quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nota do CACH em solidariedade ao povo haitiano

Campanha em solidariedade ao povo hatiano
Nesta última terça-feira, pela noite, uma grande catástrofe sobreveio no Haiti por ocasião de um terremoto, como veicularam todos os meios midiáticos. A tragédia natural numa região como Porto Príncipe, perpassando os furacões que o atingiram em 2004, parece ser a apoteose e a culminação do que resta dos destroços sociais da população haitiana, assediada e brutalizada pela persistente “missão de paz”, i.e. intervenção militar, das tropas da ONU instaladas no Haiti desde a remoção do ex-presidente Jean Baptiste Aristide em 2004.


Praticamente todas as estradas e ruas estão bloqueadas com detritos e escombros das construções. Não há comida nem água potável disponível com facilidade, enquanto as franzinas forças policiais haitianas impedem pela violência que a população se apodere dos artigos de consumo existentes em lojas, supermercados e mercearias da capital. Disparos frequentes são ouvidos desde a noite desta última quarta-feira; a eletricidade é quase inexistente, e se concentra em hotéis e residências mais afastadas do epicentro do terremoto. Nos hospitais, vivos enfermos se misturam a corpos já sem vida pelos corredores. Trabalhadores dentro de várias camionetes de polícia – os primeiros veículos policiais vistos nas ruas da capital desde o terremoto – ocupavam-se recolhendo os corpos.

O presidente haitiano René Préval encontra-se, desde o ocorrido, afastado do centro da cidade, isolando-se no aeroporto. Seu ponto de contato com as massas haitianas desesperadas e sem moradia – depois de muito silêncio e completo desligamento com as condições do povo - se dá através de caminhões de som, chamando pela calma, encorajando a não se tomar atitudes extremas e de que é necessária a “mais prudente colaboração”. Não se dispõe a aparecer no epicentro dos eventos trágicos da capital para fornecer a mais elementar confiança aos feridos e macerados. Torna seus os desejos e comandos da ONU e só pode querer aquilo que lhe é ordenado.

O presidente dos EUA Barack Obama disse que esse é “um daqueles momentos que necessitam da liderança norte-americana”. E já mostrou a que liderança se refere. Os necessários 500 milhões de dólares prometidos são acompanhados pelo envio de porta-aviões, caças a jato e mais 2000 fuzileiros navais para “assegurar a ordem pública”. Aviões cargueiros trarão tropas canadenses e francesas de reconhecimento do terreno nos próximos dias (as mesmas equipes militares que acorreram ao Haiti em 2004 depois da retirada do ex-presidente) para, além da ajuda humanitária à qual estamos em completo acordo, mostrar aos haitianos, segundo a Secretaria de Estado Hillary Clinton, “onde podem ir, e que tipo de ajuda podem esperar”.

Concordamos com toda a ajuda em suprimentos alimentares, fornecimento de água potável e demais auxílios financeiros, e há que ser urgente e prioritário agora. Mas isso não pode ser acompanhado do envio de ainda mais contingentes militares de contenção do povo haitiano, que com a ocupação policialesca do Haiti não pode resolver nenhum problema social decisivo, e a prova real desse fato é a própria MINUSTAH (nome da “missão de paz” da ONU em vigência no Haiti, renovada por mais um ano no fim de 2009, capitaneada pelo Brasil): não deve desaparecer de nossa vista que muitos aspectos de destruição e insalubridade que parecem ter sido trazidos pelo terremoto já existiam no local muito antes desse, e permaneceram muito depois dos milhares de militares enviados ao país.

O destino do Haiti deve estar inescapavelmente nas mãos do povo haitiano, sem que se precise converter milhões de trabalhadores em mendigos sustentados às expensas da caridade estatal e privada. Nós do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp repudiamos a presença da invasão militar da MINUSTAH e reivindicamos a sua retirada imediata e incondicional do território haitiano; da mesma maneira, repudiamos a utilização desse momento de extrema necessidade da população da capital como pretexto para inundação do país com maior presença das Forças Armadas internacionais. Chamamos a vinculação à campanha democrática de solidariedade lançada pela Conlutas em defesa da auto-determinação da população do país caribenho contra a afluência repressora dos diversos imperialismos, e convocamos todos os sindicatos, centrais sindicais, organizações trabalhadoras e estudantis para a construção de ações comuns (atos, campanhas finaceiras...) em solidariedade ativa ao oprimido povo haitiano, a denúncia política da invasão opressora em pleno vigor no mesmo momento em que escrevemos e chamando o não pagamento da dívida externa do Haiti, hoje de quase 2 bilhões de dólares, para que esta soma seja totalmente convertida na resconstrução daquele país.

Centro Acadêmico de Ciências Humanas (UNICAMP): Gestão “Terra em Transe”

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