quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Carta aberta aos companheiros dos coletivos “Nada será como antes” e “Florestan Fernandes"

Temos visto nos últimos anos diversas investidas do governo no sentido de aprofundar o caráter mercadológico e implementar seu projeto privatista nas Universidades Estaduais paulistas. Na USP, João Grandino Rodas foi escolhido por José Serra para cumprir o papel histórico de implementar de vez esse projeto, varrendo quem quer que se oponha. O movimento de estudantes, funcionários e professores tem atuado, ainda que de modo desigual e heterogêneo, como uma verdadeira trincheira em defesa do caráter publico, autônomo e popular para a USP e, por isso, tem sido alvo de toda a ofensiva repressiva por parte da reitoria e governos.

Agora Rodas, o reitor de Serra, dá um passo decisivo, aprovando no C.O. uma reforma universitária para, como diz o Estadão, “fechar os cursos que têm baixa procura, altas taxas de evasão e baixo impacto social, bem como os que não atendem às necessidades do mercado ou foram superados pelo avanço da tecnologia. A manutenção de alguns cursos noturnos também será discutida.” A pró-reitora de graduação, Telma Zorn, fez questão de não deixar tanta margem para dúvidas sobre o que significa “baixo impacto social”, declarando, na última edição do Jornal da USP, que esses cursos “seriam melhor definidos com a troca de ‘social’ por ‘econômico’.” Essa reforma é um ataque muito duro a todos os setores da universidade, que segue medidas como o fim da reposição automática de professores que se aposentem ou faleçam, a quebra da isonomia salarial e a UNIVESP, e assim retoma e aprofunda os decretos lançados por Serra em 2007, e é parte de um processo que já está em curso também nas outras universidades estaduais paulistas, se expressando na degradação das condições de ensino.

Para implementar seu projeto e retomar o controle sobre a universidade, a reitoria aprofunda a política de repressão contra o movimento na USP: se acumulam os processos contra diretores e ativistas do Sintusp e corre um processo absurdo que pretende desligar 14 estudantes da universidade que retomaram, no primeiro semestre, um prédio de moradia estudantil que havia sido indevidamente ocupado pela administração da COSEAS, e agora correm risco imediato de expulsão, sem chance de defesa.
Os estudantes combativos somos por um projeto distinto, que seja voltado às necessidades da classe trabalhadora e do povo pobre. Desde o Bloco ANEL-às Ruas, em conjunto com muitos companheiros de seus coletivos, lutamos pela reorganização dos estudantes e da juventude em torno deste combate.

Para barrar esses ataques, consideramos fundamental trabalhar para reverter o atual estado de fragmentação do ME da USP, e que ele possa se ligar aos estudantes das outras estaduais paulistas e aos trabalhadores que têm protagonizado importantes greves em defesa da universidade. É por isto que temos buscado discutir com todos os setores do movimento estudantil, sobretudo aqueles com os quais compomos uma entidade como a ANEL, a necessidade de discutir a formação de chapas unificadas a partir do combate aos ataques do governo para as eleições do DCE e dos CAs que se aproximam. Infelizmente, por mais de uma vez, nosso chamado não foi atendido por quase todas as correntes e, quando mesmo alguns setores que não concordavam com os termos da discussão que propunhamos, como o Barricadas Abrem Caminhos, colocaram abertamente suas posições, não obtivemos nenhuma posição de sua parte acerca de tais questões decisivas para o próximo período de lutas que se aproxima.
Pelo contrário, nas Ciências Sociais, observamos seu chamado à Unidade com a chapa organizada por setores dos coletivos Contraponto, Barricadas, A hora é essa e independentes, sendo que em nenhum momento buscaram responder ao chamado de Unidade que fizemos. Analogamente, observamos uma carta que, corretamente discute os marcos gerais da situação Universitária, e que convoca todos os setores da esquerda “consequente”, citando vários coletivos, dentre eles o da atual gestão do DCE e CEUPES, a unificarem-se a fim de darem o combate à direita e sua chapa. Deste chamado também fomos excluídos.

Nosso DCE, sabemos, cumpriu um papel importante na construção da passividade do ME neste ano, mantendo os estudantes distantes das principais discussões, disputas e conflitos que atravessaram a universidade. Chegaram ao absurdo de boicotar uma assembléia geral, o que, do ponto de vista de nossa entidade é desmoralizante perante o conjunto dos estudantes.

Nós, do Bloco ANEL-às ruas, estivemos, ao lado de companheiros de seus coletivos, desde o início do ano nas mobilizações de professores estaduais e nas assembléias da ANEL. De nossa parte, nos orgulhamos de ter dedicado nossas forças ao longo do ano ao trabalho de politização dos estudantes nos cursos e salas de aula, com debates, reuniões, e atividades culturais, e à ampliação do apoio à greve do primeiro semestre, propondo incorporação a piquetes, fundos de solidariedade, abaixo-assinados e atos, e ainda agora, contra as medidas repressivas e os novos ataques.

Buscamos sempre, também neste período, a unidade um uma série de ações com os companheiros, a fim de que demonstrássemos a ANEL como um pólo pró-operário no movimento estudantil. Sabemos que ainda há a necessidade de acúmulo de discussão acerca do que representa a ANEL e, aqui, mais uma vez, reivindicamos ações conjuntas neste sentido.

No curso de ciências sociais, buscamos, igualmente, nos unir em torno da tarefa de construir medidas concretas, em conjunto com os companheiros. Isto se dava ao mesmo tempo em que a direção do Ceupes boicotava deliberações da única assembléia ocorrida no ano - o jornal - e ignorava mais de 200 assinaturas reivindicando que ocorresse uma assembléia para discutir o posicionamento do curso na greve. Todos os outros coletivos convocados à Unidade por vocês tiveram não um papel ativo na despolitização e passividade do curso, mas, em distintos graus, iniciativas quase inexistentes de apoio concreto e busca real da aliança operário-estudantil, a qual pressupõe cooperação mútua constante, sobretudo nos períodos de luta. Entretanto, acreditamos que, em base a este balanço, devemos, em unidade com estes setores, combater o projeto do governo.

Temos clareza de que estes ataques que buscam implementar a reitoria e o governo, afetam não somente a Usp mas todo o conjunto das Universidades estaduais e a sociedade. Tendo isto em mente, desde nosso bloco, buscamos organizar setores estudantis do interior do estado e em Universidades particulares, a fim de assentarmos nossa luta por um projeto distinto de Universidade, dada muito a partir da ANEL, sob bases mais sólidas. Os exemplos dos atos e chamados de unidade nas lutas pelo DCE da Unesp, a luta pela redução das mensalidades na fundação Santo André, a gestão conjunta que compomos com os companheiros no Cach da UNICAMP, definem como pensamos que devem se dar os combates aos ataques das reitorias, e demonstram, igualmente a conseqüência de nossa atuação no movimento estudantil.

Nós, que construímos com os companheiros um projeto de reorganização do ME nacionalmente, lamentamos que os companheiros não tenham levado tais questões em consideração quando do chamado à Unidade para estas eleições.
Reivindicamos então, em base a toda nossa atuação conjunta em muitos momentos e todas as tarefas para o próximo período, que revejam sua posição e que possamos discutir a unificação de nossas chapas para as eleições de DCE e CA, a partir do programa da ANEL, que defendemos conjuntamente. E ainda, independentemente disso, que estejam conosco na construção de iniciativas que sirvam para dar mais visibilidade, esclarecer e combater a reforma da USP e os processos repressivos; estamos abertos a todas as iniciativas que proponham, e já chamamos os companheiros a organizar desde as chapas um festival-protesto com esses eixos, nas próximas semanas.
Acreditamos que as eleições são apenas um âmbito da luta, entretanto, nelas devem estar presentes chapas alternativas, pró-operárias, combativas que se prolonguem para além das eleições como verdadeiros grupos de ação, reflexão e contraposição ao governo e às reitorias.

Propomos um passo concreto e sério contra a fragmentação e pela reorganização do movimento estudantil, necessária a este combate. Propomos, então, que esta questão seja discutida seriamente entre nossos agrupamentos.

Esperamos resposta.

Bloco ANEL-às ruas (Ler-qi e independentes) e Grupo de mulheres Pão e Rosas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

HOJE, 1/10: FESTA contra a repressão na USP!

Em defesa dos lutadores! Contra os novos decretos de Rodas! Pela retirada de todos os processos contra estudantes e trabalhadores! Pela readmissão do Brandão!
FESTA!!!



Flier de divulgação da festa feito pela banda "Baratas Organolóides"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ato pela redução das mensalidades e anistia dos inadimplentes na Fundação Santo André

Os estudantes da Fundação Santo André estão hoje construindo um exemplo de luta nas suas faculdades. A reitoria, além de querer aumentar as mensalidades, hoje está abrindo processos judiciais contra os estudantes que estão inadimplentes, impedindo que aqueles que não conseguem pagar as absurdas mensalidades possam estudar. Contra isso, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia (DA da FAFIL), a partir da gestão "Desafiando a miséria do possível", e junto aos estudantes dos outros prédios (FAECO e FAENG), estão impulsionando uma campanha pela redução das mensalidades, pela anistia da dívida dos inadimplentes e retirada dos processos contra estes.

Na semana passada ocorreu uma assembleia seguida de um ato que percorreu os três prédios. Os estudantes do Movimento A Plenos Pulmões, junto com estudantes que compõem a ANEL-SP e o bloco Anel às ruas estiveram presentes para apoiar a luta dos estudantes da FSA. Veja abaixo vídeos da assembleia e da manifestação.









Veja abaixo a nota do DA da FAFIL após o ato:

NOTA DO DIRETÓRIO ACADÊMICO FAFIL/ FSA- GESTÃO DESAFIANDO A MISÉRIA DO POSSÍVEL 2010/2011. http://desafiandoamiseriadopossivel.blogspot.com/



Construindo o bloco ANEL- ÀS RUAS: www.anelasruas.wordpress.com


Viva a luta dos estudantes da Fundação Santo Andre: Avançar na Unidade e no programa!



Dia 02/09 quinta-feira, ocorreu na Fundação Santo André (FSA) uma importante assembléia geral com centenas de estudantes. Nós do DA Fafil tivemos na linha de frente desse processo junto com outros coletivos e setores do movimento estudantil da FSA, chamando assembléias de curso que prepararam a assembléia de ontem, e a unidade com os Professores e outros Prédios do campus. Mostrando que, organizados, como foi em 2007 na ocupação da reitoria e na derrubada do reitor, nós estudantes temos uma força, que as vezes nem imaginamos ter, para enfrentar os ataques da reitoria da FSA.

Porém, a importância dessa assembléia não se mede somente pela quantidade de pessoas presentes, mas fundamentalmente por estarem presentes em peso estudantes da Faeco (Faculdade de Economia) juntos aos da Fafil (Faculdade de Filosofia), e também alguns estudantes da Faeng (Faculdade de Engenharia). A unidade na luta entre os 3 prédios que começa a se concretizar, mostra a força do nosso movimento ao mesmo tempo que amedronta a reitoria e seu projeto de elitização da Fundação.



A aliança de todos os estudantes, com os professores e também os funcionários é a forma de garantirmos à redução radical e geral das mensalidades, o fim dos processos judiciais aos que não pode pagar mensalidade, a anistia da dívida dos estudantes inadimplentes, a melhora na qualidade do ensino de todos os prédios (salas de aulas, laboratórios, etc) e colocar na ordem do dia a necessidade de uma FSA pública, gratuita e de qualidade para toda a população.

É bom que a reitoria já fique preocupada com a força do movimento estudantil da FSA, o que aconteceu ontem vai aumentar, não iremos mais aguentar calados tanto descaso!



Nós estudantes, em sua maioria trabalhadores, cada vez mais temos dificuldades para pagar as mensalidades que vem aumentando ano após ano, frente a isso a assembléia geral votou uma campanha pela redução das mensalidades de todos os cursos da FSA. A reitoria se esquiva argumentando falta de verba. Não podemos acreditar na demagogia da reitoria. Por isso nós aprovamos também a imediata abertura dos livros de contabilidade. Temos o direito de saber pra onde vai toda essa verba que a reitoria diz não ter! E por final, para sermos conseqüentes na luta contra as altas mensalidades, temos que lutar em defesa dos milhares de estudantes que não conseguem pagar e acabam se atolando com dividas e juros em função dos seus acordos, e na maioria dos casos deixando de estudar. Mais de mil estudantes estão sendo processados judicialmente por não conseguirem pagar as mensalidades e acordos exorbitantes impostos por esta reitoria. Não podemos aceitar que estudantes sejam processados judicialmente, com suas contas salário sendo bloqueadas e com oficiais de justiça em suas casas. Votamos na assembléia geral o fim dos processos judiciais, e o fim da perseguição aos inadimplentes.



Aprovamos também a conformação de um comitê de mobilização (1ª reunião hoje sexta feira as 19:30 no DA Fafil) que encaminhará as próximas ações do movimento. Marcar uma audiência pública com a reitoria, e também a data e os preparativos para a próxima assembléia geral confirmada para a segunda-feira, depois do feriado, dia 13/09, aonde possamos massificar ainda mais o movimento se unindo com os estudantes dos outros prédios da Faeco e Faeng e mostrando o caráter questionador e combativo do movimento estudantil. Aprofundando ainda mais as discussões em torno das lutas que estamos travando contra o inimigo comum a todos: a reitoria.



Queremos agradecer a presença dos estudantes de diversas universidades de São Paulo que estiveram presentes em solidariedade ao ato na FSA. Nós do DA Fafil, junto com outros estudantes da FSA, compusemos o bloco Anel Às Ruas que nas reuniões nacional e estadual da ANEL desse final de semana lutou para que esse processo da FSA não ficasse isolado, e que a ANEL de conjunto tome essa luta para si, e seja o início de uma campanha nacional pela redução radical de mensalidades nas universidades particulares, em torno da defesa de um ensino público, gratuito e de qualidade para todas e todos. Queremos agradecer a presença das/os companheiras/os, reafirmar a importância do apoio ativo da ANEL e desde já fazer o chamado para que continuem fortalecendo nossa luta, aportando para a construção de um movimento estudantil combativo que rompa o corporativismo, se alie com as/os trabalhadoras/es e supere a divisão entre os estudantes de universidades públicas e privadas imposta pelos governos e os “donos da educação privada” do país.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Assembleia estadual da ANEL - SP

Veja alguns trechos da assembleia estadual da ANEL - SP, na qual o Movimento A Plenos Pulmões participou compondo o bloco "ANEL às ruas!"





quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Assembleia da ANEL: Reorganizar o Movimento Estudantil! Revolucionar a educação!


Por Movimento A Plenos Pulmões - USP

Assembleia Nacional da ANEL - Sáb, 28/8
Plenária Estadual da ANEL-SP - Dom, 29/8
às 10h, na UNIFESP São Paulo (próxima ao metrô Sta Cruz)

A situação da educação em todos os níveis no país é calamitosa. No ensino superior as mensalidades vão expulsando progressivamente os estudantes das universidades privadas, e nas públicas, cada vez mais sucateadas e ligadas ao conhecimento operacional e lucrativo, mesmo através do ensino à distância mais precarizado, não há vagas para sequer 1% dos jovens.
Mesmo nessas condições precárias, a educação, como todos os serviços públicos, tende a ser ainda mais atacada conforme se aprofunde a crise econômica em curso. Para reverter essa situação é fundamental a organização dos estudantes junto aos trabalhadores, e a luta. Mesmo lutas duras como a dos trabalhadores da USP no semestre passado, em defesa da universidade – que agora é respondida com punições, suspensões e processos contra os lutadores -, ou dos estudantes da Unesp-Marília que reverteram a terceirização do bandejão não poderão transformar a educação se não forem coordenadas nacionalmente.
Para responder a essa necessidade fundamental não podemos contar com a UNE, atrelada ao governo. Os setores do ME que se mantêm unidos a essa entidade já não conseguem mais do que assistir enquanto ela, financiada pelo governo, faz propaganda da demagogia com que Lula busca esconder os ataques contidos em projetos como REUNI e PROUNI, que deterioram o ensino e o trabalho, repassando verbas públicas para os empresários do ensino e mantendo as vagas insuficientes.
Por isso, chamamos todos os estudantes a construir conosco a ANEL, que hoje organiza os setores mais combativos do ME em todo o país. Para, ao contrário da UNE, combater os projetos do governo, e inclusive o discurso eleitoral da “revolução da educação”, que segue formando jovens analfabetos e negando a 6 em cada 7 jovens o acesso ao ensino superior (público ou privado, presencial ou virtual!). Para lutar pela anistia de todos os estudantes inadimplentes, pelo fim do vestibular através da estatização dos grandes monopólios do ensino, por um conhecimento que responda às necessidades da maioria da população e não do lucro, partindo da defesa dos que lutam em defesa da educação e são perseguidos e punidos, um processo em curso avançado na USP sobre o qual não se pode calar.
Independentemente de nossas diferenças com o setor majoritário da ANEL, o PSTU, vemos a construção dessa entidade junto aos setores do ME que protagonizam lutas em todo o país como fundamental, e nos damos essa tarefa na perspectiva de superar os limites que ainda impedem que a ANEL cumpra todo esse papel. Nesse sentido, a ANEL não pode ser construída por fora das principais lutas em defesa da educação, como aconteceu com a greve da USP do primeiro semestre.
Igualmente importante é que a ANEL tenha vida nas escolas e universidades. Assembleias como as do próximo fim de semana não podem continuar ocorrendo distantes dos estudantes, e suas pautas precisam ser discutidas nos cursos, com o maior número de estudantes. A delegação da USP que participará deve partir de uma discussão viva na base do ME; só com esse método a ANEL poderá existir de verdade, como ferramenta de organização dos estudantes, nas assembleias e também nas ruas, nas escolas, universidades, locais de trabalho, e em todas as lutas para transformar a educação e a sociedade.

Por isso chamamos todos os setores que constroem a ANEL e todos os estudantes interessados em conhecê-la a uma
REUNIÃO PREPARATÓRIA DA USP – 26/8, 5ª-F., às 18h, no espaço dos estudantes no prédio de Ciências Sociais

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

HOMENAGEM 80 ANOS SEM MAIAKOVSKI

Visite nossa nova sessão em homenagem aos 80 anos da morte de Maiakovski!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

As greves de trabalhadores e a defesa da educação

(Por Movimento A Plenos Pulmões - USP)

Em que sentido vão as greves das estaduais, e o que querem seus carrascos...


A greve dos funcionários da USP, Unesp e Unicamp, esse ano, despertou mais do que nunca a ira e as críticas dos setores mais retrógrados da universidade e da sociedade. Para eles, os trabalhadores entrarem em greve é uma afronta! Dizem que os trabalhadores da USP são privilegiados e corporativistas, pois ganham muito mais do que os que trabalham na iniciativa privada. Dizem que os trabalhadores são intransigentes e truculentos. Dizem que a USP representa um tipo de sindicalismo que é coisa do passado, que deve acabar, para que a universidade possa voltar a sua “normalidade”.

Os ex-REItores da USP chegaram a publicar um manifesto que dizia, contra os funcionários, que “as táticas da violência antidemocrática de hoje, praticada a despeito de os canais de comunicação permanecerem abertos, não diferem, na essência, dos atentados à liberdade cometidos pelo regime autoritário no passado.” Um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-reitor Waldir Muniz, formado pela Escola Superior de Guerra e que teve a oportunidade de aplicar seus conhecimentos militares como reitor da universidade entre 1978 e 1982. É sempre bom lembrar que, como presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Rodas negou a participação do estado na morte de Zuzu Angel. Quem aplica os métodos da ditadura?

O que esteve em jogo na USP durante o 1º semestre de 2010?

O que estes senhores que estudaram na escola da ditadura militar escondem são as demandas dos trabalhadores e da sua greve. Seriam justas? Vejamos.

A luta pela isonomia: isonomia significa que o percentual de aumento para professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp deve ser igual. Ela foi quebrada pelo Cruesp esse ano, dando um aumento superior aos professores, justamente para dividir o Fórum das Seis (entidades de professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp). A quebra da isonomia é um ataque ao conjunto da universidade, pois não somente divide politicamente os lutadores, mas deixa a reitoria de mãos livres para dar qualquer tipo de aumento diferenciado, beneficiando, por exemplo, as unidades que fazem “pesquisas operacionais” em detrimento das faculdades de humanas, e retomando um ponto essencial dos decretos de 2007.

Aumento salarial: os estudantes reacionários do movimento “Liberdade USP” fizeram um vídeo denunciando os “altos salários” dos funcionários. Eles querem funcionários trabalhando pelo mesmo salário dos terceirizados, que ganham uma miséria de cerca de um salário mínimo. A velha tradição escravocrata da elite brasileira ainda está bem viva. De nossa parte, estudantes que defendem a universidade e os direitos dos trabalhadores, não queremos ser servidos por escravos, queremos que todos os salários da universidade (inclusive dos terceirizados) estejam acima do mínimo para uma família sobreviver, o que, segundo o Dieese, seria de R$ 2092,36. Além disso, é preciso lembrar por que os salários nas universidades são mais altos (ainda que sejam muito menores que o mínimo do Dieese): justamente pela sucessivas greves, pois, se dependesse da boa vontade dos reitores da USP, o salário aqui seria tão baixo quanto em todos os lugares.

Univesp e a verdadeira democratização do ensino: assim como os entrevistadores de Rodas no Roda Viva lembraram, o Sintusp também se colocava contra a Univesp, programa de ensino à distância sucateado. Isso é só uma parte de uma luta maior defendida pelo Sintusp, por uma universidade pública na qual toda população possa estudar, pelo fim do filtro social que é o vestibular, pelo fim do ensino privado e pela estatização, sem indenização, das universidades particulares.

Contra a terceirização: para a revolta da elite retrógrada que governa a universidade - e é ligada ou mesmo proprietária de grande parte das empresas terceirizadas de segurança, limpeza e alimentação da USP -, os trabalhadores da USP também se colocaram em defesa dos trabalhadores terceirizados, defendendo que os seus salários e os seus direitos sejam equiparados aos dos trabalhadores efetivos e que eles sejam efetivados pela universidade. Inclusive, é bom lembrar que um dos processos que pesam na demissão inconstitucional do diretor sindical Claudionor Brandão é por ele defender “interesses alheios” aos da universidade, isto é, ter se colocado em defesa dos terceirizados que supostamente não seriam da base sindical do Sintusp. Vejamos só, quem são os corporativistas!

Quem de fato aplica os métodos da ditadura?

A frase dos reitores é perfeita... para descrever a política deles. Apesar de supostamente abertos os canais de comunicação, as práticas antidemocráticas de hoje não diferem na essência das praticas da ditadura. Rodas lançou a polícia contra os movimentos sociais que protestavam na Faculdade de Direito em 2007. O C.O., a reitora Suely Villela e o governador José Serra, trouxeram ao campus a PM contra os trabalhadores em greve em 2009, o que culminou nas balas de borrachas e bombas de gás cruzando prédios de aula, atiradas contra trabalhadores e estudantes que protestavam. Agora, os pontos dos grevistas são cortados, atacando seu direito constitucional à greve, e os ativistas são perseguidos e o Sintusp sofre uma série de processos na justiça, assim como vários estudantes. Sindicâncias internas são armadas de forma fraudulenta para demitir dirigentes sindicais como Brandão, ou para suspender ativistas - como é o mais recente caso de uma suspensão de 30 dias contra Patrícia, trabalhadora da FFLCH.

Eles dizem que o Sintusp representa um sindicalismo do passado. Ainda bem! Imaginem se ele fosse igual ao sindicalismo do presente, pelego, pró-patronal, corporativista e governista? Muito melhor que se pareça com o “velho” sindicalismo da greve de Osasco em 1968, com democracia de base e com demandas não corporativistas, como a defesa da universidade. Mas, contra esse sindicalismo do “passado”, eles também usam os métodos do “passado”. A repressão e a perseguição política e ideológica!

A defesa da educação, o Sintusp e os estudantes. E o nosso DCE...

Ao contrário do que a reitoria e a direita de dentro e de fora da universidade querem fazer parecer, não fossem as greves – especialmente quando unificam trabalhadores e estudantes -, os ataques que foram feitos pelo governo e reitorias ao longo das últimas décadas teriam deixado a universidade numa situação ainda pior do que ela está. Essas greves se constituíram como principal força de defesa da universidade.

Com a crise econômica, os ataques ao serviço público e à educação pública vão aumentar muito (basta ver o que Serra e Marina declaram publicamente, e Dilma afirma nas entrelinhas). É se preparando para impor essas medidas (como as que em países da Europa demitem até 45% do funcionalismo público, deixando milhões desempregados e destruindo educação, saúde, transporte e outros serviços) que os governos cortaram pontos e atacaram o direito de greve de tantas categorias do funcionalismo no semestre passado. Têm esse mesmo sentido os processos, demissões e punições a estudantes e trabalhadores da USP, que só vão aumentar, começando pelas recentes retaliações a essa greve. Têm esse mesmo sentido todos os ataques à qualidade de ensino na universidade: Rodas, por exemplo, acabou com a recontratação automática de professores que morram ou se aposentem, o que vai lotar ainda mais as turmas e acabar com matérias e cursos.

Nós, estudantes, precisamos voltar a nos organizar e nos mobilizar, em defesa da universidade, em defesa das liberdades democráticas e do direito de greve e manifestação. Nos inspiramos no exemplo dos estudantes de Marília, que estiveram em greve e ocuparam a diretoria do campus, em apoio à greve de trabalhadores que defendia a universidade, e que conseguiram impedir a terceirização do bandejão do campus!

A maioria dos CA's permaneceu passivo no primeiro semestre... o DCE começou o ano defendendo o diálogo com esse REItor, e terminou o semestre com um congresso onde nem disse seu nome, não construiu apoio à greve e só desorganizou os estudantes! Isso não pode mais acontecer! Ao deixar de lado o apoio a essa greve, as principais correntes do movimento estudantil deixaram de lado a defesa da educação e a luta pela transformação da universidade.

Ao contrário, é preciso dar continuidade aos exemplos dos setores das estaduais que estiveram em luta, e à aliança que se forjou entre os trabalhadores da USP, estudantes das estaduais – como em Marília – funcionários da UNICAMP que fizeram sua maior greve contra a posição do sindicato aliado de Lula, e valiosos (ainda que poucos) professores. Essa aliança não deve se encerrar com a luta que se fechou, e já será fundamental para resistir às punições e retaliações que já começaram. É preciso unificar estudantes, trabalhadores e professores combativos para enfrentar um poderoso inimigo que temos em comum, defendendo o interesse geral de boas condições de trabalho, uma boa educação e uma universidade que sirva à população.

Chamamos todos os interessados a aprofundar essa discussão e debater como podemos nos organizar e unificar professores, trabalhadores e estudantes para uma luta em comum.

Reunião aberta do Movimento A Plenos Pulmões da USP
5ª-f., dia 12, às 18h, na sala 12 do Prédio de Ciências Sociais

sábado, 7 de agosto de 2010

João Grandino Rodas no Programa Roda Viva: Esclarecimentos e derrapagens de um REItor.

Por Natália, Paula e André.

A Dinastia.

O reitor da USP João Grandino Rodas no programa Roda Viva da TV Cultura - mais uma vez a demagogia e o projeto de privatização da Universidade

Desde a indicação feita pelo ex-governador José Serra de João Grandino Rodas como reitor da USP, foram muitas as oportunidades deste comprovar que o seu ponto forte é a demagogia. Ainda que bradando aos quatro ventos suas supostas boas intenções de democratizar a universidade e zelar por sua qualidade e excelência, sua participação no programa Roda Viva, no último dia 5, apenas corroborou sua demagogia, tendo como ponto central a falácia de uma gestão comprometida com o “diálogo”. Quem ainda não tinha tido a oportunidade de ver a demagogia de Rodas ao vivo, pôde tirar a prova real nesta entrevista transmitida pela TV Cultura. Como em seu recente artigo publicado na Folha de S. Paulo, Rodas procurou transformar o programa em uma plataforma de campanha para o projeto de universidade que defende, como testa-de-ferro do governo do PSDB em São Paulo, e que vem sendo aplicado também nas universidades federais pelo governo Lula.

Poucos dias depois do fim da greve dos funcionários da USP, onde estes tiveram um importante triunfo que reverteu o não pagamento dos dias parados, em uma situação nacional onde nem ao menos o direito constitucional de greve é garantido1, Rodas foi questionado sobre diversos aspectos de sua gestão: desde a greve dos funcionários e sua reivindicação de isonomia salarial, o papel da PM no campus e sua entrada em 2007 na Faculdade de Direito, a Univesp e o projeto de ensino à distância, a relação da USP com a comunidade ao seu redor e até mesmo sobre a possibilidade de implementação de mensalidades. Mesmo com um time de entrevistadores altamente complacentes, com nomes como a coordenadora da TV Univesp e o “jornalista” Gilberto Dimenstein (que recorrentemente atacou a greve da USP e dos professores no jornal Folha de São Paulo, Rodas não respondeu, de forma direta e clara, a maior parte das questões colocadas, disfarçando seu projeto privatizante para USP em respostas vagas e prolixas.

Quando apresentado pelo programa como um professor dedicado, cuja carreira foi construída em décadas de trabalho e pesquisa na universidade, algumas informações importantes sobre o currículo vitae de Rodas foram “esquecidas”, e nós sempre fazemos questão de lembrar de algumas delas. Além de sua formação em Direito, Educação e Música e suas muitas especializações e pós-graduações, o “magnífico” reitor da USP foi um dos magistrados responsáveis pela isenção de culpa do Estado brasileiro em relação aos crimes de perseguição política, tortura e assassinato durante a ditadura militar, com destaque para sua defesa ao Estado brasileiro no conhecido caso da morte de Zuzu Angel. O reitor do diálogo foi também o responsável pela invasão da PM no Largo São Francisco em 2007 e pela medida aprovada no Conselho Universitário em 2009 que permitia a entrada da polícia no campus da USP. O baluarte da defesa da excelência uspiana, Rodas, então diretor da Faculdade de Direito, emitiu a ordem de transferência da biblioteca, o que ocasionou a destruição de parte importante de seu acervo. O porta-voz da democracia mantém a demissão política do importante dirigente sindical Claudionor Brandão e aprofunda a terceirização - trabalho semi-escravo - na universidade que dirige. Testa-de-ferro do governo estadual, pelo qual foi indicado interventor na USP, atuou durante a greve alinhadíssimo, como já dissemos, com a política do PSDB e do PT, o que para os lutadores significou ataque ao direito de mobilização e corte de salários – este também é o senhor João Grandino Rodas.

Sobre a greve dos funcionários da USP e a possibilidade de um “reajuste equiparado” entre docentes e funcionários

Quando questionado sobre a possibilidade da garantia da isonomia, o ajuste equivalente entre docentes e funcionários, o entrevistado não fez nada mais que repetir o que já havia falado em entrevistas anteriores, dizendo que os trabalhadores da USP são privilegiados e chamando a atenção para a média salarial da universidade, exaltando o piso da categoria que é de 1.210 reais mensais. Disse que os trabalhadores da USP estão em uma “situação confortável”, pois além do fato de que seus salários são mais altos do que a média, os funcionários usufruem de vale alimentação, vale refeição, creche, transporte e... assistência médica.

Ora, nada mais absurdo! Sim, é verdade que o piso é de 1.210 reais e também é verdade que esses auxílios existem. Mas Rodas se “esquece” de dizer outras verdades também. O piso salarial não comporta sequer o que o próprio DIEESE aponta como salário mínimo para uma família!2 Os funcionários passam pelo crivo que avalia a entrada ou não de seus filhos nas creches uspianas. Isso porque não há vagas para todos e tampouco estão construindo mais creches. O auxílio creche é muitas vezes utilizado como complementação de renda dos funcionários, já que os salários não comportam as reais necessidades de sustento de suas famílias3. A assistência médica a que Rodas se refere é o Hospital Universitário (HU), ao qual a autarquização está sendo implementada, e no qual se espera mais de 3 meses para uma consulta, com filas imensas no pronto socorro e diversas denuncias de funcionários com doenças graves, por vezes com fraturas e lesões, sendo obrigados a retornar ao trabalho sem ao menos o atestado de dispensa do dia. Isso o reitor “esquece” de mencionar. E ele também se esquece de dizer que os trabalhadores da USP só não estão numa situação pior graças às greves que fizeram nos últimos anos, pois se dependesse da reitoria e do governo do estado o piso salarial seria como “em todo lugar”.

Rodas explica o porquê do não reajuste equivalente entre docentes e técnico-administrativos dizendo que se tratava de um plano de carreira dos professores, estranhamente dando um aumento salarial igual a todos eles. No entanto, sabemos que a quebra da isonomia no início desse ano faz parte de uma política consciente do Reitor para tentar dividir as categorias da USP, isolando o setor que mais conseqüentemente contesta, combate e resiste às pretensões tucanas na universidade: os trabalhadores e seu sindicato. Aos professores, que compõem uma categoria que, na sua maior parte, há anos tem sido cooptada material e ideologicamente, deu aumento diferenciado. Em relação aos estudantes, Rodas contou com a ajuda, desde o início do ano, do próprio DCE, dirigido pelo MES/P-SOL. Essa mesma corrente política, que não se importa em utilizar dinheiro da Gerdau e da Taurus em suas campanhas eleitorais, teve uma postura conivente com a reitoria desde o início do ano – não denunciando o modo como Rodas foi indicado por Serra, aceitando financiamento da reitoria para a calourada, não dando continuidade à luta estadual contra a Univesp e, de costas para a mobilização do ano passado e para os estudantes da USP, definindo no Conselho de Centros Acadêmicos (CCA) que a nossa bandeira seria a “instituição de uma comissão paritária para acompanhar a implementação da Univesp”. Durante o conflito deste ano, a gestão do DCE não travou uma luta sequer em apoio ativo aos funcionários em greve. Se é verdade que a massa dos estudantes, ao contrário de 2009 e 2007, estava passiva, a política do MES/P-SOL foi a de aprofundar essa passividade, transformando o tédio em melancolia. Ao contrário de tentar reverter a situação, sabotaram e manobraram o quanto puderam para frear qualquer ação que pudesse romper com o cerco de Rodas à greve e a cercasse de solidariedade ativa, como fizeram, por exemplo, os estudantes da Unesp de Marília. No final das contas, Rodas e o governo do PSDB estavam bem preparados para enfrentar a greve das estaduais, cuja força motora seria a mobilização dos trabalhadores da USP e ainda contava com professores satisfeitos com seu reajuste, DCE de costas para a greve com a massa dos estudantes passiva e, no âmbito nacional, uma campanha reacionária de tucanos e petistas contra o direito de greve e pelo corte do ponto dos lutadores.

O que o governo estadual, Rodas e o Cruesp certamente subestimaram foi a capacidade de mobilização de setores importantes das estaduais e de fora delas. Enquanto o Cruesp se negava a negociar, os estudantes de Ciências Sociais e Filosofia da Unesp de Marília entravam em greve e ocupavam a diretoria de seu campus para barrar a terceirização no bandeijão de lá, pela abertura imediata das negociações, em solidariedade à greve dos trabalhadores das universidades estaduais e contra o corte de pontos. Focos de apoio surgiram em outros campi – Araraquara, Rio Claro, Franca, São José do Rio Preto. Trabalhadores da Unesp paravam em todo o estado, trabalhadores da Unicamp se mantinham em greve, contra a burocracia stalinista do PCdoB que imobiliza o STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) há décadas. Estudantes da Unesp, da Unicamp e um setor de estudantes da USP acompanharam os trabalhadores em seus atos na Rua Itapeva (em frente à sede do Cruesp) e no campus do Butantã. Nós, que construímos o Movimento A Plenos Pulmões e o grupo de mulheres Pão e Rosas, temos orgulho de dizer que paramos a Av. Paulista por duas vezes expressando nosso apoio à greve e o repúdio ao corte de ponto, não só dos trabalhadores das estaduais, mas também dos judiciários, que enfrentavam - e enfrentam- uma duríssima luta. Professores como Jorge Souto Maior, Leonel Itaussu, Luiz Renato Martins e Chico de Oliveira também expressaram publicamente seu apoio – os dois últimos dando aulas públicas na ocupação da reitoria da USP. E justamente um dia depois dessa ocupação, os trabalhadores do judiciário ocuparam o fórum João Mendes, mostrando que a combatividade dos trabalhadores da USP e do Sintusp dá exemplos para os que estão fora da universidade.

A pretensão e a arrogância de Rodas caíram por terra. Apresentado inclusive no Roda Viva como o reitor que tinha a tarefa de interromper o ciclo de greves na USP, João Grandino teve que retroceder no corte de ponto de mais de 1500 trabalhadores – o que, aliás, não foi questionado por nenhum dos entrevistadores da Cultura -, reconhecendo a validade política da greve e dos métodos de luta escolhidos pelos funcionários como legítimos e eficazes para barrar os ataques. Os trabalhadores da USP deram um exemplo – na Universidade de São Paulo não tem corte de ponto!

Sua nomeação na lista tríplice e sua legitimidade

Quando questionado sobre sua nomeação mesmo em segundo lugar, defendeu a estrutura de poder antidemocrática através da qual foi eleito, reivindicando o exemplo da Universidade de Coimbra em que apenas cem pessoas escolhem o reitor. E para refutar a falta de legitimidade de sua escolha, feita por Serra em contraposição ao próprio Conselho Universitário, Rodas atacou o setor que leva a crítica ao regime universitário até as últimas conseqüências, e que no ano passado, encabeçado pelo Sintusp e com apoio tímido do PSTU, que estava na gestão anterior do DCE – Nada Será Como Antes lançou a anticandidatura de Chico de Oliveira. Segundo Rodas, as críticas à sua falta de representatividade não seriam legítimas pois os que as fazem “sequer reconhecem o Conselho Universitário”.

Ora, sim, é verdade que os setores combativos não reconhecem o Conselho Universitário! E como poderiam? Afinal, qual a função do Conselho Universitário? Perpetuar a Universidade tal como ela é hoje: anti-democratica do começo ao fim! A começar pelo acesso a ela, pois quem estuda na USP hoje são os que conseguiram passar pelo filtro social do vestibular. Os filhos dos funcionários estudam na USP? Não. A população pobre estuda na USP? Raras exceções. E quando conseguem entrar nesta universidade, não tem sequer como se manter cursando a universidade. A falta de moradias é latente. A mais do que legitima retomada da moradia estudantil pelos estudantes no começo deste ano é fruto da política elitista dentro da universidade. Existe trabalho semi-escravo dentro na universidade. Os terceirizados trabalham em condições precárias, recebendo um salário mínimo, isso quando recebem. Este ano a empresa Personal ficou mais de dois meses sem pagar os funcionários e ainda por cima, quando estes se rebelaram e entraram em greve foram demitidos e muitos estão até hoje sem receber o acerto e sem ter baixa na carteira.

Nós, junto aos setores combativos da universidade, estivemos na linha de frente no enfrentamento com este conselho, que reúne uma casta de professores titulares que administram a universidade em seu próprio interesse, aumentando as verbas para as terceirizações feitas por empresas das quais são donos, e aumentando o espaço para as fundações privadas dentro da universidade. Aliás, os representantes que desfrutam de legitimidade neste espaço são aqueles eleitos pelos funcionários com mais de mil votos, e que ali estão com o papel de denunciar seu papel reacionário, aliado à sua luta pela democratização radical da universidade por fora deste espaço viciado.

Mensalidades na USP, privatização da universidade e ensino a distância

Dimenstein, se apoiando na proposta do candidato Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, de impor o pagamento de mensalidades em universidades públicas e bolsas de estudos para estudantes que não podem pagar, indagou Rodas acerca de sua posição em relação à cobrança de mensalidades para estudantes “ricos”. O reacionário jornalista da Folha perguntou ao reitor se não seria “quase uma questão moral” o retorno de estudantes ricos para a universidade em forma de prestação de serviços. Rodas procurou não responder diretamente, dizendo que essa questão é um tabu no Brasil e que há muitos contrários à privatização, mas fica nítido que ele defende o fim de um direito, o direito básico de educação gratuita. E afirma que essa questão será discutida no futuro.

Skaf parte de um fato inquestionável: os estudantes mais pobres não estão nas universidades públicas, estão nas particulares. Mas se a proposta deste representante da burguesia industrial paulista é séria, ele deveria propor também a estatização, sem indenização de todas as faculdades particulares. Sabemos que o interesse de Skaf não é o de fazer justiça social, mas sim de desmantelar a educação, transformando-a em mercadoria para que o Estado, num próximo momento, possa estender sua mão aos “mais necessitados”: os empresários, os banqueiros, os ricos, que com a crise capitalista sabem que os tempos de bonança estão chegando ao fim. É por isso, e só por isso, que propõe a mensalidade nas universidades públicas.

E Rodas responde a Dimenstein: “Essa questão é um tabu no Brasil. Realmente existe toda aquela tradição constitucional no Brasil em que o ensino é um direito, e o Estado deve prover este ensino. Só que no Brasil, diferentemente de quase todos os outros países do mundo, esse direito chega até o ensino superior, e não só ao ensino superior de graduação, de pós-graduação também (...) é o único país no mundo (...). Entretanto, o que nós verificamos é o seguinte, este é um aspecto a ser pensado, mas não creio que seja tão simples como esse candidato imagina (...). Poderia ser justo, mas pode não ser conveniente neste momento.”

Quando Rodas diz que o momento não é conveniente é justamente porque ele sabe que não há respaldo dentro e fora da Universidade para impor esse tipo de política hoje. No entanto, isso não quer dizer que nada venha sendo feito nesse sentido. Nada surpreende nessa afirmação do reitor, que já vem desde sua candidatura defendendo uma parceria público-privada mais profunda na USP e uma maior autonomia das fundações. O projeto de Rodas não é novo: é o projeto do PSDB para a universidade.

Foram algumas as perguntas ao reitor em relação ao ensino à distância. Na USP já são dois anos de “cursos experimentais” de graduação e pós-graduação. Foi questionado em relação ao posicionamento do SINTUSP em relação ao ensino à distância. Rodas cinicamente respondeu que o sindicato, os funcionários e grande parte dos estudantes se posiciona contrário ao ensino à distância pelo “medo do novo” e o sentimento de posse em relação à Universidade Pública. Longe de democratizar o ensino, o que a Univesp faz é sucateá-lo, barateando o custo da educação nos setores que menos interessam à burocracia e ao reitor, como é o caso dos cursos de licenciatura.

E a polícia no campus, magnífico Rodas?


Como dissemos, o reitor Rodas foi quem em 2007 deu a ordem de invasão da PM na Faculdade de Direito e em 2009 propôs a resolução de entrada da PM no campus, o que culminou com a dura repressão a manifestação pacífica de estudantes e funcionários dentro da Universidade, como não se fazia desde os tempos da ditadura militar. E fez mais: em sua posse ocorrida na Sala São Paulo, no começo de 2010, o reitor do diálogo deixou entrever o conteúdo repressor e autoritário de sua política vindoura ao reprimir aqueles que ali repudiavam, em ato, tanto tal “solenidade”, quanto a estrutura de poder retrógrada e antidemocrática da Universidade, a qual nos faz lembrar dos tempos de suseranos e vassalos.

Sobre isso foi questionado, e respondeu: “Nós não estamos em 68 mais. Em 68 nós não tivemos a polícia no campus, eu era aluno, ali do campus! E lembro perfeitamente quando o exército entrou e cercou o Crusp e levou as pessoas, porque nas salas de aula nós tínhamos três ou quatro quando devíamos ter vinte. O que nós vemos hoje é uma ojeriza a controles externos. Entretanto, é preciso lembrar a seguinte questão: a polícia não é mais o exército de 68, ninguém gostaria de ver a universidade balizada pela questão policial. Entretanto é importante lembrar que nos campi da Universidade de São Paulo há que existir a proteção das pessoas...”. Que ironia! O reitor que defendeu com unhas e dentes a ditadura e seu aparato repressivo, agora diz que não gostaria de ver a universidade balizada pela questão policial. Pois então porque recorre à repressão policial quando de manifestações políticas dentro do campus?
Não há nada mais falso!
Rodas avança e diz que a Polícia é ojerizada por seu caráter repressivo, quando ela não é só repressiva.
Ora, a polícia cumpre um papel distinto do passado? Quando assassina friamente os negros, jovens, pobres das favelas em todo o estado? Quando considera a população sem direitos e sem condições, as quais vivem em favelas e áreas de risco, como transgressores da lei a serem disciplinados? Quando reprime estudantes, sem teto, sem terra, professores, e trabalhadores de todas as categorias? A polícia é o exército de ontem. Seus comandantes se utilizam da mesma lógica militaresca que estabelece inimigos de um lado e cidadãos, em abstrato, do outro. É a mesma força que ficha, estuda e vigia -e ensina a vigiar- os ditos transgressores. É a mesma força utilizada para garantir a vitória, dos iluminados gerentes do Estado, em qualquer impasse.

Ainda acerca da suposta ”segurança” na USP, Rodas comenta o papel da Guarda Universitária como uma guarda patrimonial e que, o papel de proteção de indivíduos deve ser desempenhado pela PM. Indagamo-nos se faz parte da proteção patrimonial da Universidade o espancamento de estudantes nas moradias estudantis, como relatado neste ano de 2010. No mesmo sentido, fica a dúvida se a orientação repressiva observada cotidianamente no trato com os jovens e crianças vindos da são remo -comunidade próxima da USP- se dá com o intento da proteção de patrimônio. A questão que, inevitavelmente, paira no ar é: Patrimônio de quem? Ou melhor, Para quem?

Das contradições Rodanas ou Como inverter a lógica da realidade

Em sua entrevista, o fabuloso REItor possibilitou a toda a sociedade uma oportunidade singular de realmente entrevermos muito do conteúdo de sua orientação como regente universitário. Em pouquíssimas situações poderíamos observar o quanto se opõe à realidade dos fatos o que coloca Rodas. Indagado acerca da dita “crise de representatividade”, Rodas, se valendo de toda sua velhacaria, afirma que sim, há uma crise que precisa ser sanada no próximo período. Contudo, reafirmando de maneira cínica que não advoga por tal questão, exalta os exemplos europeus, nos quais “vemos pouco mais de cem pessoas” decidindo os rumos da universidade e essa é a tendência contemporânea. Aproveitando a deixa, coloca que um dos obstáculos para o aumento da representatividade é a suposta “obscuridade” da seleção dos representantes dos trabalhadores. Ora, não conseguimos conceber o quão obscuro pode parecer a eleição de representantes dos trabalhadores - que se dá aos milhares de votos e de maneira clara - frente a obscuridade das decisões às portas fechadas do CO (conselho Universitário); Mais obscuro ainda é a razão pela qual se justifica o fato de que organizações privadas como a FIESP, tem mais representatividade no CO do que os trabalhadores. Um buraco negro, em termos de obscuridade, é o fato de uma federação de industriais participar das decisões universitárias e pouquíssimos saberem disso. Basta um feixe de luz para extirpar toda a escuridão: Participam devido ao fato de que a Universidade está - e ruma- a seu favor e o CO trabalha por isso.

O democrático Rodas argumenta acerca da necessidade de rotatividade nas representações dos trabalhadores, ditas “controladas” pelas mesmas pessoas e idéias manipuladoras. A velhacaria de seus sofismas se torna clara pela inevitabilidade dos fatos concretos. O que foi a sucessão de reitores senão uma variação, menor ou maior, de autoritários e burocratas ligados ao interesse de grupos privados?
Quem manipula quem: um sindicato que se dissolve nos períodos de luta e possibilita a participação e eleição de todo e qualquer trabalhador para dirigir o processo de mobilização ou um conselho de pouquíssimos vassalos fora de época, encabeçado pelo digníssimo REItor, que decide tudo pelas costas - e em nome - da comunidade universitária e da sociedade? Este é um belo exemplo de diálogo e organização democráticos!

Quando indagado acerca do ensino pago na USP, rodas é categórico e elucidativo; diz que todos os que se contrapõe a esse projeto são os que se colocam mais a esquerda do status quo. Assim como teve de assumir a legitimidade da luta dos trabalhadores, atitude que se expressa no pagamento dos dias parados, Rodas deixa claro que tanto ele, ao defender o status quo, está a direita, quanto os trabalhadores e estudantes que os apoiam estão à esquerda. Defende ainda a tese de que este setor se opõe as mensalidades devido ao sentimento de posse, da apropriação da universidade pública. Ora, se os trabalhadores e estudantes apoiadores se colocam mais a esquerda e, como temos visto, defendem a ampliação radical do acesso e a universidade a serviço da maioria da população, ou seja, dos trabalhadores e do povo pobre, como é que podem apresentar um desejo egoísta de manter a “sua” Universidade?
Mais uma vez a realidade objetiva solapa seus sofismas e inversões.
Nosso REItor discursa acerca da dificuldade de se aceitar doações privadas devido a tal sentimento de posse da comunidade, a qual não gosta da participação de terceiros na vida universitária. Coloca que a sociedade é a beneficiária fundamental da Universidade, a qual, por sua vez, não deve apenas beneficiar a ínfima minoria da comunidade. No mesmo bloco, ressalta a necessidade premente de desenvolvimento de políticas públicas e de pesquisas “desinteressadas” por parte da Universidade.
Desastrado Rodas... Não percebe o quanto entrega o caráter elitista do status quo que defende ao exaltar tantas vezes a “minoria ínfima”!!
Quando define os terceiros como doadores milionários e ciclistas - os quais devem ser protegidos por seguranças privados ou a PM, nas palavras de Rodas -, não percebe o quanto deixa claro a quem ele serve. Ao dizer que as comunidades no entorno da USP utilizam a universidade para fins de lazer e diversão, quando o que vemos é a massa dessas comunidades trabalhando em cargos terceirizados, precários, tendo seus filhos humilhados pela guarda universitária, que praticamente os persegue por todo o campus pelo simples fato de “ali não ser seu lugar”, entrevemos o cinismo de Rodas.
Ao mesmo tempo, ao advogar pelas doações , e assim, pela participação da “iniciativa privada”, juntamente com a questão das “pesquisas desinteressadas”, deixa claro que não está interessado em “retribuir” à sociedade coisa alguma. Em 2007 os decretos de Serra tentaram estabelecer investimento público diferenciado aos cursos “operacionais” (entenda lucrativos) clarificando os planos privatistas do estado; em 2010 quebra-se a isonomia e o dito pacificador Rodas, ao lado de seu conselho e seus suportes, como a FIESP e todas as fundações e empresas de terceirização em posse de professores, desenvolve o movimento inicial de seu novo plano para alterar a correlação de forças, quebrar o ciclo de greves e garantir as bases para a implementação de seu projeto de Universidade, cuja imposição há muito tem sido tentada. Contudo, não contaram com a potência de algumas variáveis.

A verdadeira Defesa da Universidade, da educação e da sociedade


Devemos partir de um ponto decisivo para o entendimento da realidade: ela não foi e, provavelmente, não será a mesma de hoje. Esta assertiva nos garante a postura necessária para desnaturalizar as condições atuais da realidade. Os exemplos de luta pela contratação de professores, contra os decretos, por mais moradia estudantil, por mais políticas de permanência, são exemplos de que o que se há hoje na universidade é fruto da mobilização e questionamento. A realidade é dinâmica e, invariavelmente, a realidade universitária também. Sendo assim, muda.
Sempre que possível os gestores universitários tem tido a linha de vulgarizar o que foram - e são- os movimentos de luta, caracterizando-os como corporativos, mesquinhos, salariais e atacando suas bases, o que se evidencia pela tentativa de corte de pontos dos trabalhadores. Esse é o “diálogo pacífico” que tenta criar as condições para retroceder as conquistas de outrora.
Verdade seja dita, os trabalhadores da USP são aqueles que, há anos, contra a corrente, tem lutado pelos interesses mais amplos de TODAS as categorias e, inclusive, da própria sociedade. Radicalização do acesso, por uma universidade cuja pesquisa e conhecimento estejam a serviço dos trabalhadores e do povo pobre- e não de AVON, ODEBRETCH, NIKE - , contra a terceirização, contra a UNIVESP, pela manutenção da ligação entre o HU e a USP - a fim de que atenda a todos gratuitamente- por mais verbas à educação, enfim, tudo isso só corrobora o fato de que, muitas vezes sozinhos, os trabalhadores tem sido a linha de frente na defesa da Universidade. Rodas sabe disso. Por isso tenta dividi-los das demais categorias e sociedade.
Devemos entender a realidade não do ponto de vista imediato e estático, como se vivêssemos numa fotografia, mas do ponto de vista dinâmico e mais amplo, como um filme. Observamos o processo de crise generalizada que se espalha pela Europa e, igualmente, temos visto que a resposta dos governos é o corte de direitos e salários dos setores públicos e de verbas para os ditos “direitos sociais”. A educação é um deles e tem sido duramente atacada. Apesar da aparente calmaria, o que nos espera é um período turbulento de crise sistêmica, a qual, ao que tudo indica, afetará o Brasil de maneira distinta. Os aspirantes ao governo, bem sabem disso e preparam-se para desferir golpes mais duros num próximo período, o que significa corte de verbas para educação e a decorrente queda da excelência, insuficiência de professores, evasão, precarização estrutural... Historicamente o único setor que efetivamente fez frente a tais planos privatistas e austeros, foram os trabalhadores. Não podemos acreditar na imutabilidade do real! Se queremos uma Universidade de qualidade, pública, gratuita e , além disso, queremos sedimentar as bases para discutir e lutar por um projeto distinto de Universidade, o único setor com o qual podemos contar é o de trabalhadores! Os verdadeiros anseios democráticos se evidenciam em suas lutas e não nas contradições de nosso Reitor. As mentiras encobertas pelo glacê retórico de Rodas começam a se desvelar e se evidenciarão com a agudização da crise econômica. Precisamos avançar em nossa preparação com lucidez. Se não podemos defender o que temos, nunca poderemos conquistar algo além!

Nesse sentido, apenas a mobilização, reflexão, discussão e organização entre aqueles professores, estudantes e trabalhadores dedicados a tal defesa e que reconhecem a sua necessidade, é que podem efetivamente conservar o já conquistado e avançar no muito que ainda precisa o ser.

Por isso convocamos todos aqueles que queiram atuar e discutir, de maneira mais aprofundada, como materializar uma frente em defesa da Universidade e educação a fim de que, assim, possamos garantir um futuro distinto para seu papel e sua qualidade, a entrarem em contato e participar de nossas reuniões abertas.

domingo, 25 de julho de 2010

Burocracia Acadêmica da PUC Campinas se orgulha dos generais genocidas

A ditadura militar no Brasil, sustentada pelo empresariado nacional e estrangeiro, foi responsável pelo assassinato de 400 pessoas, entre trabalhadores, estudantes, artistas críticos e militantes em geral. O regime dos generais era o último recurso que a burguesia encontrara para deter as crescentes mobilizações da classe operária e de outros setores populares.

Em 1968 o regime ditatorial tem um salto de qualidade, já que naquele momento também cresciam as greves e lutas contra a ditadura e sua política econômica, e toma uma série de medidas e ações, através do conhecido Ato Institucional n° 5, que além de fechar o Congresso Nacional também colocou fim às já reduzidíssimas liberdades democráticas daquele período. São os tempos do general Emílio Garrastazu Medici (1969-1974), que além de aprofundar o regime de torturas, perseguições e morte institucionalizada nos “porões da ditadura”, também criou uma ampla campanha ufanista para iludir a população sobre as possibilidades do Brasil e os supostos “milagres” ocorridos na economia brasileira.

Os 20 anos de ditadura não só foram responsáveis por mortes, prisões e tortura de milhares, como foram fundamentais para encerrar um importante período de lutas operarias e criar os alicerces de uma democracia “manca”, uma democracia burguesa, cujas instituições seguem até hoje mergulhadas na corrupção e baseadas na inoperância dos serviços essenciais à população pobre e na máxima eficiência em criminalizar a pobreza e todos aqueles que se arriscam a colocar em prática garantias constitucionais como o direito de greve. Um regime democrático extremamente tímido que segue garantindo a impunidade daqueles que torturaram e mataram nos anos de chumbo, bem como a existência de arquivos secretos que poderiam comprovar inúmeros outros casos de torturas e assassinatos da ditadura.

25 anos depois, ilustrando bem a farsa da democracia dos ricos, a ditadura e os militares genocidas seguem sendo reivindicados por inúmeras entidades e instituições do país. Exemplos não faltam. Seja nos inúmeros artigos entusiasmados sobre a política econômica da ditadura que o jornal “O Estado de S. Paulo” freqüentemente publica, seja nas declarações de amor da “Folha de S. Paulo” para com a ditadura ao dizer que essa não passava de uma “dita branda”.

Assim que nem as universidades escapam da influência reacionária dos anos de ditadura. Constatamos que, na PUC Campinas, também há outro exemplo de relação íntima com a ditadura. Nessa universidade, desde 1973, há uma placa que homenageia Emilio Garrastazu Médici, o general que esteve a frente dos anos mais nefastos do regime militar e responsável pela decretação do AI n° 5. Este fato parece não incomodar a Reitoria da Universidade, que, diga-se de passagem, é subordinada a Igreja católica cuja cúpula sempre teve intimas relações com a ditadura. Essa mesma burocracia da PUC Campinas, complacente com as homenagens aos genocidas, é bem atuante quando se trata em reprimir os estudantes dessa faculdade que se colocaram em luta no ano passado para garantir o direito fundamental à permanência estudantil e contra a crescente mercantilização do ensino na referida universidade.

O fato de ser na PUC, em particular, esta homenagem aos torturadores e assassinos da ditadura militar trás um caráter ainda mais escandaloso, já que a PUC de SP foi o palco da fatídica invasão comandada por Erasmo Dias em 1977, invasão que terminou com um grande número de estudantes preso e agredidos – muito representante da truculência da ditadura militar. Como resultado desta invasão, a própria reitoria na época repudiou a atitude da ditadura e a partir de então por algumas décadas corretamente a polícia esteve proibida de entrar na PUC-SP (ao contrário, por exemplo, da USP, em que a Academia de Polícia estava dentro da universidade). Assim, a PUC-SP se colocava como uma referência na resistência contra a ditadura, recebendo os professores da USP que haviam sido perseguidos pela ditadura etc.

Mancha a história dessa universidade em geral, portanto, o fato da atual burocracia acadêmica – com total ingerência da Igreja – não se manifestar frente esse caso da homenagem ao Médici, mantendo uma política criminosa e complacente com essa história nefasta da ditadura.

É de extrema importância a manifestação ativa (com realização de atos, debates, abaixo-assinados etc.) dos estudantes, funcionários e professores da PUC Campinas, junto com todos os grupos e setores que lutam efetivamente pelo direito à memória e a verdade e pelo fim da impunidade aos torturadores do regime militar, para que essa homenagem seja cancelada. Nossa luta deve ser para homenagear os milhares de militantes que entregaram suas vidas na luta contra a ditadura. E a melhor homenagem é a garantia da punição aos torturadores, e seus cúmplices empresariais, que continuam impunes.

Rafael Borges (Direito Unesp Franca)
Felipe Caetes (Direito Mackenzie e membro do grupo Tese 11)
Diretório Acadêmico Honestino Guimarães (Fafil - Fundação Santo André) - Gestão Desafiando a Miséria do Possível
Centro Acadêmico de História da UNESP Franca
Bia Michel (Integrante do CASS PUC-SP)
Iuri Tonelo (membro do Centro Acadêmico e Ciências Humanas da Unicamp)
Daniel Bocalini (membro do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Unesp de Marília).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Chega de trabalho precário nas universidades! Abaixo a terceirização!

No dia 19 de Junho, ainda durante a greve dos trabalhadores da USP que conseguiu impor uma derrota ao projeto dos governos federal e estadual de corte dos salários de todos os trabalhadores que organizem greves, a Folha de S. Paulo divulgou um aumento de 85% da verba destinada à terceirização na universidade em apenas dois anos. Este fato é de fundamental importância para todos os que defendem a universidade pública e os direitos da classe trabalhadora.

Trabalhadores do bandejão da química

De onde vem a terceirização?

A terceirização é algo que ganhou espaço decisivo entre trabalhadores do setor público e privado fundamentalmente nos anos 90. Acompanha uma série de medidas de precarização do trabalho que foram colocadas em prática durante o período do neoliberalismo, que atacam não apenas os direitos e salários dos trabalhadores, mas também a sua unidade enquanto classe, a sua possibilidade de organização sindical e política.

Os trabalhadores terceirizados sofrem assédio moral cotidiano e não tem uma série de direitos elementares garantidos, como podemos ver em diversos casos na própria USP. Em 2006, por exemplo, os estudantes do Movimento A Plenos Pulmões atuaram em uma campanha ao lado dos trabalhadores terceirizados da empresa Higilimp, que se organizaram para lutar contra o atraso de vale transporte, assédio moral e outros absurdos que sofriam. Contudo, a incapacidade do movimento estudantil de conjunto se aliar aos trabalhadores nesta luta levou a que a empresa conseguisse passar a demissão de vários dos que estiveram na linha de frente deste combate. Os casos que vem à tona são freqüentes (imaginem então os que ficam acobertados): em 2008, perseguição ao vigilante Eliseu, que trabalhava na empresa Evik, por denunciar as precárias condições de trabalho a que estava submetido; em 2009, o não pagamento dos salários e vales dos trabalhadores da empresa Personal e sua posterior demissão. Entre tantos outros.

A que e a quem serve o aumento da terceirização na USP?

Não é à toa que cada vez mais se eleva a verba destinada à terceirização na USP. Por trás do falacioso e demagogo discurso de “otimizar os gastos”, há muito mais podridão do que podemos ver. Para podermos vislumbrar alguns aspectos do futuro da USP, caso não revertamos o deslanche das terceirizações, basta olhar para a Unicamp, onde um sindicato dirigido pelos burocratas e pelegos do PCdoB não travou um combate sequer contra a terceirização durante décadas e hoje a universidade conta com grande parte do quadro de funcionários terceirizado.

Um dos elementos fundamentais decorrentes disso é a divisão dos trabalhadores. Os sindicatos dos trabalhadores terceirizados, quando existem, não passam de um confortável ninho para os abutres da burocracia sindical repousarem, enquanto dão as mãos aos patrões para atacar os trabalhadores. É o que ocorreu em 2006 na USP, por exemplo, quando o SIEMACO (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo) chegou a mandar capangas contratados para agredir os trabalhadores que deveriam representar. A constante ameaça de transferências para outros locais de trabalho é um fantasma que impede que os trabalhadores criem qualquer vínculo pessoal ou político em seu cotidiano. São, muitas vezes, até mesmo explicitamente proibidos de conversar com estudantes ou professores, no caso das universidades, tratados como uma “casta inferior” dentro do campus. No bandejão da USP, um trabalhador terceirizado não pode comer, mesmo que trabalhe ali todos os dias!

A terceirização também é basilar na adequação do modelo de universidade que os governos há anos pretendem implementar. Permite o enxugamento do quadro de trabalhadores, substituindo-os essencialmente por terceirizados e por alunos “estagiários”. Este enxugamento se combina também a outras formas de precarização do ensino, como o Ensino à Distância (EaD), que permite acabar com a necessidade de grande parte da infraestrutura da USP.

Por último, mas não menos importante, devemos sempre lembrar que o aumento das verbas para a terceirização é aprovado no Conselho Universitário, onde uma camarilha de professores titulares decide os rumos da universidade em seu próprio benefício. Assim, se por um lado eles podem se tornar “empresários sem capital” através da expansão desenfreada das fundações de direito privado, através das quais podem lucrar milhões, por outro lado o filão aberto para a terceirização também é disputado pelos olhos gordos dos parasitas universitários como uma oportunidade para se tornarem verdadeiros capitalistas. Assim é com a empresa Starbene, responsável por administrar o bandejão terceirizado da química, através da qual o professor da ECA Mario Beni enche seus bolsos. Ou a famigerada Evik, empresa de vigilância terceirizada que atua em grande parte da USP, de propriedade de Ronaldo Pena, chefe da guarda universitária e policial civil.

Sigamos o exemplo dos trabalhadores da USP e dos estudantes de Marília!

Em um cenário em que a burocracia sindical é absolutamente complacente com a patronal e os governos em seu aprofundamento da precarização do trabalho, e em que os partidos e organizações de esquerda se adaptam profundamente a esta situação, é imprescindível nos espelharmos nos exemplos dos que rompem com esta passividade. O sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp) há anos atua em defesa dos trabalhadores terceirizados da universidade, tendo inclusive sofrido diversas perseguições por conta disto, como multas e a demissão de seu dirigente Claudionor Brandão (um dos motivos alegados pela reitoria é que Brandão teria cometido um “desvio de função sindical” ao atuar em defesa dos terceirizados posto que “se tratavam de interesses alheios aos dos trabalhadores da universidade”). Não podemos aceitar passivamente a naturalização desta divisão e desta superexploração! Devemos nos mobilizar ao lado dos trabalhadores para barrar os novos processos de terceirização e exigir que os trabalhadores terceirizados sejam incorporados sem concurso público! Aos que dizem que isto é impossível, mostramos a luta dos estudantes da Unesp de Marília, que além de terem colocado de pé uma greve com ocupação de diretoria em solidariedade ativa aos trabalhadores das estaduais paulistas, conseguiram reverter o processo de terceirização do bandejão do seu campus. O que os estudantes disseram era que a abertura do bandejão à noite, que era uma conquista de sua mobilização, não podia se reverter em mais exploração para a classe trabalhadora.

Contra a terceirização!

Que todos os terceirizados sejam incorporados à universidade sem concurso público!

Abaixo os lucros dos parasitas do Conselho Universitário! Que suas empresas sejam expulsas da universidade e o CO dissolvido!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fim da Greve na USP; Exemplo de combatividade dos trabalhadores.



57 dias se passaram desde que os trabalhadores da Universidade de São Paulo, afrontados com a quebra da isonomia, propositadamente implementada visando dividí-los dos professores, entraram em greve. Suas principal reivindicação, nesse sentido, era a recomposição da isonomia, o que implicaria a extensão do reajuste dado aos professores, a eles. Somadas a ela, estavam a reivindicação de 16% de reajuste, referente às perdas salariais e 200 reais incorporados, a fim de diminuir a diferença entre os menos e maiores salários da universidade.
Isso tudo muitos sabem. O que permanece obscurecido e relegado a segundo plano são vários dos 57 pontos da pauta específica e, mais do que isso, tudo o que foi conquistado pelo movimento de trabalhadores, cuja luta vai para muito além das justíssimas questões salariais; dizem respeito a uma idéia de Universidade.

Dentre vários pontos da pauta, devemos analisar, com destaque, os seguintes pontos: "Suspensão imediata da criminalização do movimento sindical e estudantil; Contra a Autarquização dos Hospitais Universitários; Fim das Fundações.

O que vemos nestas reivindicações, é a expressão da combatividade desse setor da classe trabalhadora, o qual luta por uma universidade distinta do projeto privatista do governo PSDB, hoje encabeçado pelo dito magnífico REItor Rodas, a serviço do aspirante à chefe do Executivo brasileiro, José Serra.

É necessário pontuar que, a intransigência não se expressa em apenas um nível ou em relação à uma categoria na Universidade. Vimos, nesse fatídico ano, a implementação da UNIVESP, projeto de universidade precária, formadora de professores reprodutores da ideologia da classe dominante, poupadora de custos, a qual representa e facilita a tentativa de desmobilização do movimento estudantil, e sua aliança com os trabalhadores, além de respaldar um argumento demagógico de "democratização" do acesso. Além disso, vimos também ocorrer o fim do gatilho de contratação de professores, o qual possibilitava que, assim que algum professor se aposentasse ou falecesse, fosse contratado outro logo em seguida. Uma conquista de 2002, devido a uma Greve na FFLCH, a qual, agora, desmorona e deixa a cargo da burocracia avaliar se é "viável" a contratação de novos docentes. Da mesma forma vemos as fundações privadas profundamente inseridas na produção de pesquisa e conhecimento das Unidades de Ensino da Universidade.

Tudo isso somado à política de terceirização, principal ataque da ofensiva neoliberal em nossos tempos, que estabelece postos de trabalho precarizados, com trabalhadores recebendo salários miseráveis, tendo de cumprir, a fim de sobrevirerem com migalhas de horas extras, cargas de horário ultra-exaustivas, com condições de organização e direitos absurdamente restringidos, a qual, -dizíamos- representa o projeto de Universidade do REItor, do Governo, de Serra e dos patrões. Uma universidade de costas para a classe trabalhadora e o povo pobre, a serviço dos interesses dos patrões, fundações e instituições privadas das mais diversas nomenclaturas.

Temos de ter clareza acerca de uma questão: Essa universidade só não é pior devido a todas as lutas travadas, historicamente, pelos combativos trabalhadores em aliança com setores do movimento estudantil. Essa aliança permitiu que instrumentos como o Gatilho de contratação de professores, os salários dos trabalhadores, as condições estruturais de certas Unidades, enfim, que a universidade se mantivesse como é Hoje. Há muito a melhorar, no entanto, não fossem tais batalhas, a USP seria o terreno livre da precarização do emprego, da educação, a zona livre das fundações, a fonte de geração de pesquisa e conhecimento geradores de lucro para as grandes empresas, o rio no qual os patrões vão buscar seus peixinhos para nadar no mar de ilusões capitalistas... Setores reacionários constantemente respondem que os funcionários da Usp recebem salários muito acima da média pelo país e são privilegiados no que tange aos direitos. Ora, isso só reitera a situação absurda na qual estão imersos milhões de trabalhadores e o povo pobre de fora da USP. A solução é e sempre foi lutar.

Contudo, mesmo frente a esse quadro anteriormente definido, muitas correntes do movimento estudantil buscaram, inicialmente, apoiarem-se em discursos abstratos, estudantilistas, de apoio ao movimento de greve. Discurso, este, que não se materializou em apoio concreto. Víamos o DCE(gerido majoritariamente pela corrente MES do PSOL) nos carros de som, nas pouquissímas assembléias de trabalhadores, nas quais foram, expressar seu apoio aos trabalhadores, à sua luta, as suas demandas. Contudo, ao mesmo tempo víamos esta mesma gestão de DCE boicotar resoluções de assembléias estudantis, as quais visavam o apoio direto aos funcionários. Incorporação aos piquetes, constituição de fundo de greve, construção de assembléias nas unidades para discutir a greve junto à base dos estudantes, abaixo assinado de apoio a greve dos trabalhadores...Nada ocorreu. O PSOL impediu e boicotou, inclusive no X Congresso dos estudantes, qualquer medida que aportasse efetivamente na luta dos trabalhadores. Chegando ao absurdo de comprometer-se em não se atrelar ao Sintusp ou grupos "radicais" de esquerda, num debate na FEA, enquanto DCE, e implementar a proposta de "autodeterminação dos povos oprimidos do mundo", no congresso enquanto os trabalhadores da USP sofriam corte de salários pelos dias parados em greve.
Da mesma forma se deu a ação vacilante do PSTU, o qual, muitas vezes, nem compareceu aos piquetes, atos e debates e, quando compareceu, declamou discursos sobre a luta operária, o socialismo, a vitória, sem que isso se materializassse em apoio Real. Sua política de se deixar levar pela maré de passividade da massa estudantil e esperar um esboço de reação para , aí sim, disputar as consciências estudantis, custou 57 dias de isolamento dos trabalhadores, vários atos chamados pela Plenos Pulmões, realizados isoladamente, etc...

O conflito na Universidade se definiu pela ação exemplar da categoria de trabalhadores da USP, os quais, naquele momento, se colocaram na linha de frente da defesa da educação e do trabalho, isso tudo, mesmo divididos e enfraquecidos pela isonomia, pela traição das direções do Movimento estudantil, pela inação de várias correntes, pela passividade da massa estudantil, pela mídia burguesa falsificadora e caluniadora, pelas ameaças e assédios das chefias.

Os trabalhadores foram aqueles que, na fórmula da aliança operário-estudantil, cumpriram sua parte lutando firmemente e dando exemplos para diversas categorias as quais, num período anterior, traídas ou negligenciadas pelas direções, sofreram cortes de salário e não os viram até hoje, vide exemplos como APOESP, INCRA, IBAMA. Ainda assim, os trabalhadores conseguiram o pagamento dos dias parados, devido à greve, a constituição de uma comissão que analisará a sua nova proposta de reajuste (que é uma referencia,ou seja, 5%) e garantiram que nenhum trabalhador será punido por ter exercido seu direito de greve. Isso Demonstra que é possível lutar e que os patrões não podem "conceder" o direito de greve às custas da sobrevivência do grevista.

Temos de avançar na discussão acerca da estrutura de poder e de acesso da Universidade, discutir a necessidade da unidade operária-estudantil e assumir nosso papel nessa fórmula forjada a ferro e fogo por muita luta.
Hoje a estrutura de poder é a principal questão a ser questionada pois, num sistema de organização de poder feudal como esse, no qual o REItor e seus professores vassalos, os quais não ganham benefícios em forma de terra e sim em forma de contratos para suas empresas de terceirização, decidem os rumos da Universidade, a única coisa que podemos esperar é a mercantilização da educação, precarização do trabalho, repressão aos lutadores e resistentes, a constituição da "Fábrica de especialistas" para os patrões, UNIVESP, falta de professores...

A luta apenas começou. Hoje os trabalhadores, e os estudantes combativos que os apoiaram efetivamente, voltam de cabeça erguida do campo de batalha, sabendo que travaram uma árdua e exemplar luta, a qual, apesar de não ter sido tão positiva quanto esperávamos, deixou claro que os trabalhadores e estudantes combativos não deixaram, nem deixarão, passar as intervenções estatais privatistas na Universidade. Nós, do Movimento a Plenos Pulmões, lutaremos até o fim, lado a lado com os trabalhadores, pela Universidade pública, gratuita, de qualidade, a serviço do povo pobre e da classe trabalhadora e que não se paute pelas demandas mesquinhas da burguesia e das fundações a seu serviço na Universidade e estaremos a todo o tempo discutindo, realizando atos e reuniões que demonstrem a premente necessidade da aliança operária-estudantil.

VIVA A LUTA DOS TRABALHADORES!
ABAIXO A REPRESSÃO AOS LUTADORES!
POR UMA UNIVERSIDADE A SERVIÇO DOS TRABALHADORES E DO POVO POBRE!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Amanhã: dia decisivo para a greve dos trabalhadores da USP. Lutemos ao seu lado!

PM frente a ato das estaduais durante negociação com o Cruesp em maio

Na semana passada Rodas adiou a reunião de negociação e ontem militarizou o campus colocando onze viaturas com PMs portando armas de fogo, como uma submetralhadora, no CCE. A preocupação tão grande de manter este órgão funcionando é que lá está em andamento um projeto central da gestão de Rodas, estratégico para a campanha presidencial de Serra: o desenvolvimento da Univesp.

Além do caráter estratégico que a Univesp representa para o PSDB, que através de sua implementação procura instituir no estado um novo paradigma de educação superior precária para a parcela mais pobre de universitários e principalmente para a formação dos professores da rede pública do ensino básico, seu desenvolvimento representa grande lucro para as fundações, órgãos privados dentro da universidade através do qual os parasitas acadêmicos do Conselho Universitário podem abocanhar uma considerável parcela das verbas da USP. Abaixo, reproduzimos trecho do boletim do Sintusp de hoje que explica sinteticamente isto:

Polícia no CCE, para quem?!

Hoje o CCE/CTI é o coração político da Universidade. Rodas tenta ignorar a crise da universidade e corre para colocar a Univesp em funcionamento, que já está atrasada para o vestibular da Fuvest este ano. Para implementar o Projeto, está previsto o gasto de 40 milhões de reais, que o governo do Estado, através da Secretaria do Ensino Superior, repassou para a USP, sendo que cerca de 80% deste dinheiro deverá ir para a Fundação USP, para contratar pessoas para atuar na Univesp, sem concurso público. A taxa administrativa da Fundação será de cerca de 5%, ou seja, quase 2 milhões de reais deste dinheiro. Em ano eleitoral isto significa um bom dinheiro, dinheiro este que daria para Rodas manter a isonomia e valorizar a carreira dos funcionários da USP.

É por causa destas e demais “negociatas” que Rodas não se importa com a Greve na universidade, banaliza a resistência e a força do movimento dos trabalhadores, diz que está disposto a negociar e não apresenta nada de concreto, coloca a polícia no CCE e aposta no confronto.

Polícia para quem??? Só se for para Rodas!


Serra em inauguração de cursos da Univesp em 2009

A Univesp tem grande importância para a campanha eleitoral de Serra, que recentemente vem sendo fortemente abalada pelo crescimento de Dilma nas pesquisas. Em primeiro lugar porque pode servir como um contraponto ao projeto do governo federal de Universidade Aberta do Brasil (UAB), que foi uma das medidas demagógicas do governo Lula para mascarar que seus oito anos no poder mantém o ensino universitário brasileiro como um dos mais elitistas da América Latina, em contraste a países muito mais pobres, como o México, em que os estudantes tem acesso ao ensino superior sem ter que se submeter ao filtro social do vestibular. Em segundo lugar, Serra procura aparecer com a formação precária de professores através da Univesp para tentar disfarçar a política nefasta para o ensino básico público que o PSDB aplica há 16 anos no estado de São Paulo, deixando as escolas em frangalhos, e que veio à tona na recente greve dos professores que organizou atos com mais de 60.000 professores nas ruas.


Ato da greve de 2009 das estaduais paulistas que lutava contra a Univesp

Enquanto Dilma e Serra tentam fazer o possível para enganar a juventude e os trabalhadores com seus discursos cheios de demagogia e seus projetos de governo voltados para os ricos, os trabalhadores da USP permanecem em luta há quase dois meses, exercendo o direito de greve que vem sendo atacado igualmente por Lula e Serra. Amanhã será um dia fundamental desta greve, em que haverá uma nova rodada de negociações com a reitoria da USP. O Comando de Greve dos trabalhadores está convocando todos, inclusive as caravanas que vem do interior, para se reunir em frente à reitoria pela manhã, a fim de que a categoria delibere como vai prosseguir sua luta, diante do cenário que está colocado, com intransigência por parte da reitoria frente às pautas, ameaças de novos cortes de salário e o CCE ocupado pela PM.

CHAMAMOS TODOS A COMPARECER ÀS 8h EM FRENTE À REITORIA PARA APOIARMOS OS TRABALHADORES DA USP NESTE MOMENTO DECISIVO DE SUA GREVE!

TODO APOIO À LUTA DOS TRABALHADORES DA USP!

de última hora: em entrevista à CBN, Rodas sobe o tom e ameaça reprimir a greve com a polícia militar! Cerquemos de solidariedade os trabalhadores da USP!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Contra o corte dos salários, trabalhadores da USP resistem!

Creche fechada contra o corte dos salários e o assédio moral

Desde a semana passada Rodas tenta novas manobras contra a greve dos trabalhadores, após ser desmentido publicamente pelo Comando de Greve dos trabalhadores da USP. Este veio a público mostrar que o fechamento de negociações foi feito pela reitoria, e inclusive propor negociações em local público, para que todos possam ver quem de fato está mentindo e que a intransigência e a violência de fato estão do lado da reitoria, que por cima da própria lei impõe hoje a fome às famílias de mais de mil trabalhadores da USP, tentando acabar com a greve pela força. Na semana passada, após ser forçada a voltar à mesa de negociações pela mobilização dos trabalhadores, a reitoria não propôs absolutamente nada de novo e nem sequer pagou os dias de salário roubado. No dia seguinte desmarcou a nova reunião de negociação, remarcando-a apenas para o dia 30/6!

É seguindo esta política de Rodas que agem seus capachos mais fiéis: Massola, coordenador do campus do butantã, e Waldyr Antonio Jorge, coordenador da Coseas. Massola, como noticiamos em nosso blog, havia prometido diante de uma comissão de trabalhadores, acuado pela força de uma manifestação à sua porta, que não faria novo corte de salários. Depois voltou atrás, justificando-se com a alegação de que o reitor "não deixou". Isto mostra que Massola é apenas um capacho sem poder de decisão a mando de Rodas, cujo interesse é a todo custo tentar impor uma derrota aos trabalhadores da USP para servir aos interesses do governo, que há muito já tenta se livrar da pedra no sapato que tem sido esta categoria para a implementação de seus planos na USP e nas universidades estaduais paulistas como um todo.

Na creche central, subordinada à direção da Coseas, desde o começo da greve vem se manifestando um assédio moral que afronta o direito de greve das trabalhadoras. Após se votar a greve, a chefia impôs uma absurda "greve alternativa", em que a creche funcionaria três dias por semana e paralisaria dois. Contra a intransigência da reitoria em adiar a negociação semana após semana e não avançar em nada, contra o corte dos salário e contra o assédio moral da chefia que impede o exercício do direito de greve, as trabalhadoras da creche decidiram fechar o prédio.

A mídia saiu em disparada colocando a greve da creche como uma "violência" às crianças, filhos de trabalhadores e professores da USP, que são atendidas por estas trabalhadoras (publicando inclusive mentiras). Mas esta mesma mídia não levanta sua voz para falar das mais de mil famílias que estão submetidas à fome pelo desconto ilegal dos salários. Contra esta medida absurda, que vem sendo referendada pelo próprio presidente Lula em seus discursos reacionários contra o direito de greve, os trabalhadores da USP já mostraram que estão dispostos a resistir. Na semana passada anunciaram que se novamente Rodas se mostrar intransigente e não atender às reivindicações na negociação de quarta-feira, o Centro de Computação e Eletrônica (CCE) seria piquetado também. Assim, Rodas militarizou a USP mais uma vez, enchendo o CCE de policiais militares!

CCE militarizado com dez viaturas da PM pela manhã de hoje

Estamos hoje no piquete da creche central e estaremos ao lado dos trabalhadores da USP em todas as suas medidas contra o corte dos salários e por negociações reais! Chamamos todos os estudantes a se incorporar a esta luta fundamental!

Pelo pagamento imediato dos salários cortados!

Reabertura imediata das negociações!

Fora PM do campus!

Veja a cobertura da mídia ao piquete da creche: O Globo, IG, G1, R7, vídeo da TV Estadão, Terra, CBN