quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Boletim CACH – Colóquio Marx Engels

Centro Acadêmico de Ciências Humanas - CACH-Unicamp
Gestão Oboré - de luta e em aliança com os trabalhadores

Há muito a tradição que se reivindica marxista dentro do instituto de Ciências Humanas literalmente abandona o vínculo indissociável que existe entre teoria e prática, justamente o que distingue a ciência marxista das outras tendências que preconizam essa união de maneira puramente formal, sem medo de demonstrar, sempre que possível sua timidez até no campo da epistemologia.

Infelizmente, tratamos de um período histórico em que o retrocesso do movimento operário no Brasil, principalmente durante a abertura democrática dos anos '80, que passou por cima do movimento de massas da classe operária, carregou consigo o retraimento das caracterizações mais declaradamente classistas da intelectualidade marxista. E é com esse núcleo de intelectuais que queremos travar diálogo sobre a importância de se retornar a uma participação ativa na luta de classes desse próximo período.

Como tratamos do assunto desde um ponto de vista materialista, é preciso lembrar que mesmo os intelectuais com as idéias mais estáticas agem realmente sobre seu meio, principalmente quando a conjuntura política os acorrenta e os arrasta à ação. Até a omissão é um ato político, já que atrasa a política geral e ajuda a construir a passividade. Pois claramente não se trata aqui apenas de trocar cartas com as autoridades do marxismo, afundar a cara em debates ilustradíssimos ou estudar avidamente a nata do materialismo contemporâneo. É claro, sem possuir a segurança de emitir um juízo crítico, pois não se tem “total domínio sobre ela”; como se o marxismo, caros amigos, se tratasse de um ofício de gabinete e da digestão completa de todos os nutrientes revolucionários das obras passadas!

Para nós, a teoria tem de acorrer à prática. Mais do que possuir uma formação cultural e científica erudita, o principal papel dos intelectuais é identificar as contradições e os problemas da sociedade. O objeto todo tem de se tratar pela interferência na realização das necessidades reais da base social que sustenta os órgãos institucionais de pesquisa e desenvolvimento na academia, devolvendo continuamente à sociedade, de cujo movimento brota a força material da ciência, o que sempre foi dela. Os seus esforços teóricos devem equivaler às necessidades teóricas da sociedade, num processo progressivo que culmina no auto-reconhecimento das camadas sociais como sujeitos teóricos de sua história, de tomar em suas mãos as tarefas elaborativas e de cientificamente dar respostas. Os intelectuais autênticos devem associar-se e misturar-se à coletividade fora dos limites acadêmicos, identificar-se com ela, de modo que seus objetivos e interesses devem ser verdadeiramente os objetivos e interesses da sociedade, transformando cientistas em leigos, através da mudança de leigos em cientistas, banindo de uma vez as barreiras que impedem que a base social dialogue e construa unitariamente com a intelectualidade atual.

As discussões sobre as políticas do IFCH são indispensáveis. Diretamente a alguns problemas centrais: por exemplo, a intelectualidade precisa se preocupar com o destino do AEL. Não se ouviu uma só palavra por parte dos diretores do AEL acerca da completa irresponsabilidade da direção, que tem o dever de curar pelo patrimônio histórico desse acervo inestimável para a história da luta de classes no Brasil, sobre o fato de que o acervo Edgar Leuenroth fora inundado por infiltrações e ficado, literalmente, à mercê da crítica roedora das traças e cupins. A mesma diretoria, que utiliza estudantes para fazer o trabalho braçal (bolsistas SAE), arrenega da contratação de funcionários capacitados para a realização do trabalho técnico da preservação dos documentos, que estão empacotados há décadas na seção da Reserva Técnica – mero depósito de material não organizado –, que na verdade só pode nos reservar surpresas acerca das novas espécies de insetos que se encontrarão lá!

A falta de funcionários para a higienização, preservação e catalogação do arquivo, além de funcionários para estabelecer um cronograma para organizar o material, ainda em caixotes (o arquivo possui cerca de 30 mil livros) e retirá-lo deste depósito improvisado, precisa ser discutida imediata e seriamente por aqueles que hoje são responsáveis burocráticos mas não responsáveis militantes, o que é a base da responsabilidade descomprometida.

Não é possível ocultar mais, ao custo de vidas inteiras dedicadas à preservação da história revolucionária, a política da reitoria e das diretorias dos institutos de terceirização e contratação de funcionários através das Fundações. Isso coloca em risco patrimônios culturais insubstituíveis da humanidade, que estão sob a guarda da Universidade, e arruína descaradamente a importância do funcionalismo público como identidade da universidade pública e autônoma, e sendo mesmo o seu selo intransigente contra a transformação de espaços públicos em locais de negócios privados. A inauguração do AEL contará inclusive com a presença do atual reitor, conivente com a política de “dilúvio dos materiais a celulose”, e que também não forneceu qualquer esclarecimento sobre o descaso a respeito dos arquivos do AEL e da inundação de umas das maiores bibliotecas marxistas do América Latina. Exigimos uma audiência pública com os diretores do AEL para esclarecerem os fatos descobertos em julho! Além da adoção de um programa de contratações elaborado pelos próprios funcionários do arquivo, verdadeiros guardiões do acervo Edgar Leuenroth.

Pelo fato do instituto reivindicar a tradição marxista, achamos incondicional que o debate a respeito das questões referentes à luta de classes internacional pertença à ordem dos dias. Neste aspecto a disponibilidade para discussão com os docentes do instituto é nula. Reivindicamos o repúdio urgente ao golpe de estado sangrento em Honduras, cujo povo sofre cotidianamente com ás práticas autoritárias e o barbarismo violento dos paramilitares, mesmo com a restituição do Zelaya selada na mesa de negociatas. Ademais os acontecimentos no Haiti, com a participação direta do exército brasileiro para reprimir e torturar o povo hondurenho – renovada recentemente por mais um ano pela ONU - nunca teve espaço nos debates deste “tradicional instituto marxista”.


Quanto aos nossos vizinhos uspianos nada se diz sobre a forma autocrática como as eleição para REItor são conduzidas. Foram necessárias bombas e balas para que o instituto se mobilizasse, com o rosto da militarização, contra problemas que são mais nodulares na divisão hierárquica de poderes dentre a burocracia acadêmica vinculada aquela do estado.


A luta pela garantia de que a Unicamp se torne um pólo cultural da comunidade acadêmica e da cidade de Campinas também deve ser frisada, investindo-se contra todos os ataques do atual reitor, Fernando Costa, conivente com as punições sistemáticas e consciente de suas repressões mais acríticas, cegas pelos interesses do capital que deseja defender durante a mais tranqüila passividade dos estudantes e funcionários, às expressões artísticas e humanizadoras, muitas vezes propostas para suprir os deveres que o próprio Estado deixa de cumprir, por exemplo para com os movimentos sociais como o MST, o MAB, o MTST, entre outros. Além disso, reivindicamos total liberdade de expressão e propagação de opiniões políticas no âmbito acadêmico, incluindo panfletagens, colagem de cartazes, atividades políticas e culturais em todos os institutos da Unicamp!


Por fim, criticamos o posicionamento tardio dos professores do IFCH durante a greve do primeiro semestre, e sua retirada pueril dela, em associação à Adunicamp, quando a PM deixou as instalações da USP. Como se o problema fora resolvido até as suas raízes! Para não dizer daqueles que nem bocejaram durante o espetáculo. Por que raios são tão mudos e apáticos para responder à altura o ataque ao ensino público representado no programa para o ensino superior do governo do estado, a Univesp? As investidas anti-democráticas, em todos os campos, se combatem imediatamente no aparecimento, e não em digressões pessimistas depois de tudo ocorrido! A expansão da universidade deve ser em sua estrutura física e que compreenda toda a sociedade, sem perda para os estudantes que para cá se deslocarem. O marxismo estudado por marxistas só se dá na aliança da teoria científica com a prática transformadora. Enquanto a academia “marxista” continuar se esquecendo disso, nós os continuaremos lembrando com ações. O Governo do estado de São Paulo e sua camarilha de doutrinadores educacionais não esperarão ninguém fechar seus livros.

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