terça-feira, 5 de agosto de 2008

Balanço ENECS 2008

ENCONTRO NACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS 2008
Pouca discussão, nenhum encaminhamento
Por Tati - Unicamp
Entre os dias 20 e 25 de julho se realizou na UFBA, em Salvador, o Encontro Nacional dos Estudantes de Ciências Sociais com o tema: “As Ciências Sociais pensando o mundo: os conflitos da diversidade e as incertezas contemporâneas” . Com cerca de 1500 estudantes de todo o Brasil inscritos, estava colocada uma importante oportunidade de discutir e tirar um programa frente aos brutais ataques que as ciências sociais de conjunto vêm enfrentando, como o fechamento dos cursos da FAFIL, na Fundação Santo André; ou as reformas curriculares que vêm flexibilizando o currículo, como é o atual caso da Unicamp.
Desde 2004, quando foi decretado o enterro da FEMECS (Federação do Movimento Estudantil de Ciências Sociais) por seu descolamento das universidades, o ME de C. Sociais sofre de uma desarticulação que vem comprometendo seriamente as possibilidades de construção de uma resistência unificada aos ataques que este curso vem sofrendo. Findado este ENECS, continuamos sem uma articulação e um programa.
Dado o enorme número de inscritos, a reduzida Comissão Organizadora enfrentou diversos problemas para a efetivação do Encontro, tanto nas questões estruturais (alimentação, alojamentos) quanto nas questões políticas (GDs esvaziados e inexistência de um regimento para o encontro). Além disso, a programação em si teve um caráter muito pouco classista, sem um debate sequer para a discussão sobre a serviço de quem está o conhecimento que produzimos.
Para além destes limites, ainda sim seria possível através dos grupos de discussões pautarmos as principais questões que hoje permeiam as C. Sociais e o ME de conjunto: como a imensa repressão que assombra diversas universidades, um balanço sobre as lutas estudantis do ano passado e deste, as principais lutas operárias verificadas neste último período, os ataques aos currículos, etc. No entanto, PSTU e PSOL, que hegemonizaram os esvaziados GDs, se limitaram, respectivamente, à defesa do calendário de luta aprovado no ENE e à proposta de construção de uma executiva nacional sem nenhum debate na base.
Enxergamos que um dos principais papéis que pode ser cumprido pelos estudantes de C. Sociais é justamente o de um encarniçado embate ideológico na academia em defesa do marxismo e dos trabalhadores. Foi nesse sentido que apresentamos nossas Teses sobre o Ascenso operário na década de 1970/80, as quais acreditamos serem um importante aporte ao estudo da classe operária brasileira e à critica da historiografia petista.
Enquanto o PSTU seguia proclamando a luta (fracassada) contra o REUNI como principal bandeira a ser levada pelo ME, o PSOL seguia com sua política de votar mais uma estrutura vazia de conteúdo e aparelhada. Nossa posição a esse respeito foi a de construir uma forte discussão na base dos estudantes de ciências sociais para que então, pudéssemos ter um acumulo para votar uma instância nacional; nesse marco, defendemos junto à Além do Mito (Alagoas) e à Ação Direta Estudantil (Niterói) a construção de um GT com delegados eleitos em assembléias de base que visasse construir um congresso também nesses moldes a fim de fortalecer a articulação entre as universidades e em combate a esse tipo de ENECS que não passa de um encontro festivo e turístico.
Frente à relativa adesão a esta proposta, PSTU e PSOL se apressaram em fazer um acordo unificando suas propostas em uma só: a construção de um Conselho Nacional dos Estudantes de Ciências Sociais (CONECS), a partir de entidades; que foi aprovado. Sabemos que esse tipo de organização não só não significa uma organização realmente pela base, como não é capaz de acumular nenhuma discussão mais profunda entre os estudantes.
Ainda que relativamente maior que os GDs, a plenária final não contou com mais de duzentas pessoas. A proposta da comissão organizadora (referendada nos GDs e com a qual concordamos) foi de que as deliberações fossem tiradas nos próprios GDs, a fim de evitar a famosa tática da “boiada” (na qual simplesmente “surgem” militantes na plenária, devidamente equipados com seus crachás, mas sem ter participado de nenhuma discussão), bastante usada pela UJS nos congressos da UNE. Considerando que o número de pessoas que participaram dos GDs foi no máximo de 120 pessoas, podemos dizer que cerca de 80 ali apareciam pela primeira vez.
A primeira proposta que foi encaminhada à votação foi acerca do caráter da plenária: deliberativa ou não. Nesse momento, sem microfone e acústica adequada, aos berros se aprovou que a plenária seria, de fato, deliberativa; contraditoriamente, o mesmo grupo que defendeu a proposta vencedora se retirou da plenária alegando um burocratismo da mesa que tornava impossível continuar. De forma ainda mais contraditória, esse setor foi capitaneado justamente por quem durante todo o Encontro defendeu que os GDs deveriam ser deliberativos, ADE. Assim, duas plenárias passaram a ocorrer ao mesmo tempo, ambas considerando- se legitimas.
Na nossa opinião, é inegável que o PSTU e o PSOL estavam mais interessados em aprovar seus acordos do que na construção, de fato, de um movimento de Sociais combativo. Entretanto, não podemos ficar a favor de um grupo que racha sem coesão alguma, fundamentalmente por um sentimento anti-partido, mas que era composto até por um militante assumidamente simpático ao PDT. O discurso contra o burocratismo, de forma oportunista e sem um programa definido, pode ser abraçado tanto pela ultra esquerda quanto pela direita.
Por fim, não há consenso sequer sobre o que valeu: se os GDs, se a plenária final, ou se a plenária do racha. Mais um ENECS acaba sem que haja nenhum programa para lutarmos juntos. Tudo o que sabemos é que o próximo será na Paraíba.

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