Como é de conhecimento geral entre os estudantes da PUC-SP, durante a cerimônia de colação de grau, realizada em 01/12, um grupo reduzido de estudantes de História contrários à expressão dos estudantes de Geografia através de falas no microfone protagonizou uma série de entreveros que permanecem emaranhados e obscuros até o momento. O que também é de conhecimento geral, mas possui conteúdo de verificação extremamente fácil, é a carta enviada em decorrência desse episódio ao e-mail pessoal de uma estudante da Geografia por três estudantes de História: Giuliana Gasparroni, Camila e Maíra (cujos sobrenomes não foram publicados).
Na carta (que se tornou de conhecimento público) a estudante de Geografia é chamada de “verme parasita” por “estar acostumada a usufruir do que não é seu”, como seria o caso de sua fala na cerimônia de colação, onde estaria “de favor”. Ainda segundo a carta, isso comprovaria que a estudante de Geografia pertence a um grupo de “gente inha” ou de "povo inho”, evidenciando um nítido preconceito de classe.
Em virtude disso, o departamento de História manifestou-se rapidamente em repúdio ao ocorrido através de carta assinada por Yvone Avelino e Mariza Romero (respectivamente chefe e coordenadora do Depto. De História), ação seguida pela professora Olga Brittes, pertencente ao mesmo departamento. A turma dos estudantes de História ingressantes em 2005 publicou uma carta endereçada à direção da Faculdade de Ciências Sociais e a todos os professores dessa Faculdade, assinada em nome e com o consentimento de todos os seus componentes, repudiando o conteúdo da carta e exigindo a cassação do diploma das três estudantes. Diversos outros alunos do curso de História também têm expressado repúdio à atitude dessas estudantes, mediante a publicação de outras cartas divulgadas nas listas da PUC-SP.
Na última reunião do Conselho de Centros Acadêmicos, ocorrida em 18/12, também se debateu o episódio, chegando ao consenso de que a carta possui caráter estritamente elitista e racista, independente das considerações que possam ser feitas do ponto de vista jurídico ou mesmo da opinião pessoal da estudante de Geografia a quem a carta foi endereçada. Em função disso, todos os Centros Acadêmicos presentes assinaram uma carta de repúdio à ação das três estudantes de Historia, defendendo a cassação de seus respectivos diplomas, exigindo o posicionamento da Reitoria e de todos os professores da PUC-SP, além de propor a organização de um ato no dia 22/12 em frente à Reitoria, e a criação de um comitê de mobilização contra a repressão e a opressão na universidade, aberto a todos os estudantes, professores e funcionários da PUC-SP, bem como a quaisquer entidades, movimentos e pessoas fora dela, com o intuito de impulsionar discussões e ações concretas para evitar que episódios como esse voltem a ocorrer.
Diante disso, chamamos todos os centros acadêmicos e todas as demais entidades da PUC-SP e de outras universidades a se posicionaram sobre o ocorrido, mandando moções de repúdio à ação discriminatória de cunho elitista (e racista) das específicas estudantes de História. Assim como comparecerem ao ato de entrega da carta (Terça Feira, 22/12, às 17hs) em frente à Reitoria exigindo o posicionamento da reitoria da Universidade sobre o ocorrido, além da necessária punição às estudantes para que atitudes como essas não sejam reproduzidas na Universidade.
Nesse sentindo, fazemos um chamado especial ao CACS, que vem se abstendo de tomar uma posição pública sobre o ocorrido. O CACS, que carrega a tradição de ser o Centro Acadêmico mais combativo da PUC-SP, carrega também a respmsabilidade imperante de estar na linha de frente das mobilizações. O fato deste episódio envolver dois cursos abarcados pelo CACS, Geografia e História, redobra a sua responsabilidade. Todavia, mesmo após dezenas de estudantes e do próprio Departamento do curso de História declararem repúdio a este desprezível acontecimento, o CACS permanece em silêncio e nem sequer compareceu ao último CCA para debater o ocorrido. Gostaríamos de lembrar aos companheiros do CACS que a omissão não é e jamais foi a melhor forma de solucionar quaisquer problemas.
Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, que dedicamos todas as nossas forças a combater a exploração e a opressão em todas as universidades onde atuamos, entendemos que este episódio não é um caso isolado, mas uma decorrência do modelo elitista e racista de universidade; modelos esse que exclui de suas dependências a imensa maioria da população, que utiliza em larga escala a terceirização de funcionários submetidos a condições de trabalho degradantes e salários miseráveis, que adequou a imensa maior parte de seus currículos e pesquisas de acordo com o interesse das grandes empresas e que persegue e criminaliza os estudantes que tentam antepor-se a essa lógica ao reivindicar maior acesso e democracia. Por isso entendemos como fundamental a participação no ato de 22/12 como parte de uma campanha mais ampla e da construção do comitê de mobilização contra a opressão e a repressão na universidade, do qual endossamos o convite a todos os intelectuais, estudantes, trabalhadores, jovens e todas as demais pessoas interessadas em construir uma sociedade mais digna a participarem ativamente.
Um comentário:
Na verdade a universidade tem caráter elitista mesmo.
O problema refere-se a citação racista e isso deveria ter algum tipo de ação criminal.
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