sábado, 12 de junho de 2010

Entrevista com B-Negão sobre o Festival de Greve ocorrido na USP: "Espero realmente que esse movimento cresça"

O jornal Palavra Operária (JPO) entrevistou B-Negão, após o Festival de Greve realizado na última terça-feira, 08/06, organizado por estudantes do Movimento A Plenos Pulmões, grupo de mulheres Pão e Rosas em conjunto com diversos Centros Acadêmicos da USP, como uma manifestação política e cultural em apoio à greve dos trabalhadores da universidade. Os fundos arrecadados no Festival destinaram-se ao Fundo de Greve dos trabalhadores.

JPO: O que você achou do festival?

Achei clássico, emocionante ter participado. Espero ter cumprido o papel que era trazer estudantes para junto, para saberem o que está acontecendo e se engajarem na missão. Fiquei felizão de ter participado disso e contribuir para isso. O festival foi clássico.

A galera que cantou, muito bons. O cara do som fez o que pode.... E uma parada clássica também, musicalmente falando, toda vez que venho na USP tenho umas surpresas muito boas. Fico feliz sempre que vejo uma banda boa, fico felizão. Em 2007, também no passado conheci o Coletivo Radiola, muito bom também. Este ano conheci a Mara que arrebentou e o Rafael Castro e os monumentais, muito bom, espetacular, impressionante.

JPO: A galera ficou cantando o “B Negão voltou”. Você ter voltado na luta aqui está ligado a uma concepção sua de arte?

Quem me conhece sabe que eu tenho ligação ativista desde sempre. Vem da minha própria criação mesmo. A única coisa que eu preciso é tempo, que é uma parada que sempre falta pra mim. Eu abri uma janela aí no meio de um mar vermelho de compromissos para vir. Esse ano já foram mais de 60 shows. Essa semana agora tá do mesmo jeito. Cantei domingo de noite, segunda teve ensaio de horas, terça vim prá cá, agora tenho show com a Elza Soares. Amanhã vou pro Ceará e chegando lá pego ônibus de 6 horas pra chegar em Jeriquoquara. Mas eu sempre tento dar um jeito.

JPO: Você ficou sabendo que os trabalhadores estão com corte de ponto e tudo mais. O que você acha da política do PSDB e da reitoria com o movimento?

Na verdade verdadeira, quem conhece estes caras, estes mandantes, o Serra, esse reitor, não se espanta. Como diria o Dunga, eles tem uma coerência (risos). Eles estão fazendo o papel deles, de nego conservador, direitão, que acham que esse é o caminho bizarro que tem que ser seguido. A gente tem que fazer o nosso que é se contrapor a isso. Espero realmente que esse movimento cresça, pra nego ver como é que funciona a história do cara. Esse escândalo da faculdade de direito na gestão dele todo mundo tem que saber. Pra verem qual é o lado que tá com a razão, que precisa ser contemplado, que tá brigando por um direito legítimo, nada de excepcional. É o mínimo do mínimo.

JPO: Conta um pouco da sua trajetória para quem ainda não conhece e onde você vai tocar no próximo período.

Meu pai era ativista na ditadura militar. Foi quase padre. Era cobrador de ônibus, pugilista, entrou na faculdade de direito justamente em 64 e lá virou ativista contra a ditadura, não foi nada planejado. Tive uma criação assim, com meu pai lendo os jornais, me explicando as coisas desde cedo, na cozinha quando agente almoçava junto, jantava junto. Aí eu comecei a fazer música, que eu sempre gostei. O que me deu vontade de começar a fazer música foi o rap em 82, depois o punk rock em 87, quando eu ouvi pela primeira vez alguém falando o que eu tinha vontade de ouvir e falar. Depois quando chegou o rap aqui no Brasil, com o Thaíde, a galera e tal, o Cultura de Rua, depois de um tempo o Racionais e toda a galera que veio depois. Aí quando eu vi o Public Enemy me deu vontade de realmente fazer isso fora de casa, porque é uma junção acho que perfeita do rap e do punk rock. E aí fui fazendo. Quando eu percebi depois de anos, tava vivendo disso, vi que dava para ganhar um dinheiro e sustentar a família. E to fazendo um monte de coisas. Gravei 4 discos com o Planet Hemp, que venderam um milhão de cópias. Depois decidi cantar de forma independente e agora tá saindo o segundo disco. Vai ter o show dia 18 agora no Mistura SP, na Rua Augusta. Um lugar clássico de São Paulo.

JPO: Você já teve outras vezes que você tocou ligado aos movimentos?

Já toquei em marcha em Brasília, tenho um projeto em presídio, por aí vai. Tô ligado na história do Batistti também. No movimento passe livre também, que é importante e conseguiu coisas em Brasília e tá brigando bastante em Florianópolis.

JPO: Infelizmente hoje em dia os artistas fazem muito pouco isso. O que você acha que acontece no campo da arte que leva a isso?

Realmente eu não sei. Inexplicável. Só perguntando pra eles. Não vejo qual seria o problema de disponibilizar um tempo, sem cobrar grana, da galera que tá precisando. Mas cada um cada um. Só perguntando pras pessoas mesmo, mas eu não entendo muito não.

JPO: A PM tá reprimindo tão absurdamente o povo que agora até dentro da USP ela entrou ano passado. O que você acha disso?

É o braço do estado clássico. Nasceram pra reprimir. Na base da ignorância praticamente certa. Quando você vê um policial que não age na base da ignorância dá até um susto. Eu vi poucas vezes. Eles são criados pra isso, tipo um pit-bull, botam a carne lá, pro bixo morder, pular. Agora até rolou uma parada aí dos caras da polícia porque mataram um cara no treinamento afogado, saco. Imagina. O cara morreu, mas se o cara sobrevive, o cara ia sair revoltadasso também. Essa é a criação. A parada é feita pra isso. E o governador falou que é assim mesmo que tem que ser, que foi uma fatalidade, mas se não for assim a PM não fica boa. No RJ também a polícia é déspota, sem preparo nenhum, vão fazendo as merda, vários casos de espancamento. Ficam falando que pacificou, mas não é assim.

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