quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Carta aberta aos companheiros dos coletivos “Nada será como antes” e “Florestan Fernandes"

Temos visto nos últimos anos diversas investidas do governo no sentido de aprofundar o caráter mercadológico e implementar seu projeto privatista nas Universidades Estaduais paulistas. Na USP, João Grandino Rodas foi escolhido por José Serra para cumprir o papel histórico de implementar de vez esse projeto, varrendo quem quer que se oponha. O movimento de estudantes, funcionários e professores tem atuado, ainda que de modo desigual e heterogêneo, como uma verdadeira trincheira em defesa do caráter publico, autônomo e popular para a USP e, por isso, tem sido alvo de toda a ofensiva repressiva por parte da reitoria e governos.

Agora Rodas, o reitor de Serra, dá um passo decisivo, aprovando no C.O. uma reforma universitária para, como diz o Estadão, “fechar os cursos que têm baixa procura, altas taxas de evasão e baixo impacto social, bem como os que não atendem às necessidades do mercado ou foram superados pelo avanço da tecnologia. A manutenção de alguns cursos noturnos também será discutida.” A pró-reitora de graduação, Telma Zorn, fez questão de não deixar tanta margem para dúvidas sobre o que significa “baixo impacto social”, declarando, na última edição do Jornal da USP, que esses cursos “seriam melhor definidos com a troca de ‘social’ por ‘econômico’.” Essa reforma é um ataque muito duro a todos os setores da universidade, que segue medidas como o fim da reposição automática de professores que se aposentem ou faleçam, a quebra da isonomia salarial e a UNIVESP, e assim retoma e aprofunda os decretos lançados por Serra em 2007, e é parte de um processo que já está em curso também nas outras universidades estaduais paulistas, se expressando na degradação das condições de ensino.

Para implementar seu projeto e retomar o controle sobre a universidade, a reitoria aprofunda a política de repressão contra o movimento na USP: se acumulam os processos contra diretores e ativistas do Sintusp e corre um processo absurdo que pretende desligar 14 estudantes da universidade que retomaram, no primeiro semestre, um prédio de moradia estudantil que havia sido indevidamente ocupado pela administração da COSEAS, e agora correm risco imediato de expulsão, sem chance de defesa.
Os estudantes combativos somos por um projeto distinto, que seja voltado às necessidades da classe trabalhadora e do povo pobre. Desde o Bloco ANEL-às Ruas, em conjunto com muitos companheiros de seus coletivos, lutamos pela reorganização dos estudantes e da juventude em torno deste combate.

Para barrar esses ataques, consideramos fundamental trabalhar para reverter o atual estado de fragmentação do ME da USP, e que ele possa se ligar aos estudantes das outras estaduais paulistas e aos trabalhadores que têm protagonizado importantes greves em defesa da universidade. É por isto que temos buscado discutir com todos os setores do movimento estudantil, sobretudo aqueles com os quais compomos uma entidade como a ANEL, a necessidade de discutir a formação de chapas unificadas a partir do combate aos ataques do governo para as eleições do DCE e dos CAs que se aproximam. Infelizmente, por mais de uma vez, nosso chamado não foi atendido por quase todas as correntes e, quando mesmo alguns setores que não concordavam com os termos da discussão que propunhamos, como o Barricadas Abrem Caminhos, colocaram abertamente suas posições, não obtivemos nenhuma posição de sua parte acerca de tais questões decisivas para o próximo período de lutas que se aproxima.
Pelo contrário, nas Ciências Sociais, observamos seu chamado à Unidade com a chapa organizada por setores dos coletivos Contraponto, Barricadas, A hora é essa e independentes, sendo que em nenhum momento buscaram responder ao chamado de Unidade que fizemos. Analogamente, observamos uma carta que, corretamente discute os marcos gerais da situação Universitária, e que convoca todos os setores da esquerda “consequente”, citando vários coletivos, dentre eles o da atual gestão do DCE e CEUPES, a unificarem-se a fim de darem o combate à direita e sua chapa. Deste chamado também fomos excluídos.

Nosso DCE, sabemos, cumpriu um papel importante na construção da passividade do ME neste ano, mantendo os estudantes distantes das principais discussões, disputas e conflitos que atravessaram a universidade. Chegaram ao absurdo de boicotar uma assembléia geral, o que, do ponto de vista de nossa entidade é desmoralizante perante o conjunto dos estudantes.

Nós, do Bloco ANEL-às ruas, estivemos, ao lado de companheiros de seus coletivos, desde o início do ano nas mobilizações de professores estaduais e nas assembléias da ANEL. De nossa parte, nos orgulhamos de ter dedicado nossas forças ao longo do ano ao trabalho de politização dos estudantes nos cursos e salas de aula, com debates, reuniões, e atividades culturais, e à ampliação do apoio à greve do primeiro semestre, propondo incorporação a piquetes, fundos de solidariedade, abaixo-assinados e atos, e ainda agora, contra as medidas repressivas e os novos ataques.

Buscamos sempre, também neste período, a unidade um uma série de ações com os companheiros, a fim de que demonstrássemos a ANEL como um pólo pró-operário no movimento estudantil. Sabemos que ainda há a necessidade de acúmulo de discussão acerca do que representa a ANEL e, aqui, mais uma vez, reivindicamos ações conjuntas neste sentido.

No curso de ciências sociais, buscamos, igualmente, nos unir em torno da tarefa de construir medidas concretas, em conjunto com os companheiros. Isto se dava ao mesmo tempo em que a direção do Ceupes boicotava deliberações da única assembléia ocorrida no ano - o jornal - e ignorava mais de 200 assinaturas reivindicando que ocorresse uma assembléia para discutir o posicionamento do curso na greve. Todos os outros coletivos convocados à Unidade por vocês tiveram não um papel ativo na despolitização e passividade do curso, mas, em distintos graus, iniciativas quase inexistentes de apoio concreto e busca real da aliança operário-estudantil, a qual pressupõe cooperação mútua constante, sobretudo nos períodos de luta. Entretanto, acreditamos que, em base a este balanço, devemos, em unidade com estes setores, combater o projeto do governo.

Temos clareza de que estes ataques que buscam implementar a reitoria e o governo, afetam não somente a Usp mas todo o conjunto das Universidades estaduais e a sociedade. Tendo isto em mente, desde nosso bloco, buscamos organizar setores estudantis do interior do estado e em Universidades particulares, a fim de assentarmos nossa luta por um projeto distinto de Universidade, dada muito a partir da ANEL, sob bases mais sólidas. Os exemplos dos atos e chamados de unidade nas lutas pelo DCE da Unesp, a luta pela redução das mensalidades na fundação Santo André, a gestão conjunta que compomos com os companheiros no Cach da UNICAMP, definem como pensamos que devem se dar os combates aos ataques das reitorias, e demonstram, igualmente a conseqüência de nossa atuação no movimento estudantil.

Nós, que construímos com os companheiros um projeto de reorganização do ME nacionalmente, lamentamos que os companheiros não tenham levado tais questões em consideração quando do chamado à Unidade para estas eleições.
Reivindicamos então, em base a toda nossa atuação conjunta em muitos momentos e todas as tarefas para o próximo período, que revejam sua posição e que possamos discutir a unificação de nossas chapas para as eleições de DCE e CA, a partir do programa da ANEL, que defendemos conjuntamente. E ainda, independentemente disso, que estejam conosco na construção de iniciativas que sirvam para dar mais visibilidade, esclarecer e combater a reforma da USP e os processos repressivos; estamos abertos a todas as iniciativas que proponham, e já chamamos os companheiros a organizar desde as chapas um festival-protesto com esses eixos, nas próximas semanas.
Acreditamos que as eleições são apenas um âmbito da luta, entretanto, nelas devem estar presentes chapas alternativas, pró-operárias, combativas que se prolonguem para além das eleições como verdadeiros grupos de ação, reflexão e contraposição ao governo e às reitorias.

Propomos um passo concreto e sério contra a fragmentação e pela reorganização do movimento estudantil, necessária a este combate. Propomos, então, que esta questão seja discutida seriamente entre nossos agrupamentos.

Esperamos resposta.

Bloco ANEL-às ruas (Ler-qi e independentes) e Grupo de mulheres Pão e Rosas.

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