindicalista. Porém, o que também é verdade é que o marxismo que era visto como uma coisa atrasada, em poucas semanas volta a ser tema de debate em todo o mundo, o que tem uma expressão concreta nos recordes de vendas de Marx e o Capital em vários países do mundo. Se os que se reivindicam marxistas foram incapazes de dar uma resposta à realidade e tirar o marxismo do isolamento colocando-o na ofensiva, a realidade está ajudando a mostrar a sua vigência.
A universidade escancara sua decadência histórica. Não poderia ser diferente se tratando de uma universidade de classe. Mais ainda no Brasil onde a universidade é das mais elitistas e racistas do mundo, tornando particularmente aguda a separação do conhecimento nela produzido e os limites impostos pelas amarras da propriedade privada. Se a crise econômica se discute em cada fábrica ou boteco, a universidade mostra sua falência ao não deixar entrar esse debate senão pela via dos ataques. Desde os mais seguros “neoliberais” de antes, passando pelos pós-modernos mais “requintados”, até os “marxistas” embebidos de ceticismo, todos dizem não ser especialistas ou repetem o senso-comum mais conservador e anti-científico. Algumas teorias que até algumas semanas atrás eram apresentadas como as grandes novidades, mostram seu anacronismo de forma contundente. Enquanto isso, o tão atacado como anacrônico marxismo, agora parece ter dado um xeque em todas as teorias inimigas que tentaram enterrá-lo. Como agentes reprodutores da ideologia burguesa decadente, os intelectuais não poderiam estar mais perplexos ou chocados, afinal, é seu prestígio de anos que está em questão. Preferirão ruir junto com a ideologia burguesa ou traçar um caminho auto-crítica e se ligarão aos trabalhadores e suas lutas? Será o ceticismo algo tão arraigado? Não sabemos. O que é certo é que sem uma nova geração de intelectuais marxistas revolucionários, essa ruptura será muito mais difícil e tortuosa. A juventude não carrega nas suas costas o peso das derrotas do passado e dos rios de tinta dos livros, artigos e pesquisas que parecem ter sido escritos em vão.
Quando a ideologia propagada nas recentes comemorações dos 40 anos do maio de 68 não era reacionária ou de uma mera “revolução cultural e sexual”, era, no melhor dos casos, envolta por um espírito saudosista no tom de “que bela a rebeldia daquela juventude, bons tempos aqueles”. Nós buscamos apontar outra perspectiva. Para nós, 68 não é uma lembrança do passado, mas um exemplo vivo cujas lições ganham maior energia frente ao capitalismo em ruínas. Nada mais atual do que “do questionamento da universidade de classes ao questionamento da sociedade de classes”, nada mais vigente do que a necessidade do movimento estudantil ser dentro da universidade a voz da maioria da sociedade, dos trabalhadores e do povo pobre. A necessidade de uma aliança estratégica entre estudantes e trabalhadores, que na universidade tanto nos disseram que não existe, mostrará sua necessidade e vitalidade. Nos juntemos aos trabalhadores para que a crise seja paga pelos capitalistas! Aliança operário-estudantil para barrar os ataques e passar à ofensiva! Viva 68 hoje!
É necessário abrir uma nova etapa no movimento estudantil brasileiro. As lutas desde o ano passado não foram nada mais do que os primeiros espasmos de um gigante adormecido, ainda carente de experiência, programa e estratégia capaz de levar às lutas a vitórias, nem no sentido corporativo, e muito menos para a sociedade. Ao contrário, a burocracia estudantil, com sua política, isolou ainda mais o movimento estudantil frente à sociedade, deixando nas mãos do governo a bandeira da “democratização da universidade” ao não levantar nenhum programa pela positiva que o desmascarasse. Mas as derrotas podem ser transformadas em fortalezas se são um caldo de cultivo para tirar lições profundas que preparem embates superiores. Enterremos o movimento estudantil dos 90 que ainda vive no século XXI por responsabilidade da burocracia estudantil que teme o novo! Pela auto-organização e por entidades militantes que atropelem a burocracia estudantil!
Nossa geração foi educada no individualismo mais tacanho. Uma grande parcela dos estudantes entraram e seguem entrando nas universidade com uma ilusão de ascensão social. Até mesmo aqueles estudantes que se reivindicam marxistas, se enfrentando corajosamente com toda a campanha contrária, em grande parte se adaptam à perspectiva academicista não estudando-o desde o prisma de intelectual orgânico da classe trabalhadora e vendo o marxismo como guia para a ação revolucionária, mas como uma “teoria a mais” e terminam se adaptando ao regime universitário.
A politização cada vez mais ampla na sociedade é só o começo da nova etapa internacional e nacional que se abre. É chegado o momento de superar o individualismo e se organizar para ter a satisfação de carregar um pedaço da história! Chamamos todos aqueles que simpatizam com as nossas idéias, muitos que já atuam conjuntamente conosco no movimento estudantil, ou que concordam com nossas idéias, mas ainda não decidiram se organizar ou não estão convencidos plenamente dessa necessidade, a participarem da plenária e construir junto conosco uma alternativa para a juventude e os trabalhadores.

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