terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dias 08/02 e 09/02: matrícula na USP

Seja bem vindo ao mundo dos excelentes, dos diferenciados e de futuro garantido. É o que dizem e vão dizer sobre a USP... Isso você já sabe; afinal, vive no Brasil, país dos contrastes; na escola estuda sobre as mazelas da segunda maior desigualdade social do mundo, na qual quase tudo essencial a nós falta à grande maioria, e o ensino superior não é exceção.

A maioria da população, que sustenta a universidade pública com seus impostos, é excluída dela pelo vestibular. Quase 80% dos universitários do país estão em instituições particulares; isso significa que para cursar o ensino superior, a juventude é forçada a recorrer às universidades privadas, cujo verdadeiro propósito é encher o bolso dos ricos empresários do ensino (o faturamento, por exemplo, do grupo Anhanguera no 3° trimestre de 2009 foi de R$331,7 milhões).

Ainda assim, muitos não conseguem concluir seus estudos e, principalmente nas universidades privadas, a evasão cresce (Em 2007 subiu 40% nas universidades particulares da grande São Paulo), seja pela impossibilidade de bancar as absurdas mensalidades, seja pela péssima qualidade da maioria dos cursos. Isso considerando que os universitários no Brasil representam cerca de 11% da população entre 18 e 24 anos.

Concomitantemente, o governo Lula isenta de impostos os grandes Uni-monopólios, ao invés de sobretaxá-los (por exemplo, com o ProUni transfere verbas públicas para os empresários). Diante da tarefa de “emprestar” o dinheiro do povo aos grandes capitalistas e poupá-los de seus prejuízos, o vestibular é a medida encontrada para “controlar” as diferenças entre os que podem pagar pela educação básica e os filhos de trabalhadores e do povo pobre, que amargam num ensino público degradado.

Neste cenário, uma medida necessária e imediatamente realizável para a democratização do acesso à universidade é a estatização sem indenização dos grandes monopólios educacionais e o aumento de verbas para a educação (baseado no fim do uso do dinheiro público para financiamento dos capitalistas – por exemplo, 8 bilhões que Serra e Lula deram à Ford e GM), bem como o fim do vestibular como filtro social para o acesso à “ilha universitária de excelência”, reservada quase exclusivamente a uma elite.

Ainda que o vestibular seja um ícone da não-democracia na universidade, podemos ver que esta vai muito além. Infelizmente a excelência técnico-científica-acadêmica uspiana não procura responder aos problemas elementares da população: doenças tropicais sem cura; enchentes, trânsito e falta de planejamento urbano; déficit de milhões de moradias; péssima educação pública; violência policial contra a juventude negra; violência “doméstica” contra as mulheres e trabalho escravo persistindo sob as botas do latifúndio são questões que, quando não totalmente ignoradas, são tratadas como meras questões “acadêmicas”. Hoje o papel que cumpre a Universidade está ligado às pesquisas de cosméticos para a Avon, tênis da Nike, logística da Coca-cola e vendas on-line do Submarino. Isso só pode ocorrer devido ao atrelamento profundo do governo universitário (composto por menos de 1/3 dos professores e representações irrisórias de estudantes e trabalhadores da Universidade) aos interesses dos capitalistas.

Necessitamos uma universidade a serviço dos interesses da maioria da população, dos trabalhadores e do povo pobre, e, dentre eles, também das mulheres, dos negros e dos homossexuais.

O novo REItor é João Grandino Rodas que, apesar de perder as antidemocráticas e restritas eleições internas na USP, acabou sendo nomeado por Serra. A “notoriedade” das ações do “Magnífico” o precede: é conhecido por defender o Estado em casos de tortura e assassinato cometidos pela ditadura; em 2007 chamou a tropa de choque para reprimir uma manifestação no Largo São Francisco e defendeu que a PM reprimisse a ocupação da reitoria; em 2008 foi responsável pela aprovação de uma resolução regulamentando o uso de força policial na universidade para reprimir manifestações. Além disso, começou o mandato mantendo sua tradição de “diálogo”: no dia 25 de janeiro um ato na sua cerimônia de posse foi duramente reprimido pela polícia, com 3 presos e vários feridos.

Toda essa força policial foi a principal causa da greve de 2009, uma greve muito forte entre trabalhadores da USP, impulsionada por seu sindicato, o SINTUSP, à qual aderiram posteriormente professores e estudantes. Seus estopins foram a demissão ilegal do dirigente sindical Claudionor Brandão e a punição de diversos trabalhadores e estudantes; o apoio veemente da Reitoria à política de educação à distância precarizada (UNIVESP), apesar do rechaço hegemônico da comunidade universitária e, finalmente, a entrada da tropa de choque para sitiar a universidade com balas de borracha, bombas de gás e efeito moral. Isso também não acontecia desde os tempos da ditadura militar.

Sabemos que essa é uma história longa, difícil de contar e entender. Por isso gostaríamos que todos os setores ativos da greve, e o principal deles, o SINTUSP, pudessem democraticamente compartilhá-la com a riqueza de detalhes necessária para nos prepararmos para a gestão de Rodas, e nos opormos à continuidade do projeto de universidade elitista e excludente. Entretanto, o DCE (diretório central dos estudantes), composto pelo P-SOL, nega esse elemento mínimo de democracia no movimento estudantil, e prefere dar voz àqueles que já tem espaço na TV e jornais, como ministros de Lula e secretários de Serra, e representantes do próprio P-SOL. Por isso, vemos a necessidade de organizar uma calourada paralela e temos nos esforçado para tal.

HAITI

O terremoto que atingiu o Haiti trouxe caos para seu povo. Ao contrário do que é dito, isto não é uma mera “catástrofe natural”, nem a miséria que assola os haitianos há séculos, e que é produto de diversas ocupações militares, ditaduras e saques desde que o povo conquistou a independência na única revolução de escravos vitoriosa da história.

Não há nada natural na ocupação das tropas da ONU, no país desde 2004, com o exército brasileiro de Lula à sua frente. Não há nada natural nos dez mil soldados americanos presentes no país. Como exemplo do papel da “ajuda humanitária” das tropas, vimos que enquanto os próprios haitianos resgatam familiares dos escombros, os soldados defendem mercados saqueados, instalações da ONU, matam haitianos que se rebelam contra a sua condição, estupram mulheres e meninas, e impedem o pouso de aviões com comida e remédios. E por que tantos soldados e tão poucos médicos, engenheiros, etc.?

Contra supostos interesses humanitários que camuflam os reais interesses comerciais envolvidos na reconstrução do Haiti, é necessário forjar uma ampla solidariedade operária e popular no Brasil pela retirada das tropas comandadas por Lula e por Obama e para que a ajuda seja gerida pelos próprios haitianos, através de suas organizações operárias e populares.
O exército brasileiro que está à frente das tropas da ONU, e diante disso torna-se ainda maior nossa responsabilidade de lutar por sua retirada. Todo estudante que se revolte com esta situação deve colocar-se ativamente nesta luta.

Por isso chamamos todos para se somar às atividades, atos, debates, etc., a começar pelo ato-debate e atividades culturais que realizaremos no dia 28/02, às 14h, na Casa Socialista Karl Marx (Pça. Américo Jacomino 49, ao lado do metrô Vila Madalena).

Veja o que está ocorrendo no Haiti em: http://solidariedadeaohaiti.blogspot.com/

LER-QI, Movimento A Plenos Pulmões e Grupo de mulheres Pão e Rosas
http://www.ler-qi.org/
http://movplenospulmoes.blogspot.com/
http://nucleopaoerosas.blogspot.com/

Nenhum comentário: