sexta-feira, 9 de abril de 2010

DESATAI O FUTURO - RJ

Entrar em uma universidade pública é o sonho de muitos estudantes e mais ainda de suas famílias. Nos últimos anos houve uma expansão de cursos noturnos nas universidades federais e um aumento em suas vagas. Estas mudanças não alteram o traço fundamental do sistema universitário brasileiro: ele é elitista e racista. O vestibular é sua marca fundamental, sua brutal separação entre a grande massa de filhos de trabalhadores proscritos pelo “mérito” da universidade e uma pequena minoria que consegue entrar nela. As condições para permanência são ainda mais precárias uma vez que pagar transporte, Xerox, comida, moradia não sai barato e todas estas condições de permanência não são oferecidas concomitantemente por todas universidades, e menos ainda são oferecidas para todos que precisam. Em resumo esta expansão recente sob o governo Lula, sem um acompanhamento em alojamentos, bandejões, contratações de funcionários e professores significa uma expansão precária, com terceirização e exploração. Nós, do Movimento A Plenos Pulmões somos favoráveis a mais completa expansão da universidade. Defendemos o fim do vestibular pelo livre ingresso de todos estudantes que desejarem estudar na universidade e utilizar a estrutura já existentes nas privadas, não para o lucro de seus donos, mas para que a educação seja um direito, estatizando elas. Por este motivo nos opomos a este plano de expansão precária, de maior terceirização e exploração, de transformação dos currículos para melhor atender a lucros de empresários diretamente ou formando mão-de-obra mais barata (“especializada”).
Com este jornal queremos receber os novos estudantes da universidade mas sobretudo chamar a lutar junto a nós contra o elitismo do sistema universitário: de seu acesso, permanência, condições de trabalho e contra sua defesa ideológica de uma sociedade marcada pela exploração e opressão. Parte desta luta esta localizada em entender as demagogias dos distintos setores burgueses, começando por Lula que detém grande popularidade entre os trabalhadores e estudantes, e apoiar cada luta dos trabalhadores, por pontuais que sejam, e apostar em formar as forças dos estudantes para retomar bandeiras levantas no Maio Francês de 1968: do questionamento da universidade de classes ao questionamento da sociedade de classes!
Frente aos grandes desafios que temos, e as grandes questões que a realidade nos exige respostas, se faz necessário rompermos com o rotineirismo e o aparatismo das entidades e instrumentos de lutas estudantis. O DCE e o CAs limitam-se a se esconderem no argumento do atraso e na despolitização dos estudantes para não assumirem suas responsabilidades e se adaptarem a própria passividade. Não vimos ano passado os CAs e o DCE se proporem a politizar a discussão sobre os ataques do Governo a educação pública, muito menos se propor a preparar e organizar os estudantes desde as salas de aula para colocar de pé uma luta pela real democratização do ensino contra a estrutura acadêmica atual, pelo contrário, quase não vemos seus membros a intervir na base estudantil. Os CAs e DCE calaram-se juntamente com a intelectualidade acadêmica sobre o golpe e as atrocidades em Honduras, e pouco ou nada fizeram para inundar a universidade e os estudantes com essa necessária discussão, em nada se propondo a se fazer as denuncias e a organizar uma solidariedade internacional. Também foram pouco sensíveis a realidade a sua volta, e quando os trabalhadores do SEPE entraram em luta, mantiveram sua passiva rotina, e nada fizeram para informar, politizar e mobilizar os estudantes em solidariedade a essa importante luta. Expressão clara da falta de relação real com os estudantes, e para que o conjunto dos estudantes tomem a luta contra a estrutura universitária e se alie aos trabalhadores é que desde a metade do ano não houve sequer uma assembléia geral da UFRJ.
Infelizmente exemplos não faltam para justificar a adaptação das entidades estudantis ao pacifismo, mesmo frente a questões cadentes e importantes da realidade. Para forjar um movimento estudantil realmente novo e não apenas para os discursos, é necessário transformar as entidades estudantis em entidades com caráter militante, que se proponham dedicar esforços para politizar e organizar os estudantes preparando suas lutas levantando um programa de fato combativo que proponha a transformar essa estrutura universitária elitista, racista e antidemocrática que temos. Desde as salas de aulas realizar experiências juntamente com os estudantes, extraindo juntamente com esses as lições dos processos, assim como sabendo lutar contra a corrente em alguns momentos.
É frente a essas tarefas que convidamos a todos os estudantes a conhecer o Movimento A Plenos Pulmões, nas discussões e aprendizados vivos, e na atuação decidida nos processos de luta, e desde ai contribuir para a formação de uma nova tradição do movimento estudantil.

Governo Lula: nunca antes na história do país os empresários lucraram tanto...

Ao contrário do que disse Lula e repetiram vários analistas, o Brasil não passou incólume ao primeiro capítulo da crise capitalista atual. De setembro a dezembro de 2008 ocorreram mais de 600 mil demissões, muitas regiões ainda não têm seu nível de produção recuperado e menos ainda de emprego. A resposta dada à crise pelos capitalistas foi um aumento da tendência que vinha se expressando no país: aumento da exploração dos trabalhadores. Hoje as fábricas e empresas vão se recuperando e contratando, mas os empregos são mais precários pagam menos que pagavam antes, tem jornadas mais extensas, há mais terceirização. Os produtos mantiveram ou subiram de preço mas a participação dos salários caiu – ou seja os lucros aumentaram.
Esta tendência ocorreu incentivada por Lula e seu governo que rapidamente resgataram as empresas. Mais de R$ 200 bilhões foram entregues às empresas enquanto estas demitiam, enquanto as multinacionais estrangeiras sangravam bilhões de reais do Brasil para enviar a suas matrizes. O dinheiro, arrancado dos impostos dos trabalhadores, foi usado para salvar os negócios capitalistas e não para a saúde, a educação. Esta atuação do governo Lula na crise aumenta o que já vinha se mostrando, sob FHC as 500 maiores empresas do país haviam lucrado US$ 73 bilhões de 1997 a 2002. Já sob Lula o mesmo número de empresas lucrou US$ 255 bilhões de 2003 a 2008. Um aumento de 249%! Já o salário mínimo aumentou somente 112,5% (de R$ 240 para R$ 510)! Este dado e o pequeno aumento acima da inflação que tiveram as principais categorias ilustram como os aumentos que os trabalhadores tem recebido são migalhas frente ao aumento da parte do leão que fica com a burguesia.
Se durante um grande crescimento econômico os aumentos nominais dos salários dos trabalhadores significaram uma perda relativa aos lucros, o que esperar em momentos de maior crise? A capacidade de consumo será afetada e esta base da popularidade e propaganda de Lula, a “nova classe média” será profundamente atacada. Todas as famílias têm experimentado um aumento do consumo, mas este consumo em geral tem sido em base de empréstimos, crediários. Isto se dá em toda a economia nacional, o consumo cresce mais que a economia, o endividamento mais do que os salários. Este é o cenário traçado sob Lula, enquanto aumentam contradições na economia internacional com ameaças de falência de vários Estados europeus, e a dívida bruta brasileira vai aumentando com o tesouro imprimindo moeda e dívidas para entregar ao BNDES para que este empreste aos capitalistas...
No cenário internacional muito se diz sobre o Brasil atuar como um líder dos “países do sul”. Mas no Haiti é sob seu comando que é garantida há quase 6 anos uma sangrenta ocupação que impede a organização dos trabalhadores e reprime manifestações, inclusive contra fome. Às mulheres muita demagogia em torno das discussões sobre o direito ao aborto ao mesmo tempo que são assinados acordos com o Vaticano para que este opine sobre as leis brasileiras e tenha privilégios no sistema de ensino, milhares de mulheres são processadas por abortos clandestinos e sob governos do PT, como o de Ana Júlia Carepa do Pará, meninas são colocadas em cadeias de homens para serem sistematicamente estupradas. No campo as promessas de reforma agrária não se efetuaram e o que prospera são os grandes latifundiários e a impunidade dos assassinos de sem-terra. Nas universidades públicas uma expansão (REUNI) com aumento da precarização do ensino e do trabalho, incentivando alterações nos currículos para torná-los mais vinculados ao mercado, e bilhões de reais para os tubarões das privadas (PROUNI) lucrarem enquanto oferecem algumas poucas vagas. Ocorre uma expansão que não afeta o vestibular, seja com ENEM ou outras provas, o funil que faz que pouquíssimos possam entrar na universidade pública e a maioria dos filhos dos trabalhadores seja forçada a pagar fortunas para estudar nas privadas.
Este ano, ano eleitoral, onde velhos inimigos dos trabalhadores (PSDB, DEM, PMDB) se reciclam de defensores da nação, e Lula e Dilma utilizam-se desta demagogia, cabe aos trabalhadores se expressar de forma independente dos distintos agrupamentos burgueses, para lutar pelos seus interesses contra os patrões e seus governos que reservam aos trabalhadores somente mais-trabalho, mais dívidas, e mais policiais para impedir sua organização e lhe tirar seu sono e filhos em morros e favelas. Nós do Movimento A Plenos Pulmões chamamos todos que se colocam nesta perspectiva para, desde agora, atuarmos juntos nas lutas dos trabalhadores para que os capitalistas e não os trabalhadores paguem pela crise!

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