quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ERA UMA VEZ UMA UNIVERSIDADE LAICA...



Por Felipe Campos- Estudante de Ciências Sociais da PUC-SP, militante da LER-QI e do Movimento A plenos Pulmões.
(publicado no PUC VIVA nº717- http://www.apropucsp.org.br/apropuc/)

No artigo publicado pelo Profº Edson Passetti no Fala comunidade na semana retrasada existe uma confusão consciente dos fatos. Prerrogativa necessária para aqueles que defendem o atual modelo excludente de universidade, assim como a sua estrutura de poder na PUC-SP, justifica-la com uma fala “contestadora e libertária”.

É incontestável a história e tradição de luta democrática que a PUC-SP possui, não só da sua estrutura interna, mas principalmente do seu papel na luta contra a ditadura, onde estudantes, funcionários e professores tiveram um protagonismo fundamental. Porém, na época em que vivemos e especificamente o período que estamos na PUC-SP o que se vê é uma espécie de extermínio ideológico desse passado. Isso não significa que a memória esta sendo apagada, pelo contrário essa memória é utilizada conscientemente por aqueles que a controlam para camuflar hoje uma PUC-SP controlada pela Fundação São Paulo.

No meio de vários fatos concretos que ele aponta como a maximização das horas contratuais e o aumento da repressão e da vigilância interna, o papel da FUNDASP é uma questão que Passetti faz questão de não mencionar. Utiliza pronomes como se de fato tivéssemos algo sob controle nessa Universidade atual. Não retrata também a incapacidade de todos esses conselhos e da sua estrutura anti-democrática (representação de estudantes e funcionários é ínfima) de colocar limites para a intervenção da Fundação São Paulo em 2006 e 2007, auge da crise, ao invés disso aceitou junto com ela religiosamente o pagamento de juros e dívidas aos Bancos. A falência da PUC-SP democrática se aprofundou, a dívida que era de 107 milhões, atualmente é de 300 milhões de reais. E dependência financeira é igual dependência política, que por sua vez numa universidade pressupõe dependência de pensamento. Não a toa, hoje se vota no Consad uma representação clerical de 1/4 no Comitê de Ética e Pesquisa que avalia nossas pesquisas.

Mais para frente em seu artigo Passetti indaga sobre uma coisa que o incomoda...”o desaparecimento crescente e cada vez maior de contingentes pauperizados na PUC-SP, uma certa acomodação dos estudantes contestadores...”. Pois bem, retomemos o ano de 2006 e 2007 e identifiquemos quem foram os mais prejudicados pelo acordo entre conselhos da universidade, Fundasp e bancos. Facilmente encontramos a resposta com as demissões em massas que ocorreram entre professores e funcionários, estudantes perseguidos e intimados pela justiça, elitização e perseguição aos bolsistas e inadimplentes.

Os “estudantes acomodados” que Passetti diz não sofreram sentados em sala de aula todos esses ataques. Em 2006 fizeram greve com assembleias que lotavam Tuca enquanto Passetti ficava em salas sem cadeiras e vazias exercendo sua “liberdade” de defender o regime universitário. Em 2007 ocuparam a reitoria porque sabiam que o redesenho institucional era a ferramenta para a Igreja reformar o estatuo da Universidade e se legalizar no poder. Foram expulsos pela polícia que facilmente voltou pra PUC-SP, depois de 30 anos, com apenas um oficio da FUNDASP e um telefonema de Maura, antiga reitora. E o NU-SOL? Ah...O Nu-SOL não ficou do lado da polícia, mas também não ficou do lado dos estudantes, preferiu ver a história do lado de fora propagando falas libertárias e vazias.

Os estudantes não são acomodados, simplesmente tem até hoje seus espaços sendo coibidos (como o estudante do CACS que sofreu intimação da Polícia) e sofrem ataques constante por qualquer tipo de manifestação no campus. Em relação aos funcionários o problema ainda é mais profundo, as demissões devastaram a categoria, a terceirização e o trabalho semi-escravo se expandiu na Universidade e o medo de represálias é constante. O conformismo que Passetti fala é infundado dentro de uma categoria que antes sempre era bastante radicalizada e lutava por seus direitos questionando a direção da universidade.

E chegamos ao Grand Finale “... existência da PUC-SP como um espaço de invenção de liberdades.”. E por isso... “Permaneceremos fortes aprendendo a lidar com as mudanças sem perder de vista a nossa tradição de inventores de vida universitária, quando deixarmos de ser tão obsessivos com segurança, desviarmos os olhos das dissimulações estudantis, do conformismo de funcionários e soubermos estabelecer uma firme e forte relação com o CONSAD, porque o CONSUN e demais conselhos são fortes e firmes...”. Realmente, rir para não chorar, para um professor que em suas aulas fala contra o Estado e contra a Igreja. Passetti quer que a comunidade confie nesses mesmos conselhos que a atacaram no último período e agora são apenas instancias consultivas, e mais, quer que nós confiemos no CONSAD e nos padres da Fundação São Paulo com a desculpa de continuar inventando liberdades? As liberdades não se inventam se conquistam! Foi assim nas décadas anteriores na Ditadura Militar através de muito sangue derramado, sofrimento, mortes e torturas, e continuará sendo...

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