Ao longo das últimas quatro semanas, dezenas de milhares de estudantes universitários e secundaristas paralisaram suas aulas, organizaram ocupações de reitorias e diretorias de colégios e saíram às ruas em mais de 50 cidades da Alemanha em protesto contra a situação da educação no país. A mobilização dos estudantes alemães deve ser entendida nos marcos da crise econômica e da conjuntura de ebulição do movimento estudantil e da juventude européia que, desde o ano passado, vêm protagonizando ações massivas e radicalizadas em diversos países como Itália, Portugal, Espanha, Áustria e, principalmente, Grécia.
Assim como grande parte dos jovens europeus, os estudantes alemães se levantam contra as reformas empreendidas pelo projeto de educação adotado pela União Européia, chamado “Processo de Bolonha”, que tem como objetivo homogeneizar o ensino básico secundário e o ensino universitário, flexibilizando ambos e tornando-os mais elitizados e funcionais ao capital; adequando os modelos dos cursos universitários, suas respectivas estruturas curriculares e seus programas de pesquisa às necessidades das empresas e reduzindo sua duração. Como parte desse projeto, em diversas universidades da Alemanha passou a ser exigida uma taxa de matrícula dos estudantes que, em alguns casos, chega a custar até mil euros, e que pode se generalizar por todo o país.
Uma frente de organizações estudantis auto-denominada “Greve Educativa 2009” convocou mobilizações contra as reformas de “Bolonha” e exigindo mudanças nos cursos e em suas grades, além de mais verbas para a educação e para a permanência estudantil. Esta frente é encabeçada pelo partido de esquerda “Die Linke”, que coloca como reivindicação –ainda que para a maioria dos participantes da greve seja óbvia a conexão entre, por um lado, a crise econômica e o resgate financeiro promovido pelo Estado aos empresários e, por outro, a miséria do sistema educacional– apenas a melhora ou saneamento do setor educativo, sem ligá-lo às outras questões e demais setores da sociedade. De todo modo, desde a onde de protestos em junho mantém-se um grande espírito de luta e, impulsionadas pela ocupação da Universidade de Viena, entre o final de novembro e o começo de dezembro houve 30 ocupações em diferentes universidades e colégios na Alemanha.
O movimento se generaliza, mas se radicaliza apenas minoritariamente, e suas demandas não ultrapassaram o terreno meramente educacional. Os estudantes experimentaram a força da unidade de ação em manifestações em diversas cidades alemãs, mas também ganharam a experiência negativa de que, apesar dos esforços, ainda não conseguiram nada. Agora há discussões políticas nas universidades, institutos e centros de pesquisa para analisar como o movimento pode avançar e como alcançar as reivindicações em torno de uma educação livre e gratuita.
Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, saudamos a luta dos estudantes alemães, mas entendemos como vital e estratégica a necessidade dos estudantes defenderem-se dos ataques da burguesia através de uma aliança operário-estudantil, ligando-se aos trabalhadores e ao povo pobre e lutando não apenas pela derrota do “Plano Bolonha”, mas pela construção de uma perspectiva que permita a democratização plena da universidade, tanto na sua estrutura de poder como no seu acesso, e que permita a universidade funcionar não sob os interesses da burguesia, mas sim da classe trabalhadora.
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