domingo, 10 de agosto de 2008

Lançamento dos Filmes dos Grupos Medvedkine



No final dos anos 60, Chris Marker promoveu e organizou a formação dos Grupos Medvedkine, em Sochaux e Besancon, na França.

O nome dos grupos foi escolhido em homenagem ao cineasta soviético Alexander Medvedkine, que no contexto da revolução de outubro impulsionou o “CineTrem” para percorrer o amplo território soviético retratando a vida dos operários e camponeses, com quem elaborava conjuntamente cada filme.

Retomando essa experiência, os Grupos Medvedkine, buscaram retratar a vida dos operários franceses no contexto do ascenso operário e estudantil de 68. Os grupos eram formados por jovens cineastas e operários de distintas fábricas. Seus filmes se opuseram a qualquer valor mercantil, procuraram canais alternativos de difusão e buscavam antes de tudo gerar um debate, estabelecer discussões e diálogos com o público. Seus documentários permitiram um olhar ao mundo operário tão ocultado pela maior parte do cinema.

A presente co-edição Iskra | Contraimagem tem o objetivo de difundir estes valiosos documentos históricos na América Latina e demais países de língua portuguesa e hispânica. A seleção de documentários é um aporte imagético a este importante capítulo da história da luta de classes. A produção dos grupos resgata ainda uma experiência importante de realização cinematográfica, militante e coletiva.

Há 40 anos do Maio Francês muitas homenagens e reivindicações do período se ocupam em ocultar o conteúdo revolucionário e a destacada participação operária. Os documentários dos Grupos Medvedkine nos aproximam de uma forma profunda dos principais protagonistas da história.



OS OPERÁRIOS TAMBÉM

(“Les ouvriers aussi”)

França / 2007 (35 min)

Uma olhada ao passado conduzida por Bruno Muel, cineasta da ISKRA e membro do Grupo Medvedkine em 1968, e por Xavier Vigna, historiador que recentemente lançou um livro sobre a insubordinação operária francesa nos anos 1960. Este curta-metragem destaca o protagonismo dos trabalhadores com valioso material de arquivo e fragmentos de filmes da época. Será exibido na abertura de cada sessão.

ATÉ LOGO, ESPERO

(“A bientôt j´espère”)

Chris Marker / Mario Marret, 1967 / França. (44 min)

O documentário retrata de maneira direta a greve ocorrida na fábrica têxtil de Rhodiaceta, na localidade de Besançon, em março de 1967. Acontecia ali a primeira ocupação de fábrica pelos operários desde 1936. Chris Marker foi chamado à Besançon para registrar o desamparo, o isolamento, mas também a audácia dos operários da Rhodia que reivindicavam um trabalho mais humano, mas também um direito à cultura. É o antecedente mais importante das produções dos coletivos cinematográficos que se expandiram ao calor dos sucessos de maio de 1968.

SOCHAUX, 11 DE JUNHO DE 1968

(“Souchaux, 11 juin 1968”)

Coletivo de cineastas e trabalhadores de Souchaux, 1970 / França (20 min)

Um filme destinado a relembrar a morte dos operários Beylot e Blanchet, assassinados pela brigada da polícia enviada pelos patrões da fábrica Peugeot em 11 de junho de 68. Depois de 22 dias de greve a polícia ocupa pela força a fábrica, ferindo 150 e matando 2. A repressão foi a forma utilizada por De Gaulle e a burguesia para frear o maior ascenso operário já vista na França.

OS OPERÁRIOS TAMBÉM

(“Les ouvriers aussi”)

França / 2007 (35 min)

Uma olhada ao passado conduzida por Bruno Muel, cineasta da ISKRA e membro do Grupo Medvedkine em 1968, e por Xavier Vigna, historiador que recentemente lançou um livro sobre a insubordinação operária francesa nos anos 1960. Este curta-metragem destaca o protagonismo dos trabalhadores com valioso material de arquivo e fragmentos de filmes da época. Será exibido na abertura de cada sessão.

CLASSE DE LUTA

(“Classe de lutte”)

Grupo Medvedkine de Besançon, 1968 / França (39 min)

Relata a criação de uma seção sindical da CGT na fábrica de relógios Yema em 1968. A protagonista deste feito é Suzanne Zedet, operária que aparece nas imagens de “Espero que esteja pronto”, ocultada e timidamente reservada por seu marido. Ela mantém o seu corpo discreto, quase muda ainda quando o desejo de falar aflora, retido todavia por sua timidez, o peso das tarefas domésticas e a dificuldade de conciliação de uma vida melhor e de mãe com as exigências da militância política. Em dezembro de 1967, Suzanne se cala. Em Classe de Luta ela tomou a palavra e, as razões que lhe impediam falar, se bem que não desapareceram totalmente, parecem resolvidas na ação.

COM O SANGUE DOS OUTROS

(“Avec le sang des autres”)

Grupo Medvedkine de Sochaux, Bruno Muel, 1974 / França (56 min)

Uma descida ao inferno. O trabalho na linha de montagem da Peugeot. Som direto e imagem simples, ensurdecedora imagem. Isso é o essencial do império Peugeot: a exploração em excesso do trabalho humano. E fora da fábrica, a exploração continua. Grandes armazéns, supermercados, distrações, férias, alojamentos, a própria cidade, tudo ao horizonte é Peugeot. A violência é diretamente percebida pelo espectador, que rapidamente acha insuportáveis as seqüências filmadas ao interior da fábrica. Repetidas, elas indicam a natureza mesmo do trabalho (sempre os mesmos movimentos, sempre o mesmo estado de fabricação), cinematograficament e longas, elas são a tradução do tempo real.

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