sábado, 24 de abril de 2010

UNICAMP: Estudantes fazem ato contra terceirização e exigem posicionamento da direção




Nesta terça-feira, 20 de abril, realizou-se na UNICAMP uma manifestação no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) sobre o problema que vem acometendo a universidade de conjunto, mas com questões latentes e concretas no IFCH: a terceirização.
O avanço da terceirização vem a passos largos nas diversas universidades públicas, surfando especialmente na onda de neoliberalismo da década de 1990 e o começo de 2000.
No caso da UNICAMP, fundou-se em 1984 a FUNCAMP, uma fundação de capital misto que contrata funcionários em empresas terceirizadas: no IFCH percebemos diversos problemas que vem acarretando essa terceirização.
A novidade é que o movimento estudantil tem reagido, ainda embrionariamente, a essa privatização transvestida na universidade. No caso da UNICAMP, no IFCH, os estudantes criaram um Grupo de Trabalho para discutir essa questão, pensando política e elaborando proposta, o que gerou um importante ato, impulsionado também pelo CACH, contra a terceirização na universidade. Reproduzimos parte do conteúdo da carta distribuída no ato nesta terça-feira:

“Não podemos aceitar nenhuma demissão de qualquer trabalhador, e isso já é o suficiente para que o IFCH se posicione politicamente contra este tipo de contratos precários e contra a terceirização. Mas temos também visto outros inúmeros casos trágicos em nosso instituto: ano passado grande parte do acervo de nossa biblioteca quase se perdeu em águas devido à precária reforma feita por uma empresa terceirizada, bem como os inúmeros problemas estruturais verificados no novo prédio do AEL (Arquivo Edgard Lauenroth), que inclusive comprometem o acervo do arquivo e a eterna construção do prédio anexo da biblioteca, devido às consecutivas falências das empresas. Estes casos são também um reflexo da autuação de construtoras terceirizadas.
Porém, os danos causados pela terceirização não comprometem somente a qualidade das estruturas físicas da universidade, mas também apresentam um profundo descaso com os trabalhadores dessas empresas. Um caso recente, também ocorrido aqui no IFCH, ilustra bem esse descaso: quando a empresa responsável pela reforma da biblioteca faliu e os trabalhadores ficaram sem receber seus salários, e para garantir seu recebimento não permitiram que os caminhões com os maquinários de posse da empresa fossem retirados da obra; a justiça e a polícia, ao invés de prender os donos da empresa por esse explícito furto, abriram um boletim de ocorrência contra os trabalhadores.
Claramente com a terceirização todos os trabalhadores perdem. Conforme avança o processo de terceirização diminuem-se os trabalhadores efetivos, arrancam-se seus direitos, impõem-lhes uma hierarquia entre os funcionários, (dividindo-os, portanto). Tudo isso faz com que a precarização e a intensificação do ritmo de trabalho atinja todos os funcionários. Hoje, por exemplo, Beneti trabalha sozinho com tarefas que deveriam ser feita por muitos, isso porque a universidade não garante a continuação do número dos quadros de funcionários, nem dos efetivos e muito menos dos terceirizados.
Também não podemos falar de precarização do trabalho e terceirização sem considerar a questão de gênero, uma vez que são as mulheres que estão nos cargos mais explorados. Elas, na grande maioria, são terceirizadas ou ocupam postos temporários, que mesmo fazendo o mesmo trabalho que os homens, ganham menos, e, além disso, sofrem inúmeras outras formas de violência, como assédio sexual ou moral no ambiente de trabalho, falta de creches para seus filhos, e ainda por cima são ameaçadas de demissão quando se engravidam. E ainda precisam cuidar da casa e dos filhos, tendo assim uma dupla jornada de trabalho. Desse modo, as mulheres são, alem de oprimidas pelo machismo da sociedade, também superexploradas no trabalho.”


O conteúdo de parte da carta que reproduzimos acima expressa a importância deste ato ocorrido que, além de mostrar uma novidade no movimento estudantil, no sentido de travar batalhas contra a precarização, mas também em solidariedade dos terceirizados e pela unidade dos trabalhadores (reivindicando a efetivação dos terceirizados), vem buscando saídas criativas para levar de modo consequente essas reivindicações, estando marcado para a próxima quinta-feira, as 17:30, um Grupo de Trabalho sobre a temática da terceirização, com indicativo de atos, seminários sobre o tema, além de uma possível performance pensada por artistas para denunciar essa problemática.
Nesse ato, com todos vestidos de azul e com vassouras, representando os funcionários da limpeza que tanto são explorados no IFCH, fizemos uma exigência à Diretora do instituto, Nádia Farage, para que se posicionasse publicamente sobre os problemas ocorridos no Instituto em virtude da terceirização. Houve leitura da carta feita pelos estudantes à Diretoria e uma discussão com ela, que se comprometeu a ler a carta e emitir um posicionamento. Ainda que não acreditamos que a burocracia acadêmica possa iniciar uma luta consequente contra o capital privado e a terceirização na universidade, achamos importante essa exigência à direção, para que os estudantes façam experiência com essa burocracia e vejam a necessidade de se mobilizar ainda mais para conquistar politicamente, e não por vias meramente institucionais, suas reivindicações.
Temos orgulho de fazer parte de um centro acadêmico militante, que luta pelas reivindicações dos trabalhadores e quer estar ao lado deles. Achamos que o CACH vem dando um exemplo que deveria ser seguido em impulsionar a discussão sobre o problema da terceirização e chamar a atenção para isso na realidade do IFCH, já que aqui mesmo na teoria rios de tinta já foram gastos para escrever sobre. Infelizmente temos que aqui ressaltar a ausência absoluta de qualquer militante do PSTU neste ato votado na reunião do CACH, o qual este partido também faz parte; o que mostra que o combate a terceirização, a defesa dos trabalhadores terceirizados e a unidade das fileiras operárias não está na ordem do dia para este partido.
Nós, do Movimento a Plenos Pulmões, estaremos em cada um desses atos e espaços, lutando contra a tereceirização e lutando por um programa que lute contra a privatização da universidade, para que construamos uma universidade realmente pública, aberta aos filhos dos trabalhadores. Achamos necessário se ligar a todos os setores de trabalhadores da universidade e lutar pelos seus direitos, numa aliança operário-estudantil que traga vitórias aos estudantes.

Fora empresas terceirizadas da universidade!
Fora capital privado e as fundações!
Efetivação imediata de todos os trabalhadores terceirizados que já trabalham na universidade!
Unidade das fileiras operárias!
Pela aliança operário-estudantil!

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