quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Jogos Olímpicos do Rio 2016, o esporro que precede a festa!
Apesar das expectativas de uma festa popular, as Olimpíadas terão como seu primeiro legado a repressão!
Por Vinícius Pena, Rio de Janeiro
No último dia 3/10 a cidade Rio de Janeiro venceu a disputa para sediar os jogos olímpicos de 2016. Enquanto a delegação brasileira comemorava e os meios de comunicação buscavam promover uma festa nacional, grande parte da população carioca, principalmente a população pobre e negra dos morros, não tinha motivo para comemorar. Ainda guardam na lembrança as marcas da última “grande festa” anunciada, a dos jogos Pan-americanos, na qual só puderam ter contato com a repressão assassina da polícia.
A última “grande festa”, longe de cumprir os discursos demagógicos dos mesmos Lula e Sérgio Cabral, de melhorias para a população, serviu para enriquecer ainda mais as elites cariocas e as grandes empresas investidoras, através, em grande parte, da corrupção e da superexploração dos operários da construção.
Enquanto os empresários festejavam o grande lucro obtido, a população pobre e negra do Rio presenciou uma ofensiva de intensificação das ocupações militares dos morros e favelas da cidade, em especial no Complexo do Alemão e na Rocinha, com apoio das Tropas de Segurança Nacional que deixou somente na semana dos jogos um saldo “oficial” de 10 mortos, mas se contarmos a ofensiva preparatória que já vinha ocorrendo nos meses anteriores, o saldo de janeiro abril é de 2.244 homicídios [1].
Se quando anunciaram a “festa” do Pan a população pobre e negra dos morros cariocas vivenciou um verdadeiro massacre, agora, com a maior projeção do Jogos Olímpicos, das declaração de “festa” não podem esperar outra coisa que não seja mais miséria e violência policial em escalas ampliadas.
Nada mais contrastante do que o discurso de Lula no advento da vitória da candidatura, ao qual afirma que o Brasil superou o atraso e se alça como primeira classe ganhando cidadania internacional, e a realidade carioca dos morros, onde a população vive muitas vezes em condições precárias de moradia, sem acesso a saúde e educação, e sob a repressão e as balas de polícia.
A população carioca já vem sofrendo nos últimos anos uma ofensiva da intervenção policial. Continuam-se, apesar de pouco divulgadas, as investidas do BOPE, CORE e outras forças nos morros, com a justificativa de combate ao trafico que resultam em corpos negros no chão, previamente identificados como “marginais”. O nomeado “choque de ordem” vem promovendo através da guarda municipal um ataque a moradores de rua, as ocupações urbanas e ao trabalho informal, na sua maioria camelôs, em nome de promover uma “limpeza” da cidade, principalmente do centro. O mais recente método de intervenção policial, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), disfarçada de medida democrática e progressiva com a ajuda da imprensa, corresponde a uma ocupação policial permanente nos morros, impondo pela força um regramento militar do cotidiano dos moradores, e uma repressão constante, que impede, entre muitas coisas, as expressões da juventude e a organização da comunidade.
Essa dura perspectiva tende a se agudizar com as Olimpíadas. Já está sendo preparado um “olímpico esquema de segurança”. Uma parte substancial da verba do projeto olímpico destinasse a “segurança”, R$ 103,6 milhões entre 2009 e 2012. As palavras de Beltrame, Secretário de Segurança Pública do Rio, confirmam que se “prevê o aumento do efetivo da Polícia Militar, passando de 38 mil homens para 54 mil até a Copa do Mundo de 2014 (...) e vai permitir a ampliação do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora nos morros da cidade” [2]. A ampliação das UPPs são uma das prioridades do projeto de “segurança” e visa um aumento do número de ocupações das quatro comunidades, atualmente -Dona Marta (Botafogo), Cidade de Deus (Jacarepaguá), Batam (Realengo) e Babilônia (Leme)-, para o surpreendente numero de 47 favelas da cidade até 2010, e a estimativa de 100 até 2016, o que representaria 10% das comunidades ocupadas [3]. Todas as novas ocupações serão na Zona Sul e “nas vias de grande movimentação”, ou seja todo o caminho entre o Galeão e a Zona Sul – Alemão, Maré, Manguinhos, Providência, Mineira, Rocinha são os próximos alvos.
O projeto não detalha suas citações genéricas ao se referir em melhorias para o conjunto da população, muito menos a qualquer aplicação de verba nas áreas de educação, moradia e saúde, mas especifica claramente que em nome da “segurança das olimpíadas” vai destinar milhões do dinheiro público para aumentar o contingente policial e intensificar a ofensiva repressiva e assassina contra o povo pobre e negro dos morros cariocas.
O aumento do efetivo da PM em 16 mil homens até 2014, visa uma aplicação combinada dos diferentes projetos, choque de ordem, UPPs, e investidas do BOPE, que possibilita uma “limpeza” do centro e dos morros das áreas nobres e centrais para impor pela força e da violência policial a “nova imagem internacional do Rio”, como defende Sergio Bresserman, presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura. Está claro que o projeto Olímpico de desenvolvimento do Rio para a população pobre e negra dos morros resulta em caso de Polícia.
O mesmo Bresserman afirma que “as Olimpíadas de 2016 são uma excelente oportunidade para transformar o modelo de desenvolvimento do Rio, incluindo de vez a cidade entre os principais centros urbanos” [4]. Nessa transformação incluísse o projeto de “limpeza” do centro e das áreas nobres da cidade, tanto pelos métodos de violência direta contra a população pobre e negra, já citados, quanto por métodos de violência indireta, como a especulação imobiliária. A busca pela valorização das áreas do centro e dos morros próximas as regiões nobres já vem ocorrendo, inclusive pela ação das próprias UPPs. O projeto das Olimpíadas intensifica esse processo de expulsão indireta dos moradores dessas áreas, pelos aumentos de aluguel e dos custos de vida, buscando promover um branqueamento e uma elitização do centro da cidade. Mesmo a Folha de S.Paulo confirma que “para atender as exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI), o plano para viabilizar realização dos Jogos no Rio de Janeiro em 2016 prevê a remoção de mais de 3.500 famílias de seis favelas das zonas oeste e norte da cidade” [5].
O projeto olímpico busca esconder sua face violenta e assassina, e ganhar apoio das classes médias para sua aplicação através de um discurso associado de inclusão social e de democratização dos benefícios para o conjunto da população que trará as modificações na cidade. Falam em novos empregos, mas a estimativa é de empregos temporários, precarizados e terceirizados, baseados na superexploração, como nos comprova os exemplos mais recentes do Pan no Rio e as inúmeras greves deflagradas pelos operários na Copa da África do Sul, requisitando mínimas condições de trabalho, como água. É neste sentido que devemos entender as projeções de redução da média salarial feitas pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), às custas da intensificação da exploração (precarização e terceirização) e não da distribuição de renda![6] Ou como comprova ainda a projeção de redução da média salarial para 2016 feita pelo O Globo (argumentada como melhoria).
Falam na herança da infra-estrutura que será deixada para a cidade, o que beira o ridículo. Basta lembrarmos que o mesmo discurso demagogo foi feito pelos mesmos figurões a poucos anos atrás nos jogos Pan-americanos, e em nada as promessas se concretizaram, como comprova mais recentemente os levantes da população fluminense revoltada perante as terríveis condições dos trens suburbanos e ao tratamento dado a seus passageiros, digno de um rebanho, com direito a tropa de choque. Os trens sarcasticamente estavam entre os projetos de infra-estrutura do Pan que beneficiariam toda população carioca.
Apesar do Rio de Janeiro ter sido eleito para sediar as Olimpíadas de 2016, para a população pobre e negra dos morros cariocas esta estará muito distante. Não foram convidados para a declamada “festa” que terá muita serventia para aumentar os lucros dos grandes monopólios internacionais, como o Bradesco, EBX, Panasonic, só para citar alguns. Enquanto os grandes empresários fazem a festa, a única expressão das Olimpíadas que chega aos morros é a repressão e a violência das botas e balas policiais.
Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, frente a toda ofensiva policial contra a população pobre e negra dos morros e favelas, principalmente contra a juventude, postas no projeto das Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016, defendemos como de fundamental importância que o Movimento Estudantil coloque-se desde já na linha de frente na defesa dos explorados e oprimidos, dos desempregados, dos negros, dos jovens de periferia denunciando desde as universidades a repressão e a militarização dos morros.
Pensamos ser este o momento da Anel se provar como uma entidade de luta, levantando fortes mobilizações para barrar a ofensiva policial que estão armando (Lula, João Cabral e outros) contra as comunidades da periferia carioca. Reivindicamos a histórica experiência do ME Mexicano, que nas Olimpíadas de 1968, sediada nesse mesmo país, promoveu uma série de mobilizações radicalizadas de milhares de estudantes contra a repressão social e a Guerra do Vietnã, que quase interrompeu os Jogos e que só foi detida através de uma verdadeira matança na Praça das Três Culturas no dia 2 de outubro, promovida pela força de segurança do exército criada e treinada especificamente para garantir a segurança durante a Olimpíada, num saldo de 300 mortos.
[1] Folha Online, 04/08/2007.
[2] O Globo, Publicada em 03/10/2009.
[3] O Globo, Publicada em 07/10/2009.
[4] O Globo, Publicada em 03/10/2009.
[5] Folha de S.Paulo, no Rio 08/10/2009.
[6] www.ipea.gov.br
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